O Brasil ainda vive várias incertezas com relação ao coronavírus. Tais incertezas vão desde o número de casos notificados e número de óbitos, à elevação do desemprego e endividamento das empresas. No Espírito Santo, a realidade não deve ser diferente da que tem sido imaginada para o Brasil e outros países do mundo.
O Banco Mundial, por exemplo, projeta uma retração de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para 2020. Se confirmada, essa deve ser a maior retração do País em 120 anos segundo o IBGE, não há registros de uma queda deste tamanho desde 1901. O Fundo Monetário Internacional (FMI) também tem estimativas duras para o país, com uma retração de 5,3% contra o crescimento de 2,2% anteriormente estimado. E apesar do impacto neste ano, o organismo estima m avanço de 2,9% na economia nacional em 2021.
Há especialistas falando em quedas ainda maiores, chegando a 6% e com o PIB per capita reduzindo em 7% conforme projetou o economista e ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Neto. Em entrevista que deu ao UOL, Delfim Neto disse que a crise do coronavírus este ano pode ser equivalente aos dois últimos anos do governo Dilma.
Segundo especialistas, não há setor que não tenha sido atingido pelo coronavírus. Mesmo os que continuam produzindo e comercializando estão passando por alterações nas formas de trabalho para tentar reduzir a propagação do vírus.
Certamente, a economia toda está sofrendo impacto do coronavírus e do isolamento social provocado por ele. Talvez os setores de bebidas e alimentos sejam os que apresentem os menores impactos dada a necessidade da população. Mas os demais estão sofrendo consideravelmente, avalia o diretor-executivo do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo (Ideies), da Federação das Indústrias do Estado (Findes), Marcelo Saintive.
E o impacto não é visto só nas indústrias. Comércio e Serviços também estão sendo diretamente impactados. Ainda é tudo muito novo e não temos os dados fechados aqui do Estado. A gente sabe que os serviços retraíram 1,8% no Estado e esse pode nem ser o pior dado, comenta o doutor em Ciências Contábeis e professor da Fucape Felipe Storch Damasceno.
Acho que o que deve ser observado com mais cuidado é o desemprego. Ele já estava alto antes do início da crise e pode chegar a níveis alarmantes. Outra questão é o endividamento das empresas. Pode ser que seja necessário o cancelamento de alguns impostos para microempresas e microempreendedores individuais, alerta.
Já o pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV IBRE Marcel Balassiano acrescenta mais um fator de preocupação: o tempo até que as atividades econômicas voltem à normalidade.
Um levantamento do Ideies aponta que as indústrias localizadas no Espírito Santo já reduziram as vendas, as compras e estão com dificuldades para encontrar insumos básicos para a produção. Apenas 9% das empresas esperam não sofrer alterações em suas vendas neste período de pandemia.
As empresas pesquisadas também apontam para possíveis dificuldades no fluxo de caixa. Na primeira semana de abril, 78% dos pesquisados já apresentavam problemas nesse segmento ou acreditavam que iriam enfrentar esse problema nas duas semanas seguintes.
Essa pesquisa vem sendo feita semanalmente com empresários e mostra a evolução da percepção deles sobre a crise do coronavírus.
Os resultados da pesquisa também revelam que 80% dos empresários pesquisados se mostraram muito preocupados com a Covid-19. Na semana anterior (última semana de março), 67% se declararam muito preocupados com a pandemia.
Ao todo, 71% das empresas pesquisadas já adotaram home office ou pretendem adotar nas próximas duas semanas, enquanto 26% não pretendem adotar esta medida.
Quanto às medidas de mitigação, 94% das empresas pesquisadas acreditam ser necessária ou muito necessária a flexibilização temporária das obrigações trabalhistas. No Estado, há empresas que estão adotando o sistema de férias coletivas, redução da carga horária e de salário e também suspendendo o contrato dos trabalhadores.
De acordo com os especialistas, é possível que a situação econômica não fique tão ruim e tenha uma recuperação mais rápida. As medidas, entretanto, dependem mais dos governos federal e estadual do que dos empresários nacionais ou locais.
O mercado já está ciente de que haverá déficit primário e o governo precisa mesmo gastar o que tiver que gastar com saúde e com o suporte aos mais vulneráveis. Mas o que não se pode é fazer com que esses gastos temporários se tornem fixos. Além disso, é preciso retomar com as agendas reformistas, avalia Marcel Balassiano.
E o governo estadual? Esse, segundo Marcelo Saintive, precisará focar nas obras públicas e na agenda de infraestrutura. O Espírito Santo tem uma boa capacidade de fazer gestão fiscal. Essa e outras condicionantes nos permitem ter uma recuperação mais rápida do que imaginamos em outros Estados, avalia.
Se o Estado focar nas obras públicas do setor de infraestrutura que estão em andamento, ele tem chance de se recuperar antes dos outros Estados. Obra pública aumenta a produtividade e também gera muito emprego. Isso vai ser fundamental para os próximos meses, acrescenta Saintive.
Outro fator que pode jogar a favor da recuperação capixaba é a relação com o mercado externo. A gente tem uma boa relação com outros países. Quando esses países voltarem a produzir eles devem puxar o crescimento do Espírito Santo junto. Os chineses, por exemplo, já estão querendo voltar a comprar rochas ornamentais do Estado, destaca Felipe Damasceno.
Porém, para que esse retorno venha rápido, é preciso que os empregos não sejam destruídos. É melhor dar uma margem maior para as empresas se manterem do que esperar que elas demitam e depois recontratem. A não demissão ajuda na recuperação das empresas e da economia, pontua.
O problema é que ninguém consegue cravar quando a saúde, a economia e a sociedade voltarão para um patamar de semi-normalidade, lembra Balassiano. O Brasil consegue observar o que tem acontecido nos outros países, mas esses retornos podem variar de país para país e de Estado para Estado, dificultando a caracterização de um cenário com mais objetividade, conclui.
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