A perda da renda e a falta de confiança de empresários e trabalhadores diante da pandemia do novo coronavírus provocou uma retração brutal do consumo no Espírito Santo, o que deve ser um dos maiores desafios para a retomada da nossa economia. É o que aponta o estudo IPC Maps 2020, realizado anualmente pela IPC Marketing para mapear o potencial de consumo com base em dados oficiais.
As projeções para 2020, antes otimistas, foram afetadas em cheio pelo coronavírus. O estudo calcula que o Estado deve registrar um consumo de R$ 94 bilhões, puxado sobretudo pelas compras das classes B e C na zona urbana.
O total representa uma queda de cerca de 5% do que se havia projetado no início do ano. Em nível nacional, a queda do ano passado para este teve o mesmo percentual, igualando-se aos números de 2010 a 2012.
"Além da renda ter diminuído por conta da crise, a gente nota um aumento do comprometimento da renda com habitação no Espírito Santo, que hoje representa 26% do orçamento das famílias. Isso é um percentual alto. Também cresceram as despesas com veículo próprio diante do impulsionamento dos apps de transporte. Isso tudo pesa no bolso", explicou o diretor da IPC Marketing, Marcos Pazzini.
O coordenador do estudo explica que falta confiança para consumir. "A cabeça das pessoas hoje, trabalhando de casa, com redução salarial e incerteza em relação à manutenção do emprego compromete muito o consumo. Numa hora dessas as pessoas compram apenas o básico".
A queda se reflete nos dados. Entre 2019 e abril de 2020, cerca de 31 mil empresas do setor de comércio e serviços fecharam as portas no Espírito Santo, como aponta o estudo. Até agosto, esse número deve ficar ainda pior, na avaliação do pesquisador.
O estudo foi feito em maio, um dos piores meses de consequências da pandemia na economia. De lá para cá, a reabertura gradual das atividades econômicas e sociais, que tem expectativa de ter flexibilização ampliada entre agosto e setembro, já sinaliza para uma recuperação. Além disso, outro ponto que pode ajudar o Estado a bater as projeções e se recuperar mais rápido é a grande injeção de dinheiro na economia.
Benefícios como o saque emergencial de R$ 1.045 do Fundo de Garantia (FGTS), o abono antecipado do PIS/Pasep, o auxílio emergencial de R$ 600 que hoje contempla diretamente cerca de 1 milhão de pessoas no Estado (cerca de 25% da população capixaba), além de quase mais 1 milhão de forma indireta, por estarem na mesma família , além da injeção de recursos em empresas por meio de crédito facilitado, têm atenuado os impactos do coronavírus na economia do Espírito Santo.
"Isso tem ajudado a queda a não ser maior. A partir de setembro e outubro, devemos ter a economia dando sintomas de fortalecimento mais animadores. Mas voltar ao normal deve demorar, é algo que depende da resolução da pandemia. Acredito que a retomada só virá mesmo a partir do segundo semestre do ano que vem".
A retomada do consumo a níveis anteriores deve ser um dos efeitos de médio e longo prazo do plano estadual para estimular o crescimento da economia, em fase de elaboração pelo governo do Estado com apoio do setor produtivo, visando dar mais competitividade a empresas e, assim, voltar a abrir vagas de emprego no Estado.
"É importante a gente ter estímulos ao consumo e retomada da renda para evitar uma quebradeira ainda maior de empresas. Isso não é simples, mas se tiver vontade dá para fazer tanto no âmbito federal como no estadual, sobretudo olhando os setores mais prejudicados", ressaltou Pazzini.
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