A chuva que cai no Espírito Santo há uma semana deixa um rastro de destruição. Rodovias interditadas, viagens canceladas, além de desabrigados, desalojados e uma morte. Os impactos vêm sendo sentidos não só pela população, mas por empresários do comércio, indústria e do agronegócio, um dos setores mais prejudicados.
Ainda não há desabastecimento generalizado nos supermercados, mas algumas hortaliças já começam a faltar nas prateleiras de algumas redes. As mercadorias estão demorando a chegar nos estabelecimentos por conta das interdições nas estradas, sobretudo as BRs 101 e 262, além de vias vicinais que atendem as propriedades rurais.
A preocupação maior é com produtos perecíveis, como frutas, hortaliças e verduras, que podem estragar com os atrasos, deixando no prejuízo os produtores. A chuva também pode acabar provocando a perda da produção no campo, sobretudo de hortaliças, que são mais sensíveis.
Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha, há muita apreensão entre os produtores, que estão acumulando prejuízos. Ele alerta inclusive para uma possível falta de alimentos para os consumidores.
“Existem muitas cooperativas e indústrias que passam por estradas de chão que ficaram comprometidas. O solo está encharcado e há riscos de desmoronamento. Ainda houve o rompimento em Linhares, que foi grande, e eles não conseguem reparar com velocidade. Há prejuízos com as mercadorias que não estão conseguindo passar pelas estradas”, disse.
De acordo com Júlio, uma cooperativa de laticínios de Cachoeiro de Itapemirim não está conseguindo dar vazão ao leite normalmente por conta das chuvas. “O leite é apanhado em dias alternados, mas em virtude das chuvas, o tanque ficou resfriado. Se apanhar em outra oportunidade, perde a qualidade”, afirmou.
O presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Gêneros Alimentícios do Estado do Espírito Santo, Waldês Calvi, afirmou que as chuvas afetaram o movimento em supermercados e atacados, que tiveram queda de 5% a 10% nas vendas.
A preocupação é que, segundo Waldês, caso a chuva e as interdições persistam por mais uma semana, podemos a ter desabastecimento nos estabelecimentos.
“O desabastecimento em si ainda não temos, porque temos estoque. Está dificultando a chegada de novos produtos, mas os caminhões estão passando por outras áreas que não estão interditadas. Caso continue assim por mais tempo, começa a prejudicar”, destacou Waldês.
Segundo o superintendente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), Hélio Schneider, a maior preocupação no momento é a linha de hortifrúti.
“Com as estradas estaduais prejudicadas, principalmente da região serrana, Domingos Martins, Santa Teresa e Santa Maria de Jetibá, os produtores estão com dificuldades de trazer produtos para os supermercados atenderem os consumidores. Não é só esse prejuízo, também há o risco de perda desses produtos e, como consequência da falta, os preços ficarem mais altos. Isso nos preocupa bastante”, disse Hélio Schneider.
De acordo com o superintendente, o problema também afeta as cargas que vêm de outras regiões, principalmente do Centro-Oeste do Brasil. Além de atrasos nos produtos, prejudica a logística.
“Há prejuízos. Ainda não sentimos, pois todos os supermercados têm um estoque de segurança. Mas tem produtos, como perecíveis, onde há problemas com o transporte. O transporte bloqueado causa problemas. Esperamos que melhore o mais rápido possível”.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Espírito Santo (Transcares), Luiz Alberto Teixeira, disse que todo o fluxo de cargas que normalmente passa por Acracruz e Linhares, por conta da interdição na BR 101, está sendo feito pela estrada Colatina-Linhares.
Por conta disso, o percurso aumentou em aproximadamente três horas, o que pode causar demora nas entregas de mercadorias.
“A malha está rodando, com mais demora. Em percursos curtos, há prejuízos de demora na chegada das mercadorias, mas em percursos longos, o prejuízo é menor porque o tempo dilui no grande trecho”, explicou.
Ainda de acordo com Luiz, a estrada Colatina-Linhares é precária e não está acostumada a receber grande volume de fluxo de veículos de cargas. Sobre os alagamentos em Viana, que deixou as BRs 262 e 101 interditadas, ele informou que isso atrasou as entregas.
Produtores de Santa Maria de Jetibá ficaram ilhados, segundo Egnaldo Andreatta, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município.
Eles não conseguem levar a produção para o Ceasa de Cariacica e nem levar produtos para as feiras por causa dos bloqueios nas estradas. Além disso, os produtores que estavam em Vitória e outros municípios também não conseguem retornar.
"É difícil mensurar prejuízos. A gente não estava conseguindo ir e voltar para Vitória e tem bastante produtor que precisa dessa rota para fazer suas vendas", contou Egnaldo.
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