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Cooperativa mirim no ES ensina alunos a comandar negócios

Cooperativa mirim no ES ensina alunos a comandar negócios

Instituição de ensino de Santa Maria de Jetibá é a primeira no Espírito Santo a adotar programa escolar cooperativista

Publicado em 9 de outubro de 2024 às 10:10

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Escola Cooperação, em Santa Maria de Jetibá
Escola Cooperação, em Santa Maria de Jetibá. (Fernando Madeira)
Mariana Bernardino
Estagiária / [email protected]

Gusttavo Holz, de 12 anos, e Arthur Fiorotti, de 14 anos, são presidente e vice-presidente da Cooper Jetibá, uma cooperativa mirim onde aprendem, desde cedo, como funciona um negócio e a importância de trabalhar em equipe para fazer o bem a quem precisa.

O empreendimento é formado por alunos da mesma faixa etária para a produção de cookies e funciona dentro da Escola Cooperação de Santa Maria de Jetibá, na Região Serrana do Espírito Santo. A instituição de ensino é a primeira do Estado a adotar o programa, desenvolvido pelo Instituto Sicoob em parceria com o Sistema OCB/ES, para levar os valores do cooperativismo para os mais jovens.

A proposta é expandir o modelo para outros colégios públicos e particulares. Na Cooper Jetibá, alunos do 6º ao 9º anos aprendem como operar uma cooperativa e são divididos em cargos, como conselheiro, tesoureiro e gerente de produção.

As crianças e adolescentes envolvidas no projeto também definem como vão administrar o dinheiro arrecadado com as vendas. O processo de produção dos cookies e a comercialização são feitos dentro da escola. Parte do faturamento é destinada, muitas vezes, para ações sociais.

O diretor-geral da cooperativa educacional, Charles Netto, aponta a importância da cooperativa mirim para as crianças. “A Cooper Jetibá proporciona o desenvolvimento e a propagação da cultura cooperativa entre os alunos que, naturalmente, serão aqueles que sucederão os pais ou os cooperados em outras cooperativas.”

A professora Elisangela Lemke é a coordenadora da cooperativa mirim. Educadora desde os 19 anos, identificou-se muito com a escola e se apaixonou por esse modelo de negócio. “Desenvolvemos o protagonismo dos alunos, a responsabilidade e oficinas de contabilidade. Todo o ensinamento é dividido de acordo com a idade”, explica, ao acrescentar que o programa não é obrigatório.

Gusttavo, como presidente da Cooper Jetibá, auxilia os outros cooperados e corre atrás de novos projetos. “Eu gosto de todas as atividades, principalmente das ações solidárias que fazemos e, atualmente, estamos pensando em coleta de óleo para uma empresa de Vitória para reaproveitamento.”

Arthur tem papel semelhante e fez parte da tesouraria no 6° ano. Ele afirma que está satisfeito com o que produzem e com apoio que recebe dos monitores.

A especialista administrativa Suely Kurth, que coordena os projetos sociais do Sicoob, inclusive a cooperativa mirim, explica que, antes de a escola aceitar o programa, são dadas orientações. “É feito um estudo, passo a passo, quais são os cargos, qual a função de cada cargo, quem se identifica com aquilo, e vai vivenciando, como se a gente estivesse formando uma cooperativa normal mesmo, eles formam o estatuto deles, eles têm os próprios cargos estabelecidos”, afirma Suely.

Ações sociais

Além de vender os biscoitos, os alunos mobilizam familiares e amigos para atividades solidárias. Os cooperados, por exemplo, promoveram a arrecadação de meia tonelada de alimentos e agasalhos para as vítimas da inundação em Mimoso do Sul.

Após isso, aconteceu a tragédia do Rio Grande do Sul, porém os minicooperados decidiram ajudar de forma diferente. Com a venda dos cookies, o valor foi revertido para a compra de materiais escolares para as crianças e adolescentes vítimas da enchente.

“A escola carrega os princípios cooperativistas e isso é ensinado desde o primeiro aninho para os alunos, que são treinados a pensar humano e a ter empatia. Foi uma emoção muito grande ver nossos alunos de 12, 13 e 14 anos cultivando os valores que fazem a diferença”, destaca o diretor, Charles Netto.

Escola Cooperação, em Santa Maria de Jetibá(Fernando Madeira)

História

A escola Cooperação de Santa Maria de Jetibá foi criada por pais cooperados da Nater Coop e do Sicoob. Tudo nasceu de um desejo comum de oferecer uma educação que fosse além do conteúdo tradicional. Esses pais queriam ver seus filhos aprendendo sobre algo que muitos adultos ainda não conhecem bem: a cooperação.

A instituição é pautada pelos sete princípios cooperativistas: adesão voluntária, gestão democrática, participação econômica, autonomia e independência, educação, formação e informação, intercooperação e interesse pela comunidade. A colaboração, a responsabilidade, e o empreendedorismo também são algumas das abordagens tratadas na cooperativa educacional, através do aprendizado.

Ao todo são 115 pais filiados à escola. Cada um tem total participação de todos os projetos e acompanham o rendimento escolar dos filhos. Os responsáveis elaboram reuniões, assembleias e conselhos para definir o futuro da escola. Um dos planos é a educação bilíngue, além de possíveis projetos gratuitos para ajudar a comunidade local.

“A escola tem como propósito fornecer uma educação de qualidade para os nossos cooperados. Então, ela é singular porque são os pais que comandam e gerenciam a escola, trazendo os princípios, as vocações que eles acham que são interessantes”, observa Charles Netto, ao apontar ainda que a Cooperação deixará de ser conteudista para se tornar uma escola com foco no protagonismo do aluno.

O diretor afirma que, a partir do ano que vem, a inteligência artificial será incorporada nas atividades escolares. “Adotaremos computadores e laptops na sala de aula. Conseguiremos vivenciar projetos, museus, de forma on-line, que enriqueçam cada vez mais o currículo da escola. Além disso, nós nos tornaremos também uma escola bilíngue.”

Fredy Holz, pai de Gusttavo, sente muito orgulho do filho. “Ele na função de presidente da cooperativa mirim ganhou responsabilidade e melhorou a comunicação.”

Carlos Fiorotti, pai do Arthur, revela o benefício de acompanhar o progresso do filho na cooperativa. “Matriculei meu filho em 2017, hoje faço parte do conselho da escola e participo das reuniões. Meu filho é um adolescente responsável e compromissado. O que mais me impressiona na escola Cooperação é a presença da confiabilidade entre os cooperados”.

Com a iniciativa dos pais a escola desenvolve projetos com os princípios cooperativistas. A cooperativa educacional, Cooperação, vai deixar de ser uma escola conteudista para se tornar uma escola que será com foco no protagonismo do aluno. O diretor afirma que a partir do ano que vem, será adotada inteligência artificial dentro da educação, deixando de ser uma escola tradicional.

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