Gabriela Fardin
Há quem diga que Colatina só tem duas estações: o verão e a estação de trem. Por causa das temperaturas sempre muito elevadas, geralmente acima dos 30 graus, o município do Noroeste do Espírito Santo já ganhou a fama de ser um dos mais quentes do Estado, e é apelidado carinhosamente de Calortina. O alto-relevo e o imponente Rio Doce compõem a geografia que é favorável ao calor.
Mas nem só de suor vivem os colatinenses. Pelo menos não para os que moram na localidade de São Pedro Frio, a 40 quilômetros da sede do município. E o nome do lugar não é por acaso. A temperatura por lá é 5 graus inferior à da cidade e, durante o inverno, fica abaixo dos 10 graus na madrugada.
A região é coberta pela mata Atlântica preservada, e possui muitas corredeiras e quedas dágua. Já as árvores conhecidas como quaresmeiras e as suntuosas paineiras-rosas (também chamadas de árvores barrigudas) dão mais cor ao caminho que leva até a parte mais alta de São Pedro Frio, onde está a famosa serra da Cangalha, a 670 metros de altitude. Outra atração é o mirante, a 620 metros, de onde é possível avistar uma paisagem belíssima. Do alto, as formações rochosas também se destacam. A mais famosa é a Pedra da Baleia, que recebeu o nome por ter o formato semelhante ao do animal marinho.
Esses pontos estão em propriedades particulares e recebem cada vez mais visitantes, que vão em busca da tranquilidade e do contato com a natureza, além da possibilidade de registrar as melhores fotos. Por isso, muitos moradores decidiram explorar o potencial turístico de São Pedro Frio. O produtor Laudelino Louret Soares mora às margens da estrada principal e já observou o aumento do número de visitantes.
Os fins de semana são muito movimentados. São carros de passeio, pessoas de bicicleta, grupos de jipeiros e de motociclistas. Todo mundo vem conhecer e explorar a região, constata. Há muitos anos, o produtor aproveita a localização estratégica para vender produtos, industrializados e caseiros, para os visitantes, mas, com a movimentação crescente, ele pretende ampliar o negócio. Até o fim deste ano, quero construir um bar, com estrutura para receber as pessoas, servir um café e, futuramente, até refeições. A ideia é construir esse espaço próximo à cachoeira que existe na minha propriedade, completa.
Atualmente, 500 famílias moram em São Pedro Frio e vivem, basicamente, da agricultura familiar. A atividade econômica principal é o café. Quase todas as lavouras são de conilon, mas ainda existem algumas áreas plantadas com arábica, variedade mais recorrente nas áreas de montanha. No entanto, o clima ameno permite o cultivo de outras variedades como a lichia, presente em dez propriedades.
O produtor Braz Bolsoni apostou na uva. Começou com 150 pés em 2011 e, hoje, já cultiva duas mil plantas. As 600 que estão em produção renderam 4 toneladas na colheita deste ano. Parte da uva é fornecida ao município, por meio de programas de aquisição de alimentos, parte é vendida para parceiros e na propriedade.
Os visitantes colhem a uva direto no pé, pagam e levam para casa. É uma opção a mais de renda para não ficarmos dependendo apenas do café, conta Braz. Atualmente, ele cultiva as variedades Niágara e Izabel, que são melhores para o consumo in natura. Mas o produtor tem planos de investir em outras variedades, porque também quer fabricar o suco e o vinho para diversificar a produção. Braz decidiu ainda plantar a exótica pitaia. Ele tem 200 pés das variedades branca e vermelha, que devem começar a produzir no ano que vem.
Por meio da Associação dos Produtores Rurais, 200 agricultores de São Pedro Frio também participam de programas do governo para aquisição de alimentos, e fornecem os produtos para instituições filantrópicas de Colatina. A entidade possui uma agroindústria, em que 32 mulheres colocam as mãos na massa - literalmente - e ajudam na renda das famílias. Elas fazem pães, bolos e biscoitos de todo tipo e a produção chega a uma tonelada por mês.
Além da agricultura, os produtores de São Pedro Frio também estão apostando no turismo para melhorar a renda. Embora sem um circuito turístico definido formalmente, a associação e alguns moradores abrem as portas para receber os visitantes, atraídos pelas belezas naturais da região, e comercializam os produtos cultivados na roça, além das receitas caseiras.
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