A crise financeira provocada pelo coronavírus elimina postos de trabalho com mais rapidez do que qualquer outra já vivenciada pelo Brasil. Só no Estado, já foram quase 30 mil vagas fechadas em três meses este ano. Embora quem ficou desempregado esteja em situação mais crítica financeiramente, quem ainda mantém o emprego precisa se preparar para um cenário ainda desafiador.
Muitas companhias têm mantido seus funcionários através dos mecanismos criados na MP 936, que permitiu redução de jornada e salários e até suspensão temporária de contratos. Contudo, especialistas acreditam que uma nova onda de demissões deve acontecer uma vez que o prazo de estabilidade estipulado na lei se esgotar. Para muitos trabalhadores, isso significa novembro deste ano.
Para especialistas, é preciso se preparar financeiramente desde já. A Gazeta conversou com economistas e especialistas* em finanças pessoais e montou um guia para ensinar os leitores a se protegerem financeiramente durante esse período de incerteza.
A primeira dica, que vale tanto para quem tem reservas financeiras quanto para quem não tem é listar e analisar todos os gastos. Fazer uma espécie de raio-x detalhado de todas as despesas, tanto as mais fixas (aluguel, prestação do carro ou do apartamento, serviços, etc) quanto às variáveis (como transporte e alimentação por exemplo).
É uma tarefa trabalhosa e que pode demandar bastante tempo e dedicação, mas os especialistas concordam que agora, mais do que nunca, ela é necessária. Ela será o ponto de partida para as decisões que precisarão ser tomadas para se adequar ao novo período de incerteza.
O balanço pode ser feito com papel e caneta, em planilhas no computador ou até em aplicativos destinados à esse fim.
Apenas um terço dos brasileiros poupa, então é muito provável que a maioria dos leitores esteja no grupo que não tem uma reserva financeira de emergência.
Há ainda a possibilidade de o trabalhador ter tido o salário reduzido ou até o contrato suspenso. Nesses casos, o ideal é pegar o resultado da análise financeira do domicílio (indicado anteriormente) e observar quais os gastos que podem ser cortados para reequilibrar as finanças.
O objetivo é se ater às despesas prioritárias (alimentação, moradia e saúde) e olhar com cuidado as demais, verificando se elas podem ser eliminadas totalmente ou se podem ser reduzidas, seja em acordo com o fornecedor seja mudando para um mais em conta.
Se encaixam nesse caso as contas de TV a cabo, serviços por assinatura, cursos e escolas, alimentação fora de casa (delivery), roupas e calçados, entre outras.
Quem tem dívidas pode tentar renegociá-las, e com as baixas taxas de juros atuais, analisar se é vantajoso fazer a portabilidade do débito para uma banco que ofereça uma condição melhor de pagamento.
O que não pode, segundo especialistas, é compensar a redução na renda com o uso do cartão de crédito. Essa estratégia pode custar muito caro no futuro e fazer com que uma atitude tomada em um momento de crise se torne uma dívida impagável por conta das altas taxas de juros.
A não ser que o trabalhador tenha certeza da estabilidade da renda, como é o caso de servidores públicos e alguns empresários, esse também não é o momento de fazer nenhuma nova dívida de longo prazo. Ou seja, é melhor aguardar para trocar de carro ou fazer um financiamento imobiliário, por exemplo.
Quem está empregado e tem uma reserva de dinheiro pode até se considerar seguro, mas não pode relaxar. Como a incerteza em relação ao mercado de trabalho ainda é alta, é imprescindível rever os gastos.
Segundo os especialistas, além de ajudar no caso de uma mudança na renda por conta de uma demissão, por exemplo, é um hábito saudável para manter a saúde financeira da família.
É bom lembrar que é considerada reserva de emergência o dinheiro guardado que equivale a, pelo menos, três meses de salário. E para ter um pouco mais de segurança quanto ao futuro, é importante que ele seja mantido intacto, se possível.
Isso significa que, caso o trabalhador tenha tido a renda reduzida nesse momento, é melhor diminuir os gastos atuais para que a reserva de emergência sirva ao seu propósito, que é socorrer a pessoa no caso de um imprevisto, como uma demissão futura ou uma urgência de saúde, por exemplo.
Já aos trabalhadores que tem reservas maiores ou estabilidade garantida no emprego, os especialistas aconselham fazer investimentos com cuidado.
Quem quiser se arriscar a investir em renda variável (bolsa de valores), deve procurar uma agência ou um especialista para não acabar perdendo dinheiro.
O investimento em imóveis também pode ser uma boa opção já que as taxas de juros de financiamento nos bancos estão baixas e muitas pessoas estão se desfazendo desses bens com preços abaixo do mercado.
* A reportagem ouviu a economista e planejadora financeira Cecilia Perini e o economista e professor da Fucape Felipe Storch.
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