Já imaginou pagar caro para fazer um tratamento dentário e não ter o serviço realizado por completo? Esse é o caso de alguns capixabas que contrataram os serviços da franquia OdontoCompany, clínica odontológica que tinha unidade na Avenida Jerônimo Monteiro, no Centro de Vitória, mas fechou repentinamente. A empresa está acumulando denúncias nos Procons. Falta de prestação de serviços e materiais inadequados para o atendimento de qualidade são as principais reclamações dos pacientes.
Os relatos são de pessoas que contrataram o serviço da clínica, deram início aos cuidados bucais, chegaram a extrair dentes, mas não puderam terminar o tratamento, mesmo com todo o pagamento em dia. Além disso, os clientes alegam não conseguir nenhum tipo de contato com a empresa, nem para dar continuidade aos cuidados dentários nem para ter seu dinheiro de volta. Procurada a companhia disse que os atendimentos foram transferidos para outra unidade (leia nota completa ao final).
A jornalista Marli Moras procurou essa unidade da OdontoCompany em janeiro porque precisava fazer um implante devido a uma infecção. No momento em que estava fazendo o orçamento do tratamento, foi convencida pelos funcionários a obter um cartão de crédito da clínica para ter desconto no valor, pagando um total de R$ 6.018,32 parceladamente.
Os cuidados odontológicos começaram, e a paciente extraiu o dente infeccionado e colocou um enxerto. Ela foi orientada a esperar seis meses para que o procedimento cicatrizasse e o implante pudesse ser colocado. Durante o tratamento, Marli notou uma troca excessiva de dentistas e teve dificuldades para obter a sua via do contrato, que só foi fornecida depois de muita insistência. Na semana passada, quando estava a caminho de casa, se deparou com as portas da clínica fechadas. Desde então, tentou entrar em contato com a OdontoCompany diversas vezes, mas não teve nenhum tipo de retorno.
A jornalista procurou outro profissional após o fechamento da unidade, para fazer uma nova avaliação do seu caso, que identificou complicações no procedimento feito na clínica, além da necessidade de fazer uma cirurgia no local do enxerto, que não ganhou a massa óssea necessária para o implante.
A aposentada Carmem Milagres relata o que aconteceu com sua irmã mais velha, Maria Amélia Milagres, também aposentada, de 71 anos e com esquizofrenia. Há um ano e meio, a família procurou a mesma clínica para Maria fazer um implante para substituir uma antiga prótese que quebrou.
Ao iniciar os cuidados na OdontoCompany e fazer uma radiografia panorâmica, o dentista informou que o caso era mais complicado, constatando que os implantes que a idosa já tinha nos dentes inferiores estavam infeccionados e que ela precisaria remover aqueles dentes e colocar novos. O tratamento se iniciou e os dentes inferiores foram extraídos, mas o procedimento nunca foi concluído.
Além disso, a família da paciente comunicou aos profissionais e outros funcionários sobre o transtorno de Maria, solicitando um atendimento especializado à aposentada, o que também não foi cumprido. Também houve a troca frequente de dentistas que estavam realizando o acompanhamento — em quatro consultas realizadas, a idosa passou por três profissionais diferentes. Além disso, a paciente perdeu consultas pela falta de profissionais na clínica. Em um episódio, a paciente aguardou cerca de 3h para um atendimento que não chegou a acontecer, porque, depois de tanta espera, os familiares levaram a idosa para casa.
A aposentada permanece sem os implantes e só come alimentos líquidos e pastosos, porque não consegue fazer a mastigação. Além disso, Carmem conta que sua irmã se recusa a dar continuidade aos cuidados odontológicos porque ficou traumatizada com o ocorrido. O acordo com a clínica era pagar um valor de entrada de R$ 10 mil — que foi pago à vista — e mais R$ 5 mil quando o serviço fosse concluído. Apesar da insistência, a família não teve acesso ao contrato feito na clínica nem à nota fiscal.
Outro fato que chama a atenção sobre a unidade da OdontoCompany é que tanto o registro que a clínica precisa ter para prestar serviços odontológicos (EPAO) quanto a licença profissional do técnico responsável (CRO) constam como desativados no portal do Conselho Federal de Odontologia.
O Procon de Vitória recebeu 22 denúncias contra a franquia este ano e 19 foram feitas contra essa mesma unidade. Já o Procon Estadual recebeu este ano 47 reclamações, sendo 18 a respeito da unidade do Centro, além das 143 denúncias recebidas em 2023. O Procon-ES está atendendo os consumidores para registrar as reclamações e intermediar uma negociação com a clínica. Nos casos que não são solucionados o órgão, a orientação é procurar o Juizado Especial para que as medidas legais sejam tomadas.
Os principais relatos são de pessoas que tiveram o tratamento interrompido mesmo com as parcelas em dia ou até mesmo depois de terem concluído o pagamento do serviço, falta de materiais adequados para oferecer um atendimento de qualidade e adiamento de consultas e exames sem justificativa. Entretanto a empresa ainda não recebeu nenhum tipo de multa ou penalidade.
A Odontocompany informou, em nota, que a empresa foi fechada por decisões internas no dia 24 de junho de 2024 e que a unidade comunicou os clientes sobre o fechamento com uma semana de antecedência. A franqueadora declarou, ainda, que os pacientes foram transferidos para unidade de Cariacica, em Campo Grande, "e que os atendimentos no novo endereço, seguindo o padrão da marca e sem prejuízos ou necessidade de pagamentos extras, já começaram". Disse, ainda, que a nova clínica está com toda documentação necessária dos pacientes transferidos.
“Para solucionar o caso de quem ainda não conseguiu prosseguir com o tratamento, a unidade sugere agendamento pelo número (27) 99800-6310”, completa a franqueadora.
Sobre o registro e a licença que constam como desativadas, a empresa manifestou que, “sobre o assunto em questão, a unidade do Centro de Vitória, até o momento, não tem nada a declarar". Já a franqueadora esclarece que, "neste momento, não pode fornecer informações, mas afirma que medidas em relação ao contrato serão tomadas e o assunto será investigado”. A Odontocompany completa dizendo “cada unidade possui seu próprio profissional técnico designado e a marca não interfere, pois tal situação é estritamente ética e está em conformidade com as diretrizes impostas pelo Conselho Regional de Odontologia (CRO)”.
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