Com a aceleração da inflação para 0,86%, no mês de outubro, a poupança, que é um dos meios mais populares de investimento, ficou, mais uma vez, sem ganho real no mês. A última vez que isso aconteceu foi em 2015. De outro lado, temos hoje a menor taxa básica de juros da história, com a Selic a 2% ao ano, o que também afeta o rendimento da aplicação queridinha dos brasileiros.
Na prática, tudo isso significa que o investidor que costuma deixar dinheiro na poupança com o objetivo de fazer o dinheiro render, no final das contas, quando se considera a inflação, está ficando no prejuízo, como explica o planejador financeiro Renan Lima:
A poupança rende 70% da taxa Selic. A questão é que, em 2016, essa taxa era de 14%, e o dinheiro estava sendo reajustado acima da inflação. Agora, como a Selic está muito baixa, em 2%, perdeu-se o poder de compra. Ou seja, a poupança rendendo 1,40% e a inflação quase 4%, ilustra.
A pergunta que fica é: afinal, onde colocar o dinheiro da poupança sendo que os investimentos de risco mais elevado, como as ações em bolsa, também não andam com boa rentabilidade em 2020 por causa da crise provocada pela pandemia do coronavírus? Em que investir para não perder dinheiro?
Lima responde com o que não fazer: "Investir em apenas um tipo de aplicação". Ou seja, agora é hora de diversificar a carteira de investimentos com várias opções, considerando o objetivo que se tem para aquele dinheiro. Ele recomenda ainda que, para conseguir uma rentabilidade maior, é necessário abdicar da liquidez.
A consultora de empresas e professora de contabilidade e finanças Neyla Cardin explica que a baixa rentabilidade da poupança se deve justamente a sua melhor liquidez. Existe uma associação positiva entre risco e retorno: se você coloca o seu capital em um negócio mais arriscado, você exige mais retorno dele. Como a poupança é livre de riscos, seu rendimento é o pior que se pode ter. A única vantagem dessa opção é a liquidez, ou seja, a facilidade de resgate do valor aplicado.
Para o consultor financeiro Caio Souza, a poupança definitivamente não vale mais a pena. Ele cita outros ativos de segurança que podem ser utilizados como alternativas, como LCIs, LCAs, CDBs e títulos pré-fixados. No entanto, alerta que nenhuma decisão deve ser tomada fora do perfil do investidor e sem um auxílio.
A mudança da poupança precisa acontecer, mas o cliente deve buscar um especialista, seja o gerente do seu banco ou um consultor financeiro. Ele vai ajudar a traçar o perfil de investimento, se é do tipo conservador, moderado ou agressivo, além do horizonte do cliente, o prazo que se espera ter retorno, destaca.
Para quem usa a poupança como uma opção apenas para guardar dinheiro com segurança, os especialistas indicam o Tesouro Selic como o melhor substituto. Além de renderem um pouco mais, os títulos do Tesouro são mais seguros, pois, na teoria, você está emprestando dinheiro para a instituição financeira com menor risco de calote: o governo. É possível começar investindo no Tesouro a partir de R$ 30.
Já para quem tem planos para o dinheiro de longo prazo, ou seja, não vai retirá-lo rapidamente, há outras opções que tendem a render mais, embora sejam de maior risco, como títulos de renda fixa mais longos, até do próprio Tesouro, com vencimento em 2031 por exemplo, que já possui rentabilidade maior.
Neste contexto, a melhor saída para se ter uma boa rentabilidade é aceitar riscos e buscar portfólios que tenham um retorno maior, como fundos imobiliários, carteiras de investimento em mercados e ativos diferentes na bolsa de valores, sempre consultando um especialista", diz Neyla Cardin.
Caio Souza não aconselha sair da poupança e ir direto para investir em renda variável, como a bolsa de valores, e alerta que é preciso ter cautela, já que o cenário do mercado ainda é instabilidade.
Existem, sim, muitas oportunidades na bolsa de valores, muita empresa boa para comprar, mas, pelo atual cenário, é preciso ter consciência da volatilidade a curto prazo que se pode sofrer, principalmente enquanto não houver vacina da Covid-19, ressalta o especialista.
* Karolyne Bertordo é aluna do 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob supervisão dos editores Mikaella Campos e Geraldo Campos Jr.
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