O mercado de trabalho passa por constantes transformações e o mesmo acontece com a vida profissional. A palavra "transição" vem sendo muito utilizada quando pessoas com mais de 40 anos resolvem mudar suas carreiras para atuar em outro ramo. Os motivos são bem variados, mas, na maioria dos casos, ocorre para buscar melhor remuneração, satisfação pessoal ou por necessidade de mercado.
Como qualquer mudança, a troca não costuma ser muito fácil, mas não é impossível. Antes de decidir tomar esse importante passo, é preciso ter alguns cuidados como planejamento, apoio familiar e persistência para não desistir pelo caminho.
A psicóloga e diretora da Psico Store Consultoria, Martha Zouain, observa que cada vez mais encontramos pessoas se questionando sobre suas carreiras. Ela destaca que as razões são inúmeras, mas envolvem, principalmente, a vontade de viver melhor e ser feliz.
A especialista diz ainda que esse movimento ficou mais evidente com a pandemia. Segundo ela, a sensação de fragilidade da vida trazida pelo coronavírus deixou as pessoas com ânsia de ser feliz.
“É como se as pessoas tivessem acordado e visto que podem viver muito melhor. É isso o que elas querem. Quarenta anos é como se fosse um referencial importante de vida. De maneira inconsciente, as pessoas estabelecem idades para algumas conquistas e realizações. Nessa idade, uma boa parte deseja estar casada, com filho, casa própria e uma carreira ‘bem sucedida’. E conciliar tudo isso está cada vez mais difícil. Nesse sentido, crescem as demandas de pedido de ajuda em nossos consultórios”, ressalta Martha.
Quem teve esse "despertar" foi Clarissa Mendes, de 42 anos. Formada em Direito, ela atuou como advogada e professora, chegando a trabalhar até 13 horas por dia. Porém, mesmo com uma carreira sólida, começou a sentir que sua saúde estava comprometida e percebeu que algo estava errado.
“Foi nesse momento que acendeu uma luz. Na época, eu estava na casa dos 30 anos. Tirei um ano sabático e, durante esse período, trabalhei com fotografia. A atividade também deu certo, mas ainda não era bem isso que queria fazer. Voltei a advogar e, em paralelo, fiz formação em treinamentos empresariais, marketing digital, empreendedorismo digital, entre outras”, conta.
Após a morte da mãe, há cinco anos, Clarissa percebeu que estava novamente em transição. Foi quando chegou a pandemia e ela engravidou, ficando reclusa por um longo período em casa. Desde então, o Direito deixou de ser o foco principal e a atenção se voltou para treinamentos de profissionais com alta performance.
“Criei a Capixaba Zen Institute. Sou mestre em reiki – forma de terapia em que se canaliza energia por meio da imposição das mãos – e meu foco passou a ser empresarial. A ideia é demonstrar que é preciso ter um alto desempenho com qualidade de vida. Não adianta ser bem sucedida e esquecer de mim, adoecer e ter uma produtividade baixa. Até há pouco tempo, havia a crença de que era necessário trabalhar muito para ganhar dinheiro. Com pequenas mudanças, é possível ter altos resultados”, avalia a agora treinadora de alta performance humanizada
Hoje, Clarissa se sente mais realizada. Mas, ao mesmo tempo, com grandes desafios por atuar em algo inovador. Para quem quer fazer essa transformação na carreira, ela orienta a busca por ajuda.
Formado em Engenharia de Produção, o consultor associado Paulo Telles, de 50 anos, não teve medo de fazer várias transições ao longo da carreira. Ele considera sua vida profissional como plural, pois já atuou em setores de compras, logística e suprimentos, inclusive em empresas multinacionais.
“Em 2016, saí da mineradora onde atuava e fiz um trabalho de recolocação no mercado. Durante a transição, passei a trabalhar com consultoria em recursos humanos, modelos de competência, entre outros temas. Tudo isso depois de completar 40 anos. Sempre encarei essas mudanças como oportunidades de crescimento pessoal e profissional”, menciona.
Telles observa que sempre teve a sorte de trabalhar em diversas empresas e setores, o que hoje faz toda a diferença nas consultorias que realiza.
“Com 50 anos, estou me reinventando todos os dias. Sempre agarrei todas as oportunidades que apareceram. O profissional que quer fazer transição de carreira precisa estar preparado emocional e psicologicamente, pois será mais uma experiência de vida. É preciso arriscar, pois não existe uma situação em que se está 100% preparado. Abrace o mundo, se prepare e acredite em você”, orienta.
Martha Zouain, da Psico Store, salienta que a felicidade deve ser o maior motivador para mudanças.
A psicóloga aponta que, mesmo para as pessoas que encaram a mudança como algo positivo, qualquer movimento rumo ao novo gera insegurança, exatamente pelo desconhecido. Segundo ela, esta é a razão de muitas pessoas permanecerem na tão famosa “zona de conforto”.
“No entanto, a magia não acontece no conforto e essa deveria ser a razão para empoderar as tomadas de decisão mais rapidamente. Para se preparar para mudar, recomendo o autoconhecimento para não errar no que o faz feliz e conhecimento de mercado.
Com o mercado aquecido na busca por profissionais com maior repertório, quem tem mais de 40 anos vivencia uma oportunidade para repensar sua carreira, destaca a psicóloga e diretora de Cultura, Liderança e Diversidade do Comitê do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (Ibef-ES), Gisélia Freitas.
Além de autoconhecimento e avaliação do mercado, Gisélia aponta que é preciso observar que tipo de formação o profissional vai necessitar e ainda elaborar um plano de ação. Dessa forma, é importante buscar as áreas que estão contratando, elaborar material de apresentação, aumentar os contatos participando de eventos empresariais e sociais, usar as redes sociais para comunicar e se posicionar dentro dessa nova expectativa profissional, mantendo uma busca ativa de oportunidades.
“Saber a hora de mudar de carreira ou se reposicionar no mercado, acompanhará sempre o profissional, em todas as suas fases e épocas. Antes de qualquer ação, uma avaliação precisa ser feita: estou satisfeito com o que faço? Quais seriam as limitações e dificuldades se eu mudar agora? É importante que o profissional tenha consciência se o desejo de mudança não é movido por situações pontuais, circunstâncias que aconteceram e o atingiram emocionalmente. Não podemos tomar essas decisões movidos apenas pela emoção, mas principalmente pela razão”, opina Gisélia.
Na opinião da CEO do Acelera Mulher, Ana Paula França, mudar de carreira depois dos 40 anos pode parecer assustador, mas, para muitas pessoas, é exatamente o que precisam para encontrar satisfação e realização profissional.
Ela aponta que existem várias maneiras de perceber se é hora de mudar de carreira. Alguns sinais podem incluir: falta de satisfação ou motivação com sua carreira atual, sentimento de estagnação ou falta de crescimento profissional, necessidade de explorar novas áreas ou de equilibrar melhor a vida pessoal e profissional ou até mesmo um desgaste emocional.
“Lembre-se de que não há uma opção de carreira ‘certa’ para todos. É importante encontrar algo que o deixe satisfeito e feliz, capacitando você a criar o futuro que deseja. Tenha em mente também que a mudança não precisa ser radical. Pode ser apenas uma troca de foco dentro do mesmo setor ou empresa. No final do dia, sua decisão deve ser baseada em interesses, habilidades e objetivos de carreira. Isso vai garantir que a transição seja uma jornada emocionante e gratificante, mesmo que possa ter alguns desafios pelo caminho. E acredite: quando se está feliz, o resultado vem”, ressalta.
Busque o autoconhecimento . Se necessário, com ajuda profissional.
Negocie com a família e as pessoas próximas a mudança que almeja fazer. A sua segurança deixará as pessoas no entorno seguras também.
Permita-se abrir mão temporariamente de alguma segurança até começar a ter retorno com a mudança. Mudar de carreira pode significar um investimento financeiro. Portanto, é importante analisar suas finanças para descobrir quanto pode gastar durante a transição.
Seja incansável para buscar informações de qualidade e estudar. Se a carreira que você deseja requer novas qualificações, invista em conhecimento. Mas aqui vai um alerta também: normalmente, você já tem o que precisa; portanto, cuidado com a autocrítica exacerbada e o medo de começar.
Trabalhe o seu equilíbrio emocional para potencializar as chances de ser mais resiliente com os obstáculos.
Reflita sobre seus interesses e suas habilidades. Antes de tomar qualquer decisão, reserve um tempo para pensar e definir seus objetivos.
Faça uma pesquisa sobre as opções de carreira que lhe interessam e quais são as qualificações necessárias para entrar nesse novo campo. Vale conversar com profissionais que experimentaram o movimento que você fará e com quem atua ou atuou em sua área de interesse.
Considere trabalhar em tempo parcial ou voluntariado em sua nova área. Isso pode permitir que você ganhe experiência valiosa e faça contatos na área.
Estabeleça as ações, os prazos e as metas e parta para a ação. O feito é melhor do que o não feito!
Estude o mercado e as áreas que interessam, seja para empreender ou buscar uma nova colocação.
Fontes: Martha Zouain e Ana Paula França
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta