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Com coronavírus, PIB brasileiro recua 1,5% no primeiro trimestre

Com coronavírus, PIB brasileiro recua 1,5% no primeiro trimestre

Este é o pior resultado desde o segundo trimestre de 2015. Os setores da indústria e de serviços apresentaram quedas de 1,4% e 1,6%, respectivamente

Publicado em 29 de maio de 2020 às 09:36

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Pandemia de coronavírus: saúde e economia de mãos dadas
Pandemia de coronavírus: saúde e economia de mãos dadas. (Adobe Stock)

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro recuou 1,5% no primeiro trimestre de 2020 na comparação com o quarto trimestre do ano passado. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou o dado na manhã desta sexta-feira (29), a queda já é resultado da pandemia do novo coronavírus e do distanciamento social

Os setores de Indústria e Serviços apresentaram quedas de 1,4% e 1,6%, respectivamente. A Agropecuária, no entanto, cresceu 0,6%.

Nos Serviços, houve resultados negativos em outros serviços (-4,6%), transporte, armazenagem e correio (-2,4%), informação e comunicação (-1,9%), comércio (-0,8%), administração, saúde e educação pública (-0,5%), intermediação financeira e seguros (-0,1%). A única variação positiva veio das atividades imobiliárias (0,4%).

Esta é a primeira vez desde 2016 que o setor de serviços registra retração, segundo o IBGE. O setor tem peso extremamente relevante, pois responde a cerca de 70% do valor adicionado ao PIB. Também compõem esse segmento as atividades imobiliárias, comércio, o setor público, e serviços como educação e saúde privados, cultura e esporte.

“Aconteceu no Brasil o mesmo que ocorreu em outros países afetados pela pandemia, que foi o recuo nos serviços direcionados às famílias devido ao fechamento dos estabelecimentos. Bens duráveis, veículos, vestuário, salões de beleza, academia, alojamento, alimentação sofreram bastante com o isolamento social”, explica a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis

Entre as atividades industriais, a queda foi puxada pelas indústrias extrativas (-3,2%), mas também apresentaram taxas negativas a construção (-2,4%), as indústrias de transformação (-1,4%) e a atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-0,1%).

Rebeca ainda acrescenta: “A construção civil está puxando sempre para baixo a parte da infraestrutura. O mercado imobiliário até que tem se recuperado, mas com o distanciamento social, em março, ficou um pouco prejudicado. Tanto que teve queda na ocupação no trimestre e também na fabricação dos principais insumos para a construção”, comenta.

CONSUMO DAS FAMÍLIAS E GASTOS DO GOVERNO

Base da recuperação econômica após a crise de 2014, o consumo das famílias (-2,0%) registrou queda devido aos efeitos da pandemia. "Foi o maior recuo desde a crise de energia elétrica em 2001”, diz Rebeca. O indicador é o principal componente do PIB sob a ótica da demanda, respondendo por quase 70% do cálculo do indicador, e vinha sustentando a lenta retomada da economia nos últimos anos, enquanto investimentos e mercado externo oscilavam. 

Os efeitos da pandemia também influenciaram a queda de 2% no consumo das famílias. “Foi o maior recuo desde a crise de energia elétrica em 2001”, diz Rebeca, acrescentando que o consumo das famílias pesa 65% do PIB. Já o consumo do governo ficou praticamente estável (0,2%) no primeiro trimestre deste ano, mesmo patamar do último trimestre de 2019.

No que se refere ao setor externo, as exportações de bens e serviços tiveram contração de 0,9%, enquanto as importações de bens e serviços cresceram 2,8% em relação ao quarto trimestre de 2019.

“As exportações foram bastante prejudicadas pela demanda internacional. Um dos países muito importantes para a gente que tem afetado nossas exportações é a Argentina. E a China também, que no primeiro trimestre foi o primeiro país a fechar as fronteiras, então as nossas exportações foram bastante afetadas”, encerra Rebeca.

Em valores correntes, o PIB no primeiro trimestre de 2020 totalizou R$ 1,803 trilhão, sendo R$ 1,538 trilhão. No primeiro trimestre de 2020, a taxa de investimento foi de 15,8% do PIB, acima da observada no mesmo período de 2019 (15,0%).

INVESTIMENTOS

A taxa de investimento no primeiro trimestre de 2020 foi de 15,8% do PIB, acima do observado no mesmo período do ano anterior (15,0%). A taxa de poupança foi de 14,1% no primeiro trimestre de 2020 (ante 12,2% no mesmo período de 2019).

A necessidade de financiamento alcançou R$ 58,3 bilhões ante R$ 57,5 bilhões no mesmo período do ano anterior. O aumento é explicado, principalmente, pela redução de R$ 8,0 bilhões no saldo externo de bens e serviços e pela queda de R$ 6,6 bilhões em renda líquida de propriedade enviada ao resto do mundo.

QUEDA AO FIM DE 2020 PODE CHEGAR A 5,89%

De acordo com o Boletim Focus, divulgado toda segunda-feira pelo Banco Central, o PIB brasileiro pode fechar 2020 com queda de 5,89%. Na semana passada, a previsão do Boletim Focus era de retração de 5,12%. Há 15 semanas seguidas que o boletim reajusta o PIB para baixo e existe a possibilidade de que na próxima segunda-feira (1) seja feito um novo ajuste. O tombo na economia nacional, assim como a queda do PIB trimestral, é justificado pelos impactos do coronavírus.

O comportamento da economia brasileira se assemelha ao observado em outros países da América, onde o vírus se disseminou em um momento posterior ao observado na Ásia e Europa. Há fatores, no entanto, que apontam que o Brasil terá um dos piores desempenhos econômicos na comparação com outros países.

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Um dos fatores é a grande recessão pela qual o país passou entre 2014 e 2016, seguido por um baixo crescimento, entre 2017 e 2019. Até por conta disso, o país deverá ter um resultado pior do que 82% dos países acompanhados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo aponta o economista da FGV, Marcel Balassiano.

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