Montanhas Capixabas, Caparaó e Conilon. Cafés certificados com essa qualidade e com indicações geográficas do Espírito Santo — que incluem também outras regiões produtoras, como Iúna — são destaque na Semana Internacional do Café, realizada de 20 a 22 de novembro em Belo Horizonte, Minas Gerais. O evento é um dos mais importantes no mercado cafeeiro no Brasil e no mundo.
Produtores de várias regiões do Espírito Santo estão tendo a oportunidade de apresentar seus produtos na feira, possibilitando ganhar novos mercados e clientes em todo o país. No estande do Espírito Santo, o projeto Mulheres do Café também mostra suas criações. O Estado também tem representantes classificados para a final do Coffee of The Year, concurso do melhor café arábica e conilon do ano, que terá resultado apresentado na sexta-feira (22).
Em comum entre eles está uma produção familiar, que começa com cultivo voltado para a venda na forma de commodities, mas que nos últimos anos passou a voltar os olhos para os cafés especiais. E muitas dessas transformações nas fazendas foram lideradas ou por mulheres ou pela geração mais nova das famílias.
Outro ponto onde o café capixaba é destaque é no estande da Prefeitura de Iúna, que reúne produtores do município apresentando seus cafés. Lá está, inclusive, o café arábica campeão do concurso Coffee of The Year 2023, o Café Cordilheiras. Neste ano, a família produtora tem cinco amostras na final do concurso.
O tema desta edição da feira é “Como o clima, a ciência e os novos consumidores estão moldando o futuro do café”. O evento tem o objetivo de conectar e gerar oportunidades para toda a cadeia do café brasileiro no acesso a mercados, conhecimento e negócios.
Uma das representantes dos cafés das Montanhas Capixabas é Camila Vivacqua, do Café Chiara, de Brejetuba. Ela conta que a família já é produtora há muitas décadas de café commodity arábica, liderada pela sua mãe Andrea Vivacqua, que foi uma das pioneiras a produzir café especial na região.
Camila conta que começou a estudar mais sobre café nos últimos anos para ajudar a valorizar o trabalho da sua mãe, e ainda definiu uma missão, que era levar o café especial para mais lugares, como padarias e supermercados, para democratizar o produto.
"Trabalhamos com sustentabilidade. Temos mais de 30% da fazenda preservada. É isso tudo que quero trazer e mostrar: não só o café, mas todo o trabalho e as histórias que têm por trás dele", conta.
Os cafés com indicação geográfica costumam contar com um QR Code que leva direto para informações dos produtos, imagens e localização da fazenda produtora, entre outros dados sobre o cultivo.
Outro ponto de destaque são os cafés especiais do Estado do tipo conilon. Alexandre Ferreira foi o representante da Fecafes (Federação dos Produtores de Café do Espírito Santo) na feira. A Fecafes é formada pelas cooperativas Cooabriel, Coopeavi, Cafesul e Coopbac e apresentou cafés especiais produzidos por cooperados, inclusive com opções fermentadas.
Para ter o selo de indicação geográfica, Alexandre explica que o produtor precisa obedecer a três exigências: estar na região, ter laudo de sustentabilidade e o café tem que ter acima de 80 pontos. E pela federação os cooperados conseguem ajuda para os produtores conquistarem o selo, mas ainda é desafio para os agricultores menores e independentes.
"Para a feira estamos trazendo os conilons de origem. Alguns dos cafés das cooperativas podem ser também de mais de um produtor. E no QR code a pessoa consegue ter informações da produção, da quantidade do lote daquele produto, fotos da propriedade e também análise sensorial do café", conta.
Renato e Rita Bueno são de Muniz Freire e estão pela primeira vez na feira, apresentando o café Vale do Bueno, da região do Caparaó capixaba. Na propriedade da família já tinha plantação de café, de agricultura familiar, mas Rita viu a oportunidade de produzir grãos especiais há dois anos e contou com a ajuda da Associação dos Produtores do Caparaó para levar o negócio em frente. E estão lançando a marca na feira para apresentar o produto para cafeterias e consumidores.
"No interior a gente percebe que precisa diversificar as formas de renda para mulheres jovens, para que eles queiram fazer o trabalho e ficar no interior. Sou enfermeira e começamos a aproveitar as oportunidades da propriedade. Há muitos anos já produz café commodity, mas vi a oportunidade de produzir café especial no ano passado. Na primeira vez já conseguimos pontuar 84 e aí continuamos o trabalho. Cada um na família tem uma função na produção. O café especial está fazendo o que eu imaginava, que é manter as pessoas no interior e aumentar a renda", conta.
Maria Luciene Pessin também é destaque na feira de café apresentando sua produção de grãos especiais do tipo conilon em Vila Valério, no Noroeste do Estado. Sua produção do café Sítio São Francisco tem como foco a agricultura regenerativa. Ela lidera a produção de café na família e também integra o projeto Mulheres do Café.
"Trouxe o café agroflorestal. Ele é sombreado, que é mais complexo e demora a maturação, mas traz benefício da qualidade do café. Tem três anos que começamos os especiais e a propriedade mesmo em geração produz café há 12 anos, também focado na sustentabilidade", conta.
Premiado como melhor café arábica no concurso Coffee of the Year 2023, o Café Cordilheiras é destaque no estande da cidade de Iúna, que também levou outros produtores da região à feira. Neste ano, o café produzido pela família de Deneval Vieira concorre com cinco lotes ao melhor arábica do ano.
Deneval Junior foi quem liderou a produção de cafés especiais da família e hoje quase todos os irmãos estão junto com o pai na propriedade. Cada um deles tem um papel na produção: o pai cuida do pós colheita; o irmão do cultivo e Deneval Junior da torra. Sua mãe cuida do empacotamento e conversa com os clientes. Deneval já é a quinta geração da família na lavoura de café, mas o estudo dos cafés especiais está na rotina desde 2010, quando começaram a estudar.
"Começamos a produzir o primeiro lote de café especial em 2014 e a cada ano estamos crescendo mais. Participamos da feira desde 2015. O café torrado vai para todo o Brasil e vendemos diretamente a algumas cafeterias. Também mandamos grãos verdes do café especial para Brasil e exterior. O prêmio que ganhamos no ano passado ajudou a alavancar a venda de café torrado", conta.
Cecília Nakao é presidente da Associação dos Produtores de Cafés Especiais no Caparaó. Ela conta que a indicação geográfica do Caparaó abrange 16 municípios, sendo 10 no Espírito Santo e seis em Minas Gerais. Nesta edição, a associação trouxe 33 produtores para apresentar seus cafés, todos com selo de origem.
E para fazer as apresentações, eles participaram de capacitações, como palestras para preparar para a feira e oficina de pitch para apresentar o cafés. Alguns também fizeram curso de storytelling.
"A gente não quer que o café ande sozinho. Queremos que o produtor aprenda a se comunicar, a conversar e a falar sobre o seu café. Então temos colocado as capacitações para que eles, cada vez mais, consigam falar sobre a região, sobre a família, sua lavoura e seu lote. Como região produtora de café especial, precisamos democratizar o acesso, fazendo com que mais pessoas entendam e conheçam. Isso tem relação com a saúde, porque o café especial é isento de defeito. Precisamos fazer isso para que as novas gerações possam continuar a produção de cafés", detalha.
*A reportagem viajou a convite da Semana Internacional do Café
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