No ambiente de trabalho, a cadeira sempre foi um instrumento para revelar o status profissional. Nos anos de 1990, por exemplo, quanto melhor, maior e mais caro era o objeto, maior era a importância desse profissional dentro da empresa. Nessa época, havia um conceito de divisão hierárquica e as cadeiras do diretor e do gerente eram melhores, enquanto as dos outros funcionários eram inferiores.
Com o passar do anos, a situação começou a mudar com a importância da ergonomia e muitas companhias passaram a adotar cadeiras iguais para todos com a intenção de reduzir os prejuízos à saúde e evitar demandas judiciais.
Com o home office, a cadeira de trabalho se tornou um problema. Isso porque a pandemia levou várias pessoas a migrarem para o trabalho remoto e a cadeira da sala de jantar virou um instrumento de trabalho. Por estar longe de ser ideal, profissionais passaram a reclamar de dores da coluna e Lesão por Esforço Repetitivo (LER) por conta do desconforto.
Alguns trabalhadores até compraram uma cadeira melhor, mas encontrar uma boa e com preço adequado tem sido complicado. Há modelos que custam em torno de R$ 125, podendo chegar a passar de R$ 2.000. Especialistas chegam a dizer que o melhor instrumento de trabalho está na faixa de R$ 10 mil.
Os desafios de trabalhar em home office são inúmeros, pois é necessário saber diferenciar as tarefas de casa com as do trabalho, manter a saúde em dia e ainda evitar eventuais dores de coluna ou outro tipo de lesão.
O ortopedista e professor da UVV, Gabriel Moura, avalia que o modelo ideal de cadeira é aquele com apoio para os braços e com opções de regulagem de altura, para que os braços fiquem alinhados com a mesa de trabalho e também para que os pés não fiquem sem apoio.
É importante também ter um apoio para os pés, principalmente para o caso de pessoas que sejam mais baixas. É importante lembrar que não adianta ter uma cadeira super moderna, se o paciente não senta adequadamente. É preciso sentar-se com as costas toda apoiada no encosto. Com certeza sai mais barato comprar uma cadeira boa e confortável do que bancar um tratamento para dor ou ficar indo ao médico, comenta do ortopedista.
Outro alerta do médico é sobre a altura da tela do computador, que também é um problema muito frequente. Ele lembra que às vezes a cadeira e a mesa estão corretas, mas o posicionamento do equipamento não.
O ideal é que o meio da tela fique na linha dos olhos do profissional. A pessoa não pode ficar olhando para baixo nem muito para cima para conseguir ver a tela, comenta.
Moura também alerta sobre a importância de se fazer intervalos de alguns minutos a cada hora para evitar dores. Levantar para buscar água na geladeira, por exemplo, ajuda a dar uma movimentada nos músculos. Nosso corpo não está preparado para ficar muitas horas sentado. Estudos mostram que a posição sentada, com o tronco pra frente, é a posição que mais você força a coluna, gera muita pressão em cima do do disco intervertebral, destaca.
O advogado Vinicius Bourguignon sabe bem o que é sentir dores nas costas por ficar um longo período sentado. Em tempo de pandemia, ele transferiu o escritório para casa, mas acaba usando a mesa da sala para trabalhar.
Para evitar sentir dor, faço alguns alongamentos pela manhã e ao longo do dia, e até troco de cadeira. Ficar muito tempo sentado gera alguns incômodos, mas prefiro fazer pequenas pausas para evitar entrar em crise e precisar tomar remédios, comenta.
A contadora especialista em gestão orçamentária e controladoria, Emanueli Cristini, sócia da Ebitdah, lembra que a Medida Provisória 936 abriu a possibilidade de se realizar a mudança do regime presencial para teletrabalho.
Ela lembra que a lei diz que o empregador tem que dar as condições mínimas de trabalho como estrutura e equipamentos necessários para que o funcionário possa exercer sua função em home office.
Emanueli explica que a Norma Regulamentadora 17 esclareceu algumas dessas condições mínimas e estabeleceu parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
Sobre a questão da ergonomia, ou seja, conforto dos assentos dos trabalhadores, a NR diz que a altura do assento deve ser ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; ter características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento, borda frontal arredondada e encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar, explica.
O advogado trabalhista e previdenciário, Lino Peterlinkar, ressalta que o trabalho em domicílio está previsto na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) há muitos anos e que algumas empresas e o setor público já utilizavam a ferramenta. Ele conta o caso de uma empresa de Cachoeiro de Itapemirim que em 1943 adotou a prática colocando todas as costureiras trabalhando em casa.
Na época, a companhia colocava a disposição dessas funcionárias as máquinas de costura e todo o material necessário para desempenho das atividades, recorda.
Peterlinkar destaca que, assim como nos anos 1940, a empresa precisa dar condições para o funcionário desempenhar suas tarefas em casa. A regra atual está prevista no artigo 4º da Medida Provisória 927.
Cabe ao empregado dizer o que precisa para trabalhar e o que não está adequado para ele, se é um computador melhor ou de uma cadeira, por exemplo. A medida que as condições de trabalho mudam, como indica a história, novos paradigmas vão surgindo. O trabalho em casa acaba proporcionando uma melhor qualidade de vida para as pessoas, as mas precisamos nos adaptar à nova realidade, comenta..
A empresa precisa fornecer as condições necessárias para desempenho das funções do funcionário em casa, e isso inclui equipamentos. O assunto foi reforçado pela MP 927, que, no artigo 4º, dita: se houver despesas a serem pagas ou ressarcidas pela empresa, as condições deverão ser estabelecidas por escrito, e a empresa poderá fornecer os equipamentos em regime de comodato e pagar por serviços de infraestrutura, que não caracterizam verba de natureza salarial.
O professor de fisioterapia da Estácio Osni Stein Junior dá dicas sobre como escolher a cadeira ideal.
Fonte: Osni Stein Junior, professor de fisioterapia da Estácio
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