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Cesta básica em Vitória supera meio salário mínimo pela 1ª vez em 10 anos

Cesta básica em Vitória supera meio salário mínimo pela 1ª vez em 10 anos

O valor do salário mínimo quase dobrou no período, mas ainda assim não foi suficiente para acompanhar a inflação do alimentos, o que, na prática, reduz o poder de compra das famílias

Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 20:09- Atualizado há 4 anos

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Itens da cesta básica no supermercado
Itens da cesta básica no supermercado subiram de preço, feijão está entre os alimentos que mais aumentaram em 2020. (Fernando Madeira)

Ir ao supermercado se transformou em um drama para muitas famílias. Com os preços dos alimentos 18,5% mais caros que no início de 2020, manter a dispensa com o mínimo necessário tem consumido a maior parte da renda dos trabalhadores. Segundo o Dieese, o custo da cesta básica em Vitória já representa 57% do salário mínimo. Em 10 anos, é a primeira vez que com um salário não dá comprar duas cestas básicas.

Os danos mostram que a alimentação ficou mais cara nos últimos anos e a renda familiar não acompanhou. Com isso, cai o poder de compra das famílias, que acabam sem ter como gastar com outros itens, mesmo os essenciais, como medicamentos ou moradia. Na última década, o salário mínimo subiu 91,7%, e, no mesmo período, a cesta básica na Capital aumentou 117,9% (o Dieese só pesquisa capitais).

Cesta básica em Vitória supera meio salário mínimo pela primeira vez em 10 anos

Em 2011, o piso salarial estabelecido pelo governo federal era de R$ 510. Já a cesta básica custava R$ 275, ou seja, cerca de 50% do valor. Essa proporção foi caindo nos anos seguintes até atingir 41% em 2017. Desde então, a tendência tem sido de uma participação cada vez maior dos alimentos no orçamento dos trabalhadores. Todos os dados são referentes a dezembro.

Por lei, a correção do salário base precisa, no mínimo, repor as perdas com a inflação, baseada no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo IBGE. Com isso, a remuneração mínima de 2020 foi fixada em R$ 1.045 (em 2021 ele passou a ser de R$ 1.100).

O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES) Ricardo Paixão comenta que o governo federal tem uma política de elevação do salário mínimo, mas ela não acompanha o ritmo do aumento da cesta básica. De acordo com ele, o governo aponta várias justificativas, como os impactos desse reajuste na despesa do governo e nos gastos previdenciários, por exemplo.

"Além disso, o governo está vivendo um déficit fiscal muito alto, gastando mais do que vem arrecadando. Isso acaba sendo uma justificativa para não reajustar o salário de forma que o trabalhador tenha um ganho real, com aumento acima a inflação", enfatiza.

O economista lembra ainda que, nas famílias com menor renda, o principal componente das despesas é a alimentação. "Como os alimentos têm subido muito, isso tem grande impacto às famílias. Muitas pessoas ou deixam de comprar, ou substituem produtos. Com o aumento dos gastos, elas ficam numa situação complicada. Viver só do salário mínimo não é fácil", aponta.

MÍNIMO TERIA QUE SER DE R$ 5,3 MIL PARA ATENDER NECESSIDADES DAS FAMÍLIAS, DIZ DIEESE

Ainda de acordo com o Dieese, no ano passado, o trabalhador precisaria ter um salário mínimo equivalente a R$ 5.304,90 para conseguir atender a uma família de dois adultos e duas crianças.

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Nos últimos anos, governo federal não deu aumento real no salário mínimo. Isso deteriora ainda mais o poder de compra das pessoas

Herivelto dos Santos Almeida
economista
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Itens da cesta básica no supermercado
Itens da cesta básica no supermercado. (Fernando Madeira)

ALIMENTAÇÃO MAIS CARA A CADA ANO

Qualquer aumento na alimentação impacta diretamente no orçamento das famílias. A cesta básica na capital capixaba, de acordo com os dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), passou de R$ 242, em 2011, para R$ 600,28, em 2020.

Para se ter ideia, apenas no ano passado, a variação do preço da cesta básica entre janeiro e dezembro foi de 21,95%. Em janeiro esse conjunto de itens custava R$ 492,20, aumentando R$ 108,08 no intervalo de 12 meses, valor esse que não se traduziu em aumento no salário do trabalhador. 

R$ 600,28
VALOR DA CESTA BÁSICA EM VITÓRIA EM 2020

A lista da cesta básica do Dieese é composta pelos itens mais consumidos pelos brasileiros: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo de soja e manteiga. Ela é calculada para atender a uma família de dois adultos e duas crianças.

Em dezembro de 2020, em relação ao mês anterior, doze dos treze itens que compõe a lista de compras tiveram aumento, sendo que cinco deles tiveram índices superiores a 50%, como foi o caso do óleo de soja (105,96%), batata (89,82%), arroz (76,83), banana (59,72%) e feijão (55,40). O único que deflacionou foi o café (-3,75%).

O preço dos produtos aumentou devido a fatores que envolvem o mercado interno e externo. De acordo com os economistas, entre eles estão a alta do dólar, que favoreceu a exportação e fez com que o agronegócio preterisse o mercado interno causando desabastecimento; o endividamento dos produtores, devido à secas e à baixa dos preços em anos anteriores; o aumento do consumo de alimentos, em virtude da liberação de auxílio emergencial; e os impactos da pandemia do novo coronavírus na produção industrial.

EXISTE UMA SAÍDA PARA O TRABALHADOR?

Ao passo em que as despesas aumentam e o salário não é recomposto na mesma proporção, os trabalhadores precisam encontrar formas de driblar essa situação. O economista Ricardo Paixão aponta que colocar no papel todas as despesas é essencial. Ele explica que é preciso saber onde e quanto você está gastando. Com isso é possível definir prioridades e, em alguns casos, cortar custos desnecessários.

"Além disso, no tempo vago, se tiver, ele pode usar uma habilidade que tem - como cozinhar, fazer unha ou artesanato, por exemplo - para ter uma renda extra. Essa é uma forma de sair dessa asfixia financeira. Realmente o salário mínimo é muito pequeno e não dá para atender as condições básicas do trabalhador", aponta.

O especialista lembra ainda que o governo também tem um papel importante junto ao trabalhador. Segundo o economista, é necessário que o poder público se organize para desenvolver mecanismos para que o salário mínimo se aproxime desse valor ideal proposto pelo Dieese (R$ 5,4 mil).  

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O governo deveria criar e implementar uma proposta de melhoria salarial para os trabalhadores. Isso seria possível criando um projeto com tempo e prazos para chegar a essa meta salarial. Claro que isso tudo atrelado ao cumprimento da meta de receita. Aos trabalhadores cabe, por meio das associações e sindicatos que os representam, pressionar o poder público para que isso ocorra

Ricardo Paixão
economista
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O economista Herivelto dos Santos Almeida complementa que é preciso a adoção de medidas combinadas. "Retomada do investimento público para sinalizar aos investidores que o ambiente de negócios está menos arriscado e, ao mesmo tempo, retomar a agenda de reformas estruturais, principalmente a Tributária, é fundamental."

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