Diferente do arroz e de outros alimentos básicos que têm passado por menos pressão inflacionária neste momento, a carne bovina parece estar longe de ver o preço diminuir. Mas o problema é que além de mais caro, o produto passou a ser mais escasso nos supermercados e açougues.
O consumidor, que está disposto a pagar por esse alimento mesmo com a valorização, em alguns momentos nem chega achar opções nos mercados. Os estabelecimentos têm comprado esses tipos de cortes em menor quantidade por dificuldade de achar e também por conta da valorização.
As alternativas mais encontradas pelos açougues e supermercados no mercado são músculos, maminha, costela e similares e acabam que esses alimentos têm maior variedade nas prateleiras.
O filé mignon, por exemplo, virou raridade. Ele, que era vendido a, no máximo, R$ 61,60 há três meses, hoje já beira os R$ 80. Além do valor salgado, nem sempre ele tem muitas peças disponíveis. A picanha também está mais 'sumida' dos refrigeradores. O quilo, que no começo do ano passado, custava em média R$ 70, já beira, atualmente, os R$ 90.
O acém, que já custa até R$ 36,98, valia, em fevereiro, no máximo, R$ 29,90. Os preços foram pesquisados nesta quinta-feira (20) em sites de supermercados da Grande Vitória. (Veja a pesquisa de preços com essas e outras carnes no final da matéria)
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, mostra que na Região da Grande Vitória, no Espírito Santo, as principais carnes acumulam alta de 27,63% nos preços entre abril de 2020 e abril deste ano. Esse aumento é motivado por uma série de fatores, inclusive queda na produção dos frigoríficos. Como resultado, nos supermercados, cortes como picanha, alcatra e filé mignon vêm perdendo espaço para opções mais baratas.
Segundo o superintendente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps) Hélio Schneider, os próprios estabelecimentos têm tido alguma dificuldade para comprar certos produtos. Ainda assim, explica que, quando o consumidor não encontra a opção em um local, certamente vai encontrá-la em outro. Porém isso exige mais tempo do cliente.
“A questão é que os preços, em geral, subiram muito, até mesmo pelo aumento da demanda. E não é só o consumidor que sente isso. Os supermercados adquirem os produtos de acordo com a procura, mas a oferta tem sido menor, e, portanto, acabam encontrando preços mais caros nos frigoríficos, o que pode criar esse tipo de problema pontual.”
Schneider destaca que um dos os fatores atrelados ao desequilíbrio de oferta é a alta de moedas estrangeiras, como o dólar e o euro, frente ao Real, pode pode ter contribuído para que os frigoríficos passassem a preferir vender o produto para fora do país e aumentar a margem de lucro, o que, consequentemente, acaba diminuindo a oferta para o mercado interno.
Além disso, chama a atenção para adversidades climáticas, como a estiagem observada em várias regiões do países nos últimos meses, mas também em anos anteriores, que vem prejudicando os produtores. Como o rebanho diminui, a carne se torna mais cara.
O problema já havia sido exposto por A Gazeta em abril. Segundo o Sindicato da Indústria do Frio do Espírito Santo (Sindifrio-ES), a atividade dos frigoríficos e abatedouros do Estado caiu pela metade desde o final do ano passado por conta da escassez de boi para abate.
A falta de gado provocou um choque no setor. O preço do boi subiu 54,6% desde março do ano passado, e está sendo cotado a R$ 286 a arroba atualmente, contra R$ 185 há um ano na média nacional.
O motivo principal para essa falta, segundo o presidente do Sindifrio-ES, Evaldo Mário Lievore, foi a dura estiagem que aconteceu entre 2016 e 2018, que danificou pastagens, matou rebanhos e obrigou muitos pecuaristas a praticamente começar do zero.
“Na época, quem pode vender o gado, vendeu. Muitas fêmeas foram abatidas. Agora que eles estão recuperando o rebanho, mas tem que aguardar a criação do bezerro e a engorda. Também houve saída de boi do Espírito Santo para outros Estados, como Minas Gerais e Bahia, por exemplo."
As previsões são de que a situação leve ainda mais alguns meses para se estabilizar. Enquanto isso, conforme destacou Schneider, a alternativa é se ajustar à situação. ". Não há muita forma de fugir da alta dos preços: é uma situação que afeta consumidor e supermercado."
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