Enquanto a recuperação da economia no ano passado foi liderada pelas classes mais baixas, principalmente por conta do auxílio emergencial, neste ano, são os mais ricos que devem guiar o crescimento econômico brasileiro. Essa é a análise do economista Ricardo Amorim, que esteve nesta terça-feira (25) em evento da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) em comemoração ao Dia da Indústria.
Amorim apontou que, sem a ajuda do governo aos mais pobres e com a possível retomada do emprego graças à vacinação, as famílias de classes mais altas devem gastar mais, promovendo avanço econômico em áreas diferentes daquelas observadas no ano passado. Em 2020, o setor de alimentos teve forte alta, por exemplo, já que essa foi a prioridade de quem recebeu o auxílio emergencial.
“Com o auxílio, os produtos que mais cresceram em consumo foram aqueles voltados para as famílias de renda mais baixa. Porque a expansão da renda com o auxílio aumentou o consumo dessas classes. Como o auxílio vai ser menor, a renda das classes D e E cai. Neste ano, o consumo vai ser puxado pela classe A, produtos voltados para consumidores de classe mais alta”, projeta.
Ele registra que, embora mais da metade das famílias brasileiras estejam nas classes D e E e apenas 3,4% na classe A, em termos de consumo, ambas têm representatividade similar.
Para o economista, alguns fatores vão favorecer essa dinâmica. O primeiro deles é a retomada do emprego que deve acontecer primeiro para quem tem mais qualificação, ou seja, integrantes de classes mais altas.
“Quando a recuperação começa a se sustentar, o que já está acontecendo, quando a demanda cresce, as empresas precisam contratar. Como o desemprego está muito alto, a empresa consegue alguém com mais qualificação mesmo com salário menor. O trabalhador aceita o salário menor para conseguir se recolocar", diz.
Com isso, o desemprego cai primeiro entre os trabalhadores mais qualificados e a renda desse grupo começa a se recuperar.
Além disso, ele lembra ainda que esse grupo investe mais em ativos como ações, imóveis, metais preciosos, fundos imobiliários, propriedades rurais, criptomoedas, entre outros. Todos eles tiveram forte alta durante a pandemia, o que fez crescer a riqueza de quem já tinha dinheiro.
“A classe A não só está tendo ganho de renda, mas ganho de riqueza. Se sentindo mais rica, ela pode gastar mais. Por isso que o consumo está mudando. Além disso, há o efeito ‘eu mereço’: o cara se limitou com tanta coisa, que ele se dá direito de ter determinados luxos que talvez antes ele não tivesse”, pontua.
Para o especialista, uma terceira onda da pandemia, contudo, pode atrasar esse processo, já que é preciso que haja movimentação de pessoas, principalmente jovens e adultos, para que a retomada aconteça.
Apesar da preocupação com uma nova alta de casos e mortes por coronavírus e com o ritmo de vacinação, Amorim acredita que o país deve crescer mais do que vem sendo projetado até então para este ano.
“Acho que o Brasil crescerá entre 4% e 5% este ano. Até outro dia, a projeção era de pouco mais de 3%. Ainda assim é menos que o mundo. Em contrapartida, a inflação vai ser mais alta do que está sendo projetado. O mercado vem revisando para cima as projeções de inflação, eu temo que terá que revisar mais e, por consequência, as projeções de alta de juros”, avalia.
Ele acredita que a Selic, taxa básica de juros, alcance entre 7% e 9% até o fim deste ano e o início de 2022. O boletim Focus, de 10 de maio, trouxe previsão de 5,5% para 2021.
Um ponto apresentado pelo economista como crucial para que o Brasil tenha competitividade nesse momento de crescimento é a reforma tributária. “Quanto mais longa a cadeia produtiva, pior é o problema porque há de imposto em cima de imposto. A gente perde competitividade nos produtos que mais interessam, que são os industrializados.”
Ele afirma ainda que a indústria brasileira precisa “se plugar” na cadeia produtiva asiática, que é praticamente a única que vem crescendo nos últimos anos, e ressalta a importância do investimento em inovação para ampliar a produtividade.
“Nunca tive tanto dinheiro para a inovação porque os juros de financiamento no mundo despencaram, assim como no Brasil. A indústria brasileira viveu uma década muito triste. Há uma oportunidade única, principalmente no Espírito Santo, de virar esse jogo”, aponta.
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