Os primeiros dados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada mostraram que a população do Espírito Santo cresceu 9,1%, um pouco abaixo do estimado no período.
Mas alguns pontos do Estado tiveram aumento no número de moradores três vezes maior do que a média de crescimento do Espírito Santo. É o caso de cidades do Litoral Sul, com economia vinculada ao petróleo e também mineração.
Presidente Kennedy lidera a lista de aumento de habitantes de 2010 a 2022, com 29,9% de alta. No mesmo ritmo da cidade mais ao Sul no litoral também está Itapemirim, com 29,5% de crescimento de habitantes.
Anchieta registrou 25,4% de moradores a mais no período avaliado pelo IBGE, saindo de 23.902 para 29.984. A cidade vizinha Piúma foi a sexta com maior crescimento percentual, com 23,1% a mais de moradores (de 18.110 para 22.300).
Presidente Kennedy, cidade mais rica do Espírito Santo, viu sua população crescer de 10.547 para 13.696 habitantes de um levantamento para outro. Por receber royalties do petróleo, a cidade afirma ter mais de R$ 1 bilhão em caixa, proporcionando capacidade de investimento.
Nos últimos anos, a prefeitura iniciou alguns programas que podem ter ajudado no aumento da população. Apesar da alta renda com royalties, a economia da região é basicamente da pecuária e agricultura.
Entre os benefícios que moradores de Presidente Kennedy têm está um transporte público gratuito, chamado de TransKennedy, e bolsas em faculdades para graduação, pós-graduação e mestrado.
No último edital publicado pela prefeitura, no início deste ano, há oportunidades para estudar em instituições de Vitória, Cachoeiro de Itapemirim, Guarapari, Castelo e algumas cidades do Rio de Janeiro com Campos, Itaperuna e Bom Jesus do Itabapoana. Mas para conseguir a bolsa é preciso comprovar residência por no mínimo 10 anos no município, entre outros requisitos.
Existe ainda um Fundo de Desenvolvimento, o Fundesul, com linhas de crédito para quem deseja ampliar ou abrir novos negócio no município.
Para Pablo Lira, presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), as atividades econômicas das cadeias de petróleo e gás e mineração — e investimentos anunciados para o Porto Central — são destacadas como fatores que impulsionaram a atratividade de migrantes para os municípios do Litoral Sul.
“Isso atrai a população para esses municípios. As pessoas começam a comprar lotes para poder vender com a valorização da terra. E, com esses empreendimentos acontecendo, os migrantes, movidos pela oportunidade de emprego e renda, começam a trabalhar nesses municípios”, pontua.
O Litoral Sul também foi destaque perante a maior cidade da região, Cachoeiro de Itapemirim, que perdeu mais de 3.500 moradores do período. Lira compara também o volume de investimentos previstos nas cidades vizinhas. Enquanto Cachoeiro tem estimativa de R$ 600 milhões até 2026, Presidente Kennedy tem perspectiva de receber negócios na casa dos R$ 8,8 bilhões no mesmo período.
“Essa dinâmica econômica para os próximos anos e na última década acaba sendo muito mais atrativa para os municípios do litoral do que para o município de Cachoeiro”, frisa.
Para ele, Anchieta, que cresceu 25,4%, poderia ter tido aumento populacional ainda maior se não fosse o rompimento da barragem de Mariana, da Samarco, em 2015 que tem usina em Ubu.
“Vale lembrar que os dados estão sendo analisados entre 2010 e 2022. Até 2014, a Samarco estava ampliando investimento e teve a entrega da quarta usina naquele ano. A Samarco ficou parada de 2015 a 2021. Se estivesse operando no período, o crescimento seria ainda maior em Anchieta”, estima.
A economista-chefe da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) e gerente executiva do Observatório da Indústria da Findes, Marília Silva, também fala sobre as perspectivas de Presidente Kennedy manter o crescimento com os mais de R$ 8 bilhões previstos para os próximos anos na cidade, em projetos de petróleo e gás.
"Com os novos investimentos, o que se espera é que a atividade econômica da região continue crescendo e gerando novos empregos, o que também deve provocar um novo aumento populacional", afirma.
Marília também destaca a importância dos recursos recebidos por royalties para o desenvolvimento das cidades. Ela explica que o aquecimento da economia em escala municipal, oriunda dos investimentos do setor de petróleo e gás, resulta no aumento da circulação de pessoas e mercadorias, além da circulação da renda das pessoas dentro do município.
"Nesse sentido, gera também impactos positivos sobre o comércio local e melhora o ambiente de negócios, que se torna cada vez mais propício à atração de investimentos, reforçando esse ciclo de desenvolvimento nos mais diversos setores relacionados ao bem-estar da população", detalha.
Já a economista e professora da Fucape Arilda Teixeira pondera que, apesar de Presidente Kennedy ter crescido em população e também ter como característica o alto valor recebido de royalties do petróleo na última década, o desenvolvimento e o crescimento da cidade ainda estão aquém, bem como o grau de instrução dos moradores.
"Para uma região se desenvolver, ela tem que construir, tem que ter uma meta e usar sua posição para aumentar ou melhorar a estrutura produtiva. Os lugares têm que construir novas estradas para quem vai morar lá e também investir no desenvolvimento intelectual, que passa pela melhoria da qualidade de ensino", defende.
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