Para muitas pessoas parcelar uma compra é a única opção para adquirir uma geladeira ou fogão, por exemplo. Mas, com as possíveis mudanças que Banco Central (BC) pretende fazer, os consumidores poderão perder a opção de parcelar uma compra sem a cobrança de juros. Atualmente, de acordo com um estudo do SPC Brasil o país já tem cerca de 52 milhões de usuários de cartões de crédito.
De acordo com o economista e professor dos MBAs da FGV, Robson Gonçalves, essa mudança pode acontecer porque o Banco Central pretende reduzir a concessão de parcelamento sem juros para tentar reduzir as taxas do rotativo. Para fornecer um crédito sem juros é preciso cobrar uma taxa muito alta no rotativo para cobrir os custos com a inadimplência. Dessa forma, para reduzir as taxas do rotativo, o BC pretende reduzir a oferta de crédito sem juros, aponta.
Ainda segundo o especialista, o problema desta mudança é que nada garante que as empresas administradoras de crédito, os bancos, vão cobrar mais barato por ofertar o parcelamento com juros.
Para conseguir realmente baixar os juros de todas as modalidades de crédito ofertadas é preciso, primeiro, que a população tenha educação financeira. Essa é a melhor saída. Com ela, as pessoas terão conhecimento de como gastar seu dinheiro e não se endividarem de uma forma que não possam cumprir com seus compromissos, enfatiza.
O governo já vem realizando algumas mudanças na regulação do cartão devido à insatisfação com os juros cobrados nessa linha de crédito, que chegaram a 317,22% ao ano em outubro passado, segundo dados do Banco Central.
De acordo com o Estadão, a alteração das regras, devem demorar um pouco mais para serem oficializadas pela complexidade de funcionamento desse tipo de meio de pagamento.
No Brasil, o cartão de crédito é apontado como o principal causador da dívida das famílias, representando 78,9% do total de endividados de acordo com a Pesquisa Nacional Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Câmara Nacional do Comércio (CNC).
Apenas no ano passado, os lojistas concederam R$ 400 bilhões em crédito parcelado sem juros. Para que as empresas vendam algo parcelado e sem juros aos seus clientes, é preciso pagar uma taxa mais alta para o emissor do cartão.
O professor Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia explica que dessa forma, o emissor garante o pagamento do valor, mesmo se acontecer do cliente não pagar a fatura. Quanto maior for o prazo de pagamento, maior será o risco para o emissor.
"É claro que alguém paga essa conta, tem toda uma operação financeira por trás disso, se alguém está oferecendo parcelar sem juros, certamente o lojista está pagando mais caro para o emissor, para que o emissor possa honrar aquelas parcelas na hipótese de que, quem fez a compra, não honrar o pagamento", comenta.
No ano passado, o governo fez uma intervenção na regulação do mercado de cartões. Porém, os resultados desagradaram e, em abril do ano passado, os juros do rotativo do cartão voltaram a subir. Nesta semana, o Banco Central travou os juros do cheque especial em 8% ao mês (o equivalente a 150% ao ano).
Balistiero ainda argumenta que a medida não pode ter impacto negativo no consumo em um momento onde a economia precisa se dinamizar. "Eu vejo a medida como indo no caminho correto, mas o momento realmente talvez não seja o mais apropriado, exatamente porque a economia ainda está em um processo de recuperação, e parcelar compras no cartão de crédito, ainda se constitui como uma das formas mais usadas pelos consumidores", lembra.
A reportagem de A Gazeta entrou em contato com a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs) e aguarda o retorno.
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