> >
'Cemitério de gás': ES dá largada à proposta para enterrar poluentes

'Cemitério de gás': ES dá largada à proposta para enterrar poluentes

Armazenagem está prevista para ser feita em reservatórios de petróleo de campos em terra que ficam no Norte do Estado

Publicado em 21 de agosto de 2024 às 18:39

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Governo federal planeja mapear áreas subterrâneas que poderão servir de locais de armazenamento de dióxido de carbono (CO2), o principal gás de efeito estufa emitido por atividades humanas
Governo federal planeja mapear áreas subterrâneas que poderão servir para armazenamento de dióxido de carbono (CO2). (Arte: Geraldo Neto)

Um dos caminhos para redução das emissões de gases do efeito estufa passa por debaixo da terra. Nos próximos anos, o Espírito Santo vai ganhar uma espécie de "cemitério", onde serão armazenados gases poluentes emitidos por atividades humanas.

A armazenagem de dióxido de carbono (CO2), conhecido como gás carbônico, está prevista para ser feita em reservatórios de petróleo e gás natural de campos em terra que ficam no Norte do Estado. Essas áreas são geologicamente consideradas ideais para o processo.

Os projetos que preveem captura, armazenagem e até utilização do CO2, chamados de CCUS, estão sendo desenvolvidos por empresas que atuam no Espírito Santo no setor de petróleo e gás natural. A expectativa é que as medidas contribuam para a redução de aproximadamente 20% das emissões no Estado.

29 MILHÕES
DE TONELADAS DE CO2 SÃO EMITIDAS NO ESPÍRITO SANTO

A assinatura do memorando de entendimento foi feita no último dia 7 de agosto e envolve o Grupo Energisa, ES Gás (distribuidora de gás natural do Espírito Santo), EnP Energy, Imetame Energia, Grupo Ubuntu e Seacrest Petróleo. No dia anterior, a Petrobras também anunciou planos no mesmo sentido.

Segundo Raphael Pereira, diretor-técnico comercial da ES Gás, o Espírito Santo possui potencial para armazenamento de CO2 nos reservatórios depletados ao Norte do Estado, em campos hoje pertencentes aos produtores onshore participantes do projeto.

'Cemitério de gás': ES dá largada à proposta para enterrar poluentes

As empresas produtoras de gás natural onshore EnP Energy, Imetame Energia, Grupo Ubuntu e Seacrest Petróleo serão responsáveis por avaliar as possibilidades do armazenamento do CO2 em seus campos de extração, assim como mapear os campos e suas características.

Já a ES Gás e o Grupo Energisa viabilizaram a rede de transporte desse CO2 capturado até os campos de armazenamento.

Aspas de citação

O Espírito Santo tem uma oportunidade única de dar um grande e rápido salto rumo ao chamado ‘net zero’, armazenando gás carbônico em reservatórios terrestres de petróleo e gás no Norte do Estado

Márcio Felix
CEO da EnP Energy
Aspas de citação

Outra possibilidade que será estudada por essas empresas é a reinjeção de CO2 para recuperação avançada de petróleo em seus campos de exploração.

“Nosso compromisso é com o futuro energético do Brasil. Já existem no mundo estudos de viabilidade do CCUS e nós entendemos que essa oportunidade deve ser explorada de forma colaborativa, com toda a cadeia do gás natural. Através desta parceria, buscamos não apenas desenvolver o mercado de gás brasileiro, mas também fomentar o crescimento econômico, a transição energética e a geração de empregos no Espírito Santo. É um movimento verdadeiramente capixaba, por isso estamos chamando de C3US, que é a sigla para Capixaba Carbon Capture, Utilization and Storage”, comenta Fábio Bertollo, presidente da ES Gás.

Como são escolhidas as áreas?

Os locais que podem ser usados como cemitério de CO2 possuem algumas características para conseguir armazenar o carbono, conforme explica o diretor da ES Gás. As áreas são estruturas geológicas normalmente encontradas em reservatórios depletados que no passado armazenavam óleo e gás. As dimensões destas estruturas e, consequentemente, sua capacidade de armazenamento serão determinantes para o estudo de viabilidade técnica e financeira desse projeto.

Aspas de citação

A ideia na primeira fase do projeto C3US consiste no armazenamento do CO2 em reservatórios subterrâneos, o que já traz um impacto relevante para a redução das emissões do Estado. Porém, em uma segunda fase, será possível avaliar possibilidades de utilização deste CO2, como, por exemplo, para a produção de gás natural sintético, que consiste no processamento deste CO2 em conjunto com o hidrogênio para a produção de metano

Raphael Pereira
Diretor-técnico da ES Gás
Aspas de citação

No Espírito Santo, as emissões de CO2 de todo o Estado são de 29 milhões de toneladas do gás, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).

A redução na emissão de 5,6 milhões de toneladas de CO2 até 2034 nos setores de transporte e indústria esperada pelo programa ES Mais+Gás corresponde a 20% das emissões do Estado.

Petrobras também tem projeto de armazenamento

Recentemente, também foi assinado um protocolo de intenções entre a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), a Petrobras e o governo do Espírito Santo para serem realizados estudos de projetos de CCUS. A intenção é usar a estrutura da Unidade de Tratamento de Gás de Anchieta (UTG Sul) para receber gases de diversas indústrias emissoras de gases poluentes, via dutos. Depois, também por dutos, o produto deve ser levado para um reservatório no Parque das Baleias, litoral Sul capixaba.  

Como será na prática a injeção do CO2?

O processo de injeção de CO2 em reservatórios petrolíferos é uma prática cada vez mais comum em outros países, sobretudo na indústria de óleo e gás como mecanismo de recuperação e aumento de performance de poços.

Neste projeto, a injeção se dará da mesma forma. Esse CO2 poderá vir de indústrias localizadas no Espírito Santo em que seja viável realizar a sua captura e que tenham a descarbonização como parte importante de sua estratégia, principalmente aquelas indústrias que possuam maior dificuldade em abater as emissões (hard to abate), de setores como cimento, aço, vidro, produtos químicos e o dos transportes pesados

A ES Gás é a empresa especialista do Estado na construção de dutos e detém a concessão de distribuição de gás no Espírito Santo. A ideia do projeto é utilizar este know how para viabilizar de maneira mais eficiente a movimentação deste CO2, da fonte ao armazenamento.

Vantagens de armazenar carbono

Para a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, a transição para uma economia de baixo carbono é uma janela de oportunidades para o setor energético, especialmente o de óleo e gás.

"O domínio de técnicas e conhecimentos adquiridos, por décadas, além da formação de uma mão-de-obra altamente especializada e inovadora, são essenciais para a viabilização dos eixos de captura, transporte, armazenamento e uso do CO2 em excesso na atmosfera e daquele que é inerente às atividades de segmentos cuja descarbonização é técnica ou financeiramente ainda inviável", diz estudo sobre o tema.

Estudo sobre o CCUS feito pela EPE aponta que, entre as vantagens do armazenamento, está a capacidade de suportar a retirada (em grande quantidade) de carbono da atmosfera por milhares de anos. E aponta que o CO2 capturado pode ser usado como insumo das indústrias de ureia e metanol.

Além disso, a EPE destaca os empregos que podem ser criados nas atividades de pesquisa a instalação das CCUS como vantagens do processos.

"Para diferentes cenários de transição energética no Brasil, as estimativas de investimentos anuais em projetos de CCS são da ordem de R$ 2 bilhões a R$ 4,5 bilhões até 2050. No país, apenas o mercado de créditos de carbono pode gerar de US$ 14 bilhões a US$ 20 bilhões por ano", destaca o estudo. 

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais