A pandemia de Covid-19 pegou o mundo de surpresa e deu início a uma crise econômica que pode ser a maior já vivenciada no país. Os trabalhadores mais vulneráveis foram os primeiros a sentir os efeitos dela: no Espírito Santo, os pedidos de seguro-desemprego têm crescido desde janeiro e, neste ano mais de 25 mil postos de trabalho foram fechados. Nenhuma dessas estatísticas contemplam os trabalhadores informais ou autônomos, também fortemente afetados pelas medidas de distanciamento social e restrição de circulação necessárias ao combate do vírus.
Para algumas famílias, a crise já se traduz na falta de comida na mesa. Enquanto isso, outras, ainda com emprego e até uma poupança, se sentem mais tranquilas, mas precisam se preparar para o pior, afinal é impossível prever a duração ou extensão dos reflexos econômicos da pandemia.
Para sobreviver à crise do coronavírus, é preciso colocar em prática um "orçamento pessoal de guerra". A Gazeta conversou com economistas e especialistas* em finanças pessoas e montou um guia para ensinar os leitores a se proteger financeiramente durante esse período de incerteza. Para facilitar o acesso, as dicas são adaptadas as diferentes situações.
Quem já estava desempregado ou perdeu emprego durante a pandemia precisa se colocar em "modo sobrevivência". O primeiro passo é procurar saber se você tem direito a algum dos benefícios governamentais, como o seguro-desemprego e se inscrever imediatamente.
Uma vez com o benefício preparado, é possível se planejar um pouco mais. Segundo especialistas, nessa fase mais extrema, o importante é listar os gastos mais básicos, que estão relacionados à moradia e alimentação. Isso significa pagar as contas de água, luz, gás, supermercado e algum medicamento de uso contínuo, se for o caso.
Também é importante manter em dia o aluguel ou o financiamento imobiliário, porque ninguém quer ficar fora de casa. Em ambos casos, é recomendado entrar em contato com o banco, a corretora ou com o proprietário do imóvel e tentar renegociar, reduzir o aluguel ou as parcelas da dívida.
Em seguida, é hora de classificar os boletos que restaram por ordem de prioridade. Nessa avaliação, é importante pensar no que é essencial para esse momento extremo. As contas que não podem deixar de ser pagas de forma alguma precisam entrar no orçamento. Já no caso das menos prioritárias, vale entrar em contato com o fornecedor, explicar a situação, e tentar um desconto pelo menos temporário.
Os gastos classificados como não prioritários precisam ser cancelados. Para saber qual se encaixa nessa categoria é só se perguntar: esse gasto tem alguma utilidade para mim nesse momento? Se a reposta for não, ele precisa ser cortado.
Caso você tenha dívidas, tentar renegociar também pode ser uma solução. Se esses débitos estão em bancos diferentes ou tenham fontes diferentes (cartão de crédito, cartão de loja, cheque especial, por exemplo), especialistas aconselham tentar reunir as dívidas em uma só, com os juros mais baixos que puder encontrar.
Outra dica importante é não deixar de procurar emprego. Ainda que a situação pareça desesperadora, é necessário tentar se recolocar no mercado de trabalho.
Se você foi demitido ou obrigado a deixar de trabalhar (no caso de autônomos), mas faz parte do um terço dos brasileiros que tem algum dinheiro guardado (67% da população brasileira não poupa) a situação talvez seja menos desesperadora. Contudo, como não é possível saber quanto tempo a crise do coronavírus vai durar - nem quanto desse tempo você conseguirá cobrir suas despesas com o dinheiro poupado - é imprescindível adaptar o orçamento para a nova realidade.
Para isso, é preciso priorizar os gastos com moradia e alimentação, avaliando o que é estritamente necessário. Não caia na tentação de não rever seus gastos.
Segundo especialistas, se o dinheiro guardado for considerável, a pessoa pode até considerar utiliza-lo para investir em si mesma, abrindo um pequeno negócio ou se reinventando profissionalmente.
O tempo livre em casa também pode ser uma oportunidade para aprender algo novo em cursos na internet. Há centenas de opções gratuitas. Os especialistas apontam, contudo, que esse não é o momento de adquirir título, mas focar em ter conhecimentos que possam ser úteis para um novo emprego ou uma nova carreira.
Não importa a situação, os especialistas concordam que nesse momento é mais importante do que nunca manter um diálogo aberto sobre dinheiro com a família. Não há vergonha em perder o emprego, principalmente durante uma crise tão grave. Todos precisam estar envolvidos na nova realidade financeira.
*A reportagem ouviu a professora do departamento de ciências contábeis da UFES e mestre em contabilidade financeira Simone Luiza Fiório e o eocnomista Antônio Marcus Machado.
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