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Conta de luz sobe 16% na Grande Vitória e pode ficar ainda mais cara

Conta de luz sobe 16% na Grande Vitória e pode ficar ainda mais cara

Alta no preço da energia elétrica é provocada pela crise hídrica e agravada pela retomada econômica, que eleva o consumo. Aumento já pesa no bolso das famílias e exige sacrifícios

Publicado em 22 de junho de 2021 às 20:42

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Luz, energia, lâmpada
Conta de luz, que já está cara, pode aumentar ainda mais ao longo do ano. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Com salto de 3,48% apenas no mês de maio, a despesa das famílias com energia elétrica teve alta acumulada de 16,24% nos últimos 12 meses na Grande Vitória, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por conta da crise hídrica que já vem sendo sentida nos principais reservatórios do país, especialistas dizem que não há perspectivas rápidas de melhora no cenário. Pelo contrário. É possível que haja alta nos preços já nos próximos meses. 

Os níveis de água nas represas do Centro-Oeste e do Sul do país estão em 33% da capacidade e os próximos meses não são de chuva.  Diante deste cenário, o presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou que o governo federal fará um "período educativo" de racionamento de energia para evitar uma "crise maior", se referindo a um possível apagão.

O aumento nas contas de luz acontece em um momento de crise provocada pela pandemia de coronavírus em que muitas pessoas perderam o emprego ou tiveram redução na renda. Quem precisa gerir a própria casa não tem tido alternativa senão cortar gastos, muitas vezes com grande sacrifício. A doméstica Aliane Félix, de 31 anos, moradora de Vila Velha, conta que teve que abrir mão do ventilador e está tomando banho frio.

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Minha energia vinha sempre na faixa dos R$ 40 e na última fatura veio R$ 70, e eu não aumentei o uso de nada. A gente sempre usava o chuveiro quente e o ventilador, agora tive que tirar o chuveiro quente e tomar banho gelado, além de deixar de usar o ventilador. Graças a Deus que agora está frio, quando esquentar vai ser ou ligar o ventilador e pagar caro ou ficar no calor

Aliane Félix
Doméstica
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A situação é parecida para o auxiliar operacional Carlos Henrique Sarmento, também morador de Vila Velha. "Percebi que a conta de luz aumentou nos últimos três ou quatro meses. Eu pagava em torno de R$ 160 a R$ 170 e passou a vir entre R$ 191 a R$ 250 nos últimos dois meses. É muita diferença. Os aparelhos que a gente usa são mais os essenciais, como a geladeira, televisão, ventiladores (dois) e a máquina de lavar, que tem ficado mais tempo ligada agora que a família aumentou. São essenciais e não conseguimos abrir mão. A gente vai se virando, tirando as coisas da tomada quando vamos dormir", contou.

O aumento na conta de energia também é bastante perceptível no bolso dos pequenos empresários. Simone Santos, que é dona de um salão de beleza na Mata da Praia, em Vitória, diz que o custo da conta de luz tem afetado diretamente o lucro do negócio.

Em Vitória
Salão na Mata da Praia não pretende repassar custos com aumento da energia para o cliente. (Studio Mata da Praia)

"A maior parte da energia elétrica em um salão vem de custos variáveis, que estão diretamente associados à produtividade. Quanto maior o volume do nosso atendimento, maior o consumo. Dessa forma, o aumento no preço da energia diminui o lucro. Equipamentos como secador de cabelo, chapinha, água quente nos lavatórios, autoclave, ar condicionado, são muito utilizados no nosso segmento durante o atendimento de cada serviço. Um secador de cabelo, por exemplo, fica ligado, em média, por 30 minutos em um atendimento de escova", pontuou.

FALTA DE CHUVA E AUMENTO NO CONSUMO

Para o economista e conselheiro no Conselho Federal de Economia Eduardo Araújo, o aumento no preço da energia se deve sobretudo à escassez de chuvas e problemas climáticos que levaram à redução de reservatórios, exigindo o uso de alternativas mais caras. "Diante da possibilidade de acionamento de mais termelétricas (que têm custos mais elevados), os consumidores acabam sendo prejudicados com bandeiras tarifárias elevadas que impõem custos extras nas contas", afirmou.

Eduardo pontua que o aquecimento da atividade econômica trouxe implicações diretas na alta de custos desse serviço para a população. Isso porque, com mais negócios voltando a funcionar, cresce a demanda por energia elétrica, o que, em um cenário de escassez, faz o preço subir.

O mestre em Energia e professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Nelson Henrique Bertollo Santana, lembra que a última vez que a bandeira tarifária da conta de luz ficou verde foi em novembro de 2020. Em seguida, ela ficou alguns meses na bandeira amarela, indo para a vermelha 1 e , agora, está na bandeira vermelha 2, a mais alta. Nesse caso, são cobrados R$6,24 para cada 100kWh consumidos.

Contudo, segundo apuração do jornal O Globo, esse montante pode subir ainda mais. Estudos da Aneel indicam que o valor da bandeira vermelha 2 vai subir 60% já em julho, para cerca de R$ 10.

Santana afirma que, além da escassez de água, que prejudica a produção de energia, a inflação como um todo faz aumentar os custos das geradoras, transmissoras e distribuidoras de energia, o que também reflete na conta de luz das famílias.

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A Aneel regula o equilíbrio econômico-financeiro deste mercado de energia e deve reajustar as tarifas em função do aumento de custos. O combustível, por exemplo, aumentou, os materiais também. A hidrelétrica tem manutenção, os preços disso também aumentaram. O efeito cascata vai chegar na energia. Isso tudo é também consequência da pandemia, a inflação está chegando não só no Brasil

Nelson Henrique Bertollo Santana
Engenheiro eletricista
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MP DA ELETROBRAS

Soma-se à crise energética a Medida Provisória de privatização da Eletrobras, que, em votação apertada, foi aprovada pelo Senado e pela Câmara. Ocorre que, para viabilizar o apoio da maioria dos senadores, o governo precisou ceder e incluiu mudanças na proposta que não estavam previstas na versão original, por meio de enxertos conhecidos como 'jabutis'.

Com as alterações no texto para viabilizar a desestatização da empresa, a Câmara já havia incluído na proposta, em maio, a contratação de 6 gigawatts (GW) em térmicas a gás nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, e de outros 2 GW em pequenas centrais hidrelétricas. No Senado, essa medida foi ampliada prevendo a contratação de 8 GW. Isso significa geração de energia mais cara, que trará custos adicionais ao consumidor. Além disso, a medida irá exigir investimentos milionários na construção de gasodutos.

Sobre o assunto, o economista Eduardo Araújo, pontua que o projeto aprovado é ruim para o pequeno consumidor. "Isso porque inclui a contratação obrigatória de algumas fontes de energia, como as termelétricas a gás, que são mais caras. A instalação desses empreendimentos exige a construção de gasodutos milionários e de linhas de transmissão para atender interesses de grupos que atuam em algumas regiões específicas do país", afirmou.

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Esse tipo de lobby amplia o privilégio dos grupos privados da área de energia e implica em uma socialização de perdas para a população. O resultado deve repercutir em contas de energia mais caras para os consumidores

Eduardo Araújo
Economista
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Por outro lado, para o engenheiro Nelson Henrique Bertollo Santana, a privatização da Eletrobras pode ser vista como algo positivo. "No meu ponto de vista, a privatização de empresas do setor elétrico pode ser benéfica, principalmente por termos órgãos reguladores muito fortes, como a Aneel e a ANP, o que permite que a iniciativa privada entre no nosso mercado e que agências reguladoras introduzam algum equilíbrio. A tendência é que em longo prazo estas empresas privadas tragam a redução da tarifa", concluiu.

O governo federal espera que a desestatização da Eletrobras reduza, no fim das contas, a conta de energia.  Os cálculos do Ministério de Minas e Energia estimam diminuição de até 7,36% nas tarifas praticadas atualmente.

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