Se nas praias a sensação é de que a pandemia de Covid-19 nunca existiu, o setor hoteleiro do Espírito Santo já vive uma crise histórica e registra a menor ocupação dos últimos 10 anos. Depois de um ano com péssimo desempenho no setor por causa da pandemia, um levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Espírito Santo (ABIH-ES), a pedido de A Gazeta, mostra que as reservas em hotéis do Estado caíram 32% na comparação como verão anterior, entre 20 de dezembro e 10 de janeiro.
No feriado de Réveillon, período de maior procura, a ABIH aponta que a queda na ocupação foi de 26,7%, passando de 86% (2020) para 63% (2021).
A primeira semana no ano seguiu mesma a tendência. Se anteriormente o movimento do Ano Novo se prolongava até o primeiro final de semana de janeiro, neste, ele caiu para 60% até dia 10 de janeiro.
Segundo o presidente da ABIH-ES, Gustavo Guimarães, em Guarapari, um dos balneários mais procurados pelos turistas no Estado, a ocupação ficou em torno de 50% nos dias de semana. Já no final de semana, o resultado foi um pouco melhor: 85% dos quartos estavam reservados.
“O município está muito cheio, mas isso não se reflete nas reservas. Muitas pessoas estão em imóveis de locação ou casas de segunda residência. A ocupação reflete a insegurança que o turista tem. Outro comportamento diferente é que as pessoas estão deixando para cima da hora para decidir pela reserva. Em uma época normal, quinta-feira não teria mais vaga”, informou Guimarães.
Apesar da ocupação acima da média estadual durante o final de semana, o desempenho do turismo em Guarapari é considerado o pior da história pelo presidente da Associação de Hotéis e Turismo de Guarapari (AHTG), Marco Azevedo. A estação, segundo ele, compõe 70% do faturamento anual dos estabelecimentos e muitos empreendimentos podem fechar as portas quando o verão acabar.
“Nós não estamos trabalhando pelo lucro, estamos trabalhando pela sobrevivência. Nos meus 30 anos trabalhando com turismo em Guarapari nunca vi uma situação assim. Já podemos considerar 2021 um ano perdido. Por causa do impacto da pandemia ao longo do ano de 2020, hotéis e restaurantes já não abriram as portas para este janeiro e, depois que o verão terminar, outros também fecharão”, avaliou Azevedo.
A chegada de um novo momento de alta nos casos e mortes por Covid-19 a partir de novembro, desanimou ainda mais os empresários. “Era esperado que haveria uma queda, mas a gente não imaginou que os casos de contaminação voltariam a aumentar e que isso afetaria tanto a nossa ocupação”, disse Gustavo.
De abril a dezembro de 2020, a estimativa é que o setor tenha sofrido uma queda de 62% na ocupação, em comparação ao mesmo período de 2019. Em Vitória, por exemplo, a taxa de ocupação hoteleira chegou ao nível mais baixo em abril, com apenas 15,6% dos quartos alugados - segundo dados do Observatório do Turismo do Espírito Santo.
O setor vislumbrou, de acordo com o presidente da ABIH, uma breve recuperação entre os meses de setembro e dezembro com a reabertura de comércios e serviços.
“Quando começou a flexibilizar, em setembro, a gente teve muita circulação de capixabas no estado. Isso foi uma característica bem diferente dos anos anteriores. Em setembro foi o primeiro mês com uma ocupação um pouco melhor e os feriados seguintes (Nossa Senhora Aparecida e Finados) vários hotéis alugaram tudo que estava sendo disponibilizado”, informou Gustavo.
Com o aumento de casos de Covid-19, contudo, a procura pelo serviço de hospedagens voltou a cair. “O turista de hotel, diferente do que aluga casa, é formado por famílias e eles prezam pelos protocolos de segurança”, destacou Azevedo.
Gustavo afirma ainda que observou o crescimento de hospedagens na região Serrana do Estado durante o verão. Tradicionalmente movimentados no inverno, na pandemia eles passaram a ser procurados também nos meses mais quentes pelas áreas ao ar livre que oferecem aos hóspedes.
A baixa ocupação também reflete no valor cobrado pelos estabelecimentos. Segundo o presidente da ABIH, os hotéis têm trabalhado com um percentual de desconto maior e diárias mais baratas.
“A maioria dos hotéis trabalha normalmente com percentual de desconto que varia conforme a demanda. Na alta temporada, quando há aumento da procura, cobramos a tarifa cheia. Agora, estamos trabalhando com tarifas promocionais, que estão um pouco mais altas que as da baixa temporada, mas não é o mesmo valor cobrado nos verões passados. A grande maioria dos donos de hotel não fizeram reajustes e estão trabalhando com o mesmo valor de tarifa que trabalhavam há dois verões”, explicou Gustavo.
Em Guarapari, por exemplo, Azevedo diz que as diárias estão cerca de 35% mais baixas que no ano anterior. “Se não baixar a tarifa, você não reserva. Os hóspedes sabem que esse é um momento de crise e pedem esse desconto”, complementa.
Para ajudar o setor e garantir que os estabelecimentos sigam os protocolos de segurança, o Ministério do Turismo lançou o selo Turismo Responsável. Até a última sexta-feira (8), 493 estabelecimentos do Espírito Santo, entre eles hospedagens e restaurantes, aderiram à iniciativa segundo dados da Secretaria Estadual de Turismo (Setur).
“O selo foi uma estratégia que propusemos para o Ministério do Turismo. Com ele, foram definidos uma série de protocolos para cada tipo de atividade econômica. A primeira coisa que pensamos foi na proteção da vida do empreendedor e do turista. A adesão dos empreendedores a esse selo pode, mais para frente, contribuir com a promoção do Espírito Santo como destino turístico seguro, porque nossas empresas seguem os cuidados para evitar a propagação da Covid-19”, explicou o secretário estadual de Turismo, Dorval Uliana.
Para pedir o selo, as empresas precisam estar inscritas no Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur). Segundo o secretário, o estabelecimento certificado não é alvo de fiscalizações. “A ideia é a autogestão. Eles seguem as regras para o setor e o selo vale como uma visibilidade de que aquele é um local seguro. Isso é entendido como um atrativo”, informou.
Dos 493 estabelecimentos que receberam o selo no estado, a maior parte deles são meios de hospedagem (111); seguido por agências de turismo (109); guias de turismo (90); restaurantes e cafeterias (44); transportadoras turísticas (43); entre outros.
Os municípios com mais estabelecimentos certificados foram Vitória, com 163; Vila Velha, com 81; Guarapari, 52; Cariacica, 32; Conceição da Barra, 32; e Serra, com 31.
“Isso não é um incentivo ao turismo. No entanto, não há no Espírito Santo nenhuma atividade proibida. A nossa orientação é de que, se optar por viajar, faça isso com segurança e seguindo as recomendações sanitárias, busque informações oficiais, decretos e qual a classificação de risco do município para aonde está indo”, alertou o secretário.
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