Na madrugada desta sexta-feira (12), moradores de 16 apartamentos do bloco 13 do condomínio Residencial Vila Velha, em Jabaeté, tiveram que deixar seus lares por medo de que a estrutura desabe. Segundo a síndica Mirian de Freitas, foram constatadas rachaduras em pelo menos três apartamentos do condomínio entregue em 2016 pelo programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), do governo federal.
O episódio revela uma situação recorrente em imóveis do programa habitacional que, devido a falhas na estrutura, tornam-se suscetíveis a acidentes. Só no Espírito Santo, esse foi o terceiro problema em condomínios do programa registrado em menos de dois meses. No entanto, os problemas em série de estrutura e com atraso nas obras são históricos.
Em dezembro do ano passado, duas torres d'água de um condomínio em Cariacica desabaram deixando dezenas de famílias desalojadas e matando uma pessoa. O Residencial São Roque havia sido inaugurado apenas duas semanas antes.
Já em fevereiro, a estrutura da área de festa de um residencial do programa em Cachoeiro de Itapemirim desabou durante uma chuva. Neste caso, ninguém ficou ferido.
Problemas de estrutura em imóveis no Estado, aliás, têm ido além de empreendimentos do programa. Também neste ano, os moradores dos edifício Santos II, em Vila Velha, acordaram de madrugada com um estrondo provocado pelo colapso parcial de dois pilares de sustentação do prédio. Segundo a prefeitura, o prédio não tinha documentação correta.
Em todos esses casos - e em tantos outros listados abaixo - o sonho da casa própria virou dor de cabeça. Para agravar ainda mais a situação, a maioria das ocorrências foram registradas em imóveis do programa habitacional federal ou em outros também ocupados por morados de baixa renda.
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Espírito Santo (Sinduscon-ES), Paulo Baraona, os acidentes acontecem aleatoriamente. “Tem acontecido mais no MCMV porque a quantidade de construções do programa representam mais de 50% das construções do Estado. Então, só tem mais possibilidade, por conta do número de obras do projeto”, diz.
Em 30 de dezembro do ano passado, duas caixas-d'água do condomínio Residencial São Roque, em Padre Gabriel, Cariacica, desabaram. O empreendimento do Minha Casa Minha Vida havia sido inaugurado duas semanas antes.
Um trabalhador que estava em uma das estruturas morreu. Dezenas de famílias tiveram que deixar suas casas e o abastecimento de água em todo o residencial ficou comprometido por semanas.
Uma avaliação preliminar do Crea-ES apontou que as caixas-d'água tinham erros de construção gravíssimos. A empresa Carmaço Reservatórios, responsável pela estrutura, recebeu seis multas do órgão.
Em um domingo de janeiro, os moradores do edifício Santos II, em Vila Velha, se assustaram com o barulho e uma movimentação do prédio. Desesperados, eles saíram dos apartamentos e ficaram na Avenida do Canal, tentando entender o que havia acontecido: dois pilares colapsaram e colocaram toda a estrutura em risco. Neste caso, trata-se de um empreendimento próprio da Construtora Santos.
Posteriormente, engenheiros do Crea-ES estiveram no local e constataram divergências entre o projeto e a construção do imóvel. Já a Prefeitura de Vila Velha admitiu que o prédio não tinha licença, assim como outros três da mesma empresa na cidade. No total, a Santos Construtora recebeu 19 autos de infração.
Construído através de um programa habitacional anterior ao Minha Casa Minha Vida, o Edifício Robalo do Condomínio Atlântico I, em Colina de Laranjeiras, na Serra, está interditado desde 2016 e segue sem data marcada para liberação. Ao todo, 16 famílias vivem a incerteza sobre quando e se poderão voltar para casa.
Em vistorias realizadas naquele ano, após denúncias de moradores, a Defesa Civil encontrou uma série de falhas na estrutura, como rachaduras na fundação, vigas de sustentação escoradas em pilhas de blocos de cimento e sinais de "leve inclinação" no edifício.
Os moradores do Residencial Otílio Roncetti, obra do Minha Casa Minha Vida em Cachoeiro de Itapemirim, passaram por um susto na primeira semana de fevereiro deste ano. A estrutura de uma área de festa desabou enquanto chovia.
