A organização criminosa que abatia e comercializava carne de origem clandestina para supermercados, açougues e restaurantes no Espírito Santo adquiria animais velhos e doentes até de outros Estados.
"O modus operandi deles era reunir para abate gado furtado, animais doentes e machucados, alguns vindos do interior do Estado e até de Minas Gerais e da Bahia. Em seguida, carne e embutidos eram distribuídos para supermercados, açougues e pessoas físicas que, às vezes, compravam também para revender", explicou o delegado Gianno Trindade, em entrevista coletiva, nesta sexta-feira (25).
O esquema foi desarticulado em operação da Polícia Civil nesta sexta. Batizada de "Abigeatus", a operação cumpriu 16 mandados de busca e apreensão com o apoio da equipe de investigação do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado (Idaf). Ao todo, duas toneladas de carne irregular foram apreendidas, além de 15 toneladas de ração de trigo, R$ 25 mil em espécie, R$ 44 mil em cheques e sete armas de fogo.
Ao todo, oito pessoas foram presas. Entre elas, estão pai e filho, donos do supermercado Gigante, em Cariacica. Eles são apontados pela polícia como os chefes do esquema. A dupla é suspeita de vender a carne clandestina no estabelecimento, além de roubar e recepcionar carne roubada por outras pessoas.
Segundo a Polícia Civil, foi identificada a venda clandestina nos municípios de Cariacica, Viana e Santa Leopoldina. Porém, materiais apreendidos na operação podem indicar uma abrangência maior das atividades do grupo criminoso. Livros de registro e telefones celulares dos suspeitos podem indicar se restaurantes, açougues e supermercados de outras cidades da Grande Vitória também adquiriram o material irregular.
Entre duas toneladas de carnes encontradas na operação, parte estava sendo comercializada como bovina mas era, na verdade, carne de cavalo. Além disso, elas estavam armazenadas em condições impróprias.
"Estavam matando cavalo e produzindo a carne, a linguiça, embutidos. Eles furtavam cavalo doente na pista, boi doente, animal que foi sacrificado por algum acidente e transformam em carne para vender para a população", comentou o delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda.
Segundo a polícia, em uma evento de cavalgada realizado em Cariacica, a carne clandestina de cavalo foi servida aos convidados.
Segundo o médico-veterinário do Idaf, Agostinho Sergio Scofano, os abates clandestino são destino comum para animais que estão doentes ou velhos demais para serem vendidos regularmente. Isso porque os locais de abate regulares precisam descartar completamente aquele animal se for detectado que ele tem alguma doença e o proprietário não recebe nada.
Já nos locais clandestinos, é comum que apenas a parte afetada do animal seja descartada e o restante, reaproveitado. O problema é que, nessas situações, é grande o risco de que o consumidor final acabe contraindo alguma doença.
"Se o animal estiver infectado, mesmo que seja retirada a parte lesionada, a bactéria ainda fica no músculo e pode provocar doenças graves como neurocisticercose. A falta de higiene no local pode causar salmonela, toxoplasmose ou até infecção gastrointestinal que, para pessoas saudáveis pode não ser grave, mas pode provocar a morte de quem é mais frágil", afirma.
Segundo a Polícia Civil, os suspeitos responderão por crimes contra a saúde pública, contra as relações de consumo (por vender carne de cavalo afirmando que é carne bovina), contra a ordem tributária (a compra e venda clandestina não tem nota fiscal) e por associação criminosa.
Também foram encontrados durante o cumprimento dos mandados de busca 15 toneladas de trigo para alimentação de animais. Estes grãos eram importados dos Estados Unidos e comercializados em apenas um estabelecimento no Espírito Santo.
Contudo, o caminhoneiro que fazia o transporte do material auxiliava o grupo criminoso a desviar o trigo. Ele também foi preso na operação.
Em um sítio em Vila Cajueiro, Cariacica, que pertence aos donos dos supermercado Gigante, havia uma carcaça de ônibus antigos cheia de sacas do trigo importado. O furto acontecia no desembarque da carga em um porto.
Além de mais de 100 policiais civis, a operação contou ainda com o apoio da Subsecretaria de Inteligência da Sesp, do Núcleo de Operações em Transporte Aéreo (Notaer) da Secretaria da Casa Militar.
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