A queda do preço do barril de petróleo provocada pela baixa da demanda global por energia durante a pandemia do novo coronavírus pode trazer impactos para o Espírito Santo para além dos cortes da produção e do adiamento de investimentos da Petrobras. Esse novo choque do petróleo também deve comprometer, e com mais força, a situação de pequenas operadoras.
No último mês, o valor do barril de petróleo Brent (referência no mercado internacional e também brasileiro) chegou a ser cotado abaixo dos US$ 16. Nos últimos dias, até houve pequenas oscilações positivas, com o barril Brent fechando em US$ 34,65 nesta terça-feira (19). Mas o preço ainda é considerado demasiadamente baixo, levando em conta que há um ano ele girava em torno de US$ 75.
De acordo com Durval Vieira Freitas, coordenador do Fórum Capixaba de Petróleo e Gás da Findes, pequenas empresas que operam em campos terrestres (onshore) têm um custo de produção entre US$ 15 e US$ 20 por barril, a depender da estrutura de cada uma. Com isso, se o preço voltar a cair ou mesmo seguir nos patamares atuais por muito tempo, essas petroleiras de pequeno porte podem passar por sérias dificuldades financeiras.
"Além do custo mais alto em terra, essas empresas produzem, mas só há um comprador, que é a Petrobras, que adquire para as refinarias. Mas elas já estão com o estoque no limite [tanques cheios de óleo devido à baixa demanda]. Então ficam sem alternativa numa hora dessas", explica.
Essa pressão no caixa pode provocar cortes na produção, em postos de trabalho e até o fechamento de algumas empresas. Investimentos também devem ser adiados, o que pode ter efeitos sérios em um maior prazo já que elas operam campos mais antigos (maduros), onde são necessárias injeções de capital para recuperar a produção.
Só para se ter uma ideia, o custo de produção da Petrobras no pré-sal é inferior a US$ 10 por barril, segundo Durval. É que mesmo sendo aquele um investimento muito mais caro, o retorno em produção é muito maior. Já nos campos terrestres, por mais que os investimentos sejam menores, a produção também é bem pequena.
O Espírito Santo conta hoje com seis pequenas empresas que produzem petróleo em campos terrestres no Norte do Estado. Há outras que fazem investimentos em exploração ou que estão interessadas em comprar campos maduros deixados pela Petrobras.
Em todo país, são 27 petroleiras que operam no onshore brasileiro, segundo a ANP. Juntas, elas produzem cerca de 100 mil barris diários de óleo equivalente, sendo a maior parte realização da Petrobras e 10% por pequenas empresas privadas.
Por mais que a produção seja pequena perto da extração no mar, a operação onshore é relevante para a economia local tanto na geração de empregos como na movimentação da cadeia de empresas fornecedoras, diante das oportunidades de negócios, destaca Durval.
A Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo (Abpip), que reúne operadores de 80 campos no país, alertou para o risco de quebradeira no setor. Duas pequenas petroleiras que operam na Bahia já pediram para suspender a produção.
A associação pede ao governo a suspensão temporária do pagamento de royalties à União. Ao Valor Econômico, o presidente da Abpip, Anabal Santos Jr., declarou que os pequenos produtores estão trabalhando no limite da economicidade.
Na avaliação de Durval, que acompanha de perto esses negócios, o cenário para as petroleiras que atuam no Estado, por mais preocupante que seja, ainda não representa um "momento de desespero". "As empresas necessitam ter uma boa gestão para saber conviver com esses altos e baixos do petróleo. É um período delicado, mas quem tem caixa não vai sofrer tanto", destaca.
No entanto, ele alerta: "Será muito ruim para o Espírito Santo se esse cenário do petróleo piorar diante do fato que temos muitas empresas pequenas de exploração e produção aqui que geram muitos empregos. Isso é um temor", pontua.
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