A crise econômica provocada pelo novo coronavírus impactou em cheio o setor do comércio do Espírito Santo. Mais de 3,2 mil lojas fecharam as portas definitivamente apenas entre os meses de abril e junho no Estado, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e da Fecomércio do Estado. Por determinação do governo, como medida para conter a disseminação do vírus, o comércio de rua teve que fechar as portas por quase dois meses. O período foi ainda maior para os estabelecimentos que funcionam em shoppings.
O número divulgado pela CNC representa um encolhimento de 6% em relação à quantidade de estabelecimentos comerciais registrados antes da pandemia.
Para o presidente da Fecomércio, José Lino Sepulcri, a queda pode ter sido ainda maior. "A meu ver, a quantidade de estabelecimentos fechados é bem superior. Esse levantamento foi feito em cima de informações oficiais, mas é comum que o micro e pequeno empresário feche seu negócio, mas mantenha o registro ativo na Junta Comercial ou na Fazenda", aponta.
Como o comércio (junto com o serviço) é o setor que mais emprega no Estado, a redução no número de estabelecimentos também se traduziu em demissões. No mesmo período (abril a junho), cerca de 7 mil postos de trabalho no setor foram fechados. O número de pessoas que ficaram sem trabalho, contudo, deve ser ainda maior, já que esses dados só consideram os empregos formais, ou seja, aqueles com carteira assinada.
"A maior parcela de oportunidades de emprego no Espírito Santo está nos setores de comércio e serviços. Hoje temos em torno de 110 mil estabelecimentos. É um grande pilar da economia capixaba", diz José Lino.
Em comparação, o número de lojas fechadas em três meses deste ano é quase igual ao registrado em 2016, auge da crise econômica no Brasil, quando o comércio capixaba fechou 3.005 unidades. Em 2015, a perda anual foi de 3.265 estabelecimentos comerciais.
Em todo o país, foram fechados 135 mil estabelecimentos em 2020. Os segmentos mais atingidos, ainda segundo a CNC, foram as lojas de utilidades domésticas, vestuário e calçados e comércio automotivo.
O presidente da Fecomércio acredita que os dados devem ser mais positivos nos meses de julho e agosto. "Existe uma euforia bastante significativa do empresário capixaba. Tão logo o governo autorizou a abrir o comércio, já melhorou bastante o faturamento. Não vamos pensar com relação ao ano passado, mas se seguirmos nesse ritmo de agora em diante teremos um fim de ano menos melancólico", avalia.
Quando os casos de Covid-19 começaram a ser registrados no Estado, em março deste ano, uma das primeiras medidas para reduzir a circulação de pessoas e a propagação do vírus foi o fechamento do comércio considerado não essencial. O decreto do governador Renato Casagrande que determinou a restrição foi publicado em 20 de março.
Inicialmente, a medida teria validade por 15 dias, mas foi sendo prorrogada em decretos posteriores e o primeiro sinal de flexibilização aconteceu só um mês depois. Em 20 de abril, o comércio de rua da maior parte das cidades do interior do Estado foi autorizado a reabrir em horários escalonados. Isso porque essas cidades haviam sido classificadas como de risco baixo ou médio, segundo a Matriz de Risco do Estado. Não era o caso da Grande Vitória, que concentra a maior parte do comércio e ainda permaneceu com as atividades paralisadas, pois estava em risco alto.
Com o avanço da pandemia, mais municípios foram classificados como de risco alto, o que levou a uma nova onda de fechamentos.
Foi só em 11 de maio, quase dois meses depois do primeiro decreto, que o comércio não essencial da Grande Vitória foi autorizado a reabrir as portas. Como as cidades ainda apresentavam risco alto para contágio do coronavírus, foi determinada uma abertura em dias alternados de acordo com os produtos que cada loja comercializava.
Os representantes do setor comemoraram a primeira flexibilização, mas afirmaram, na ocasião, que as vendas só representavam 30% do esperado para o período.
Em 1º de junho, uma regra similar foi aplicada aos shoppings. À medida que as cidades da Grande Vitória foram sendo classificadas como risco moderado, os horários de funcionamento foram ampliados e o sistema de alternância de dias foi interrompido.
Uma pesquisa encomendada pelo Sindicato das Empresas Atacadistas e Distribuidoras do Espírito Santo (Sincades) mostrou que a crise econômica gerada pela pandemia impactou a capacidade das empresas de investir, mas mais da metade delas não registrou perda no faturamento e não fez demissões.
Segundo o levantamento, realizado entre os meses de junho e julho, quase todo o setor cerca de 90% das empresas respondentes havia feito planos para investir durante o ano de 2020, mas, como grande parte dos outros setores, esses planos tiveram que ser adiados, ao menos temporariamente. Ainda assim, desses 90%, 62% realizaram os investimentos de forma total ou parcial.
Mais da metade (51%) dos pesquisados informaram que tiveram aumento ou se mantiveram estáveis. Entre as empresas que tiveram queda na receita, 63% relataram perdas entre 10% e 30%.
A maioria (55%) também informou que não houve alteração no quadro de colaboradores em decorrência da pandemia. Entre as empresas que tiveram redução no quadro de colaboradores, 54% informaram que a redução foi inferior a 10%.
O setor atacadista é uma atividade necessária para que serviços essenciais, como supermercados e farmácias, continuem a funcionar. Funcionamos como um elo entre a indústria e o varejo, portanto, antes de chegarem às prateleiras, os produtos passam obrigatoriamente por uma empresa do setor, explica o presidente do Sincades, Idalberto Moro.
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