Ninguém ficou ferido. O empreendimento foi entregue aos moradores em 2018 e eles relatam diversos problemas desde então.
No Residencial Esperança, também em Cachoeiro de Itapemirim, os moradores estão perdendo o sono porque os apartamentos começaram a apresentar problemas estruturais, como infiltração e queda de revestimento.
O residencial foi entregue pelo MCMV em fevereiro de 2016, tem 496 apartamentos e, segundo relatos dos condôminos no fim de 2019, mais de 300 têm algum problema na estrutura.
No caso dos condomínios do programa Minha Casa Minha Vida, além dos problemas estruturais há também a longa demora na entrega dos empreendimentos. Algumas obras se arrastam por mais de dez anos.
É o caso do conjunto habitacional do bairro Aroeira, no município de São Mateus, no Norte do Estado, centenas de famílias aguardam há 10 anos a entrega de 463 casas no conjunto habitacional. A obra foi iniciada em 2010, acumula várias paralisações e promessas de data para a conclusão, mas beneficiários do programa permanecem sem previsão de mudança para o novo lar.
A situação se repete para moradores de Aracruz, que aguardam a entrega de apartamentos em Barra do Riacho. A previsão inicial era para o residencial ser entregue em 2016, mas, quatro anos depois, ninguém ainda foi contemplado com o imóvel.
Um dos casos mais emblemáticos se deu em Linhares, onde foram erguidos no bairro Aviso o Conjunto Rio Doce e o Residencial Mata do Cacau. O primeiro foi entregue em 2018 e o segundo ainda está sem conclusão.
As obras foram contratadas em 2010 e passaram por paralisações e abandonos, com o mato inclusive chegando a cobrir as casas populares. Próximos do Rio Doce, os condomínios foram atingidos por uma cheia que causou alagamentos e destruiu parte da construção. Parte das obras teve que ser refeita e, depois, uma nova cheia provocou a inundação do local.
Diante dos sucessivos problemas de alagamentos, foi preciso repensar na segurança do local para ser entregue às famílias. Apenas em 2016 foi feito um acordo para usar uma faixa do terreno de Nozinho Correa, ex-prefeito da cidade, para construir um dique e, assim, impedir que os terrenos fossem novamente alvo dos alagamentos.
Para além do programa federal, acidentes em condomínios no Estado têm se tornado comuns. Em 2019, um morador do Edifício Alhambra, em Jardim Camburi, Vitória, teve o carro "engolido" por um buraco que se abriu no estacionamento do condomínio. Apesar do susto, não houve feridos.
Um prédio sem moradores desabou na praia de Itapoã, em Vila Velha, em maio de 2019. Segundo testemunhas, o imóvel já estava interditado e apresentava várias rachaduras. Equipes do Corpo de Bombeiros fizeram buscas durante 12 horas, mas não localizaram vítimas.
Já em janeiro de 2020, outro desabamento. Desta vez, um imóvel de dois pavimentos no Centro de Vitória, que estava desocupado havia 10 anos, e tinha sido colocado à venda. Apesar da proximidade, não houve danos a estrutura de outros prédios. Uma câmera de vídeo registrou o desmoronamento.
No mês seguinte, após a laje de um prédio em Campo Grande, Cariacica, ceder, o imóvel passou a ser sustentado por cordas porque a obra de demolição havia sido embargada pela prefeitura. Moradores da região temiam a queda de toda a estrutura e outros imóveis já tinham sido interditados.
Um dos casos mais mais marcantes do Estado aconteceu em 2016, quando a área de lazer do condomínio Grand Parc Residencial, na Enseada do Suá, em Vitória, desabou e matou o porteiro Dejair das Neves, 47, que trabalhava no local. Outras quatro pessoas ficaram feridas, incluindo o síndico, José Fernando Leite Marques.
Os 166 apartamentos das três torres foram interditados após o acidente e só voltaram a ser liberados em agosto de 2019, depois que o empreendimento foi reformado. Quatro engenheiros se tornaram réus em processo na Justiça.
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