Com saldo 5.071 novas vagas criados entre janeiro e dezembro do ano passado, a construção civil foi a principal responsável pela sustentação do mercado de trabalho formal no Espírito Santo em 2020, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta quinta-feira (28) pelo Ministério da Economia.
A indústria (4.089) e o comércio (1.722), que também tiveram resultado positivo, contribuíram para que o Estado chegasse ao final do ano passado com 6.812 contratações a mais do que as demissões realizadas. O desempenho só não é melhor por causa da agropecuária e do setor de serviços, que extinguiram 720 vagas e 3.350 vagas, respectivamente.
Segundo o economista Marcelo Loyola Fraga, o resultado poderia ter sido pior se não fossem as medidas criadas pelo poder público para mitigar alguns dos efeitos da crise do coronavírus. Como exemplo, ele citou o programa de suspensão de contratos ou redução de jornada e salários e a liberação de empréstimos para que as empresas pudessem arcar com a folha de pagamento, que ajudaram a segurar as demissões.
“Todas essas medidas adotadas no ano passado beneficiaram o mercado de trabalho. Em relação ao setor da construção, particularmente, também tivemos outras contribuições importantes, como a queda da taxa de juros, a portabilidade de financiamento. Isso tudo foi positivo.”
Ele observa ainda que, embora o Caged não faça essa comparação e traga somente os dados de demissões e contratações do ano, até 2019, o setor da construção civil vivia ainda os impactos das crises anteriores, e estava estagnado. Diversas obras estavam paradas, ou sequer haviam saído do papel.
“Essa queda dos juros foi extremamente benéfica e permitiu um crescimento expressivo, mas foi um movimento, principalmente, de recuperação. Ainda temos muito espaço para crescer neste ano, uma vez que o contexto de juros baixos é o mesmo.”
Além das moradias e imóveis comerciais, o ano também foi marcado por obras de infraestrutura, tanto do governo do Estado, que vem anunciando investimentos frequentes, quanto dos municípios – neste caso, sob efeito do ano eleitoral, conforme os especialistas.
A indústria, por sua vez, parece caminhar para uma recuperação. Isso porque alguns setores tiveram aumento da demanda durante a pandemia, como as empresas de segmento alimentício, de embalagens, química, entre outras, segundo avaliação do economista Eduardo Araújo.
“No ano passado, também tivemos um resultado positivo de algumas commodities após as perdas iniciais. O minério de ferro, por exemplo, teve um bom desempenho, e o dólar mais alto favoreceu muito as exportações, de modo geral. Isso contribuiu para a retomada das indústrias, e é um movimento que deve permanecer ainda por alguns meses.”
O comércio, contudo, apesar de ter registrado resultado positivo no emprego em 2020, deve sofrer principalmente neste primeiro trimestre. O motivo é o fim do auxílio emergencial, que foi depositado até dezembro para uma parcela considerável da população capixaba.
“Se não houver nenhuma ajuda, os resultados serão comprometidos. O que fez com que a economia, não só do Espírito Santo, mas do Brasil de modo geral, não afundasse tanto quanto se esperava foi justamente o auxílio emergencial. A possibilidade de sacar o Fundo de Garantia também foi benéfica. Todos esses mecanismos ajudaram a minimizar os efeitos da crise porque ampliaram o consumo das famílias”, avaliou o economista Mário Vasconcelos.
A expectativa para este ano é que o governo tire “novos coelhos da cartola”. Enquanto a renovação do auxílio emergencial é improvável, um novo saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) já estaria em estudo.
Em relação à agropecuária, a contribuição foi considerada pequena. Mas as perdas acumuladas pelo setor de serviços devem se estender por mais algum tempo. O setor, que depende muito do contato entre as pessoas, é, ainda, o mais afetado pela pandemia.
“A aposta para reverter esse cenário é a vacina contra a Covid-19, claro. Mas ainda há uma confusão muito grande em relação a isso. Começamos a vacinar, mas não sabemos quando a vacina vai chegar para a população em geral. Ao mesmo tempo, temos visto muitas pessoas deixando de levar a sério a pandemia. E isso tudo tem um impacto sobre a economia, além da questão sanitária”, observou Vasconcelos.
O ponto é reforçado pelo economista Eduardo Araújo. Ele observa que o início da vacinação é um indicativo positivo para o mercado, pois o cenário começa a ficar mais claro. Mas explica que os próximos meses serão decisivos.
Além do risco das novas variantes do vírus, para que a vacinação tenha efeito real na economia, é preciso que uma parcela maior da população seja imunizada. Sob esse aspecto, Araújo destaca que o país tem uma vantagem que é a capacidade de vacinar rapidamente, já observada em outras campanhas de vacinação.
“Mas é importante, inclusive, que as pessoas que acreditam e querem que a atividade econômica retome façam uma campanha em prol da vacinação. Há muitas fake news disseminadas, e isso cria uma interferência indireta na atividade econômica, pois cria um ambiente de incerteza, que é o que a gente menos precisa nesse momento.”
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