Em resposta à crise de demanda provocada pelo avanço do novo coronavírus no país, as três maiores companhias áreas do Brasil anunciaram medidas de ajuste na oferta de voos e destinos. Com ações em queda e o temor de prejuízos que provoquem uma quebradeira no setor, Azul, Gol e Latam suspenderam alguns voos e até cancelaram provisoriamente a operação em algumas bases.
Até segunda (16), nenhuma delas havia confirmado se rotas para o Aeroporto de Vitória serão afetadas no momento. Mas só nesta terça-feira (17), sete voos haviam sido cancelados no Eurico de Aguiar Salles até às 18h.
A Azul comunicou ao mercado nesta segunda-feira (16) a redução da capacidade em voos e a suspensão de todas as suas rotas internacionais, exceto os voos que partem do Aeroporto de Viracopos, em Campinas.
A companhia decidiu reduzir a oferta de assentos domésticos e internacionais de 20% a 25% no mês de março, e entre 35% a 50% em abril e meses seguintes, até que a situação se normalize.
A aérea brasileira informou que suspenderá totalmente as operações entre 23 de março e 30 de junho nos aeroportos regionais de Lages (SC), Pato Branco (PR), Toledo (PR), Ponta Grossa (PR), Guarapuava (PR), Araxá (MG), Valença (BA), Feira de Santana (BA), Paulo Afonso (BA) e Parnaíba (PI). Já a partir de 21 de março a empresa deixará de operar voos para Bariloche.
De acordo com a Azul, todos os clientes impactados pelas alterações serão contactados e reacomodados em outros voos. A companhia também já havia adiado para setembro o início das suas operações para Nova York, antes previsto para junho.
A Latam Airlines, grupo que concentra operações em Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Peru, informou que vai reduzir sua capacidade em 70%, dos quais 90% são uma redução nas operações internacionais e 40% correspondem a voos domésticos.
O grupo informou que todos os passageiros que possuem voos nacionais ou internacionais afetados, e que viajam a partir desta segunda podem reagendar seu voo gratuitamente até 31 de dezembro de 2020.
Tomamos essa decisão complexa devido à impossibilidade de voar para grande parte de nossos destinos devido ao fechamento de fronteiras. Se as restrições de viagens sem precedentes forem estendidas nos próximos dias, não descartamos sermos forçados a reduzir ainda mais nossas operações , disse Roberto Alvo, atual vice-presidente de negócios e próximo CEO da Latam.
O executivo pediu apoio dos governos às companhias e classificou essa como a maior crise da história do setor. Estamos trabalhando para garantir a sustentabilidade a longo prazo do grupo e proteger os empregos dos 43 mil funcionários da Latam. É por isso que vamos exigir o apoio dos governos para superar a maior crise da história nos setores de turismo e aviação civil.
A Gol já havia comunicado que sua malha passaria por ajustes. À reportagem de A Gazeta, a empresa informou que as alterações são constantes e "visam garantir o equilíbrio entre o novo cenário de demanda e a qualidade e amplitude da nossa malha aérea". Até esta segunda, não houve cancelamento ou suspensão de voos em Vitória.
A companhia diz estar atenta e que segue recomendações do órgão sanitário para tomar todas as medidas cabíveis para proteger os passageiros.
Com a crise, a companhia está flexibilizando poli?ticas de remarcac?a?o e cancelamento de viagens nacionais e internacionais, em seus voos operados ou em conexa?o com companhias parceiras. A companhia tem dado três opções aos clientes: cancelamento e crédito; remarcação de voo; ou cancelamento e reembolso integral da passagem.
O temor do setor aéreo pode ser notado no mercado financeiro. Das quatro ações com maiores baixas na bolsa de valores brasileira nesta segunda, só uma não é ligada ao setor, mas também relacionada ao turismo.
Os piores desempenhos foram da Azul (-36%), do programa de milhas Smiles (-31%), da agência de viagens CVC (-31%) e da Gol (-28%). A Latam, listada na bolsa de Nova York, caiu 28,4%.
Pelo mundo, outras grandes companhias também têm sofrido com a crise provocada pelo coronavírus. A American Airlines suspendeu todos os voos para o Brasil. A Delta reduziu 40% de sua capacidade operacional. E a Air France-KLM já divulgou que vai cortar até 2 mil empregos diante da redução de rotas.
Além da redução de voos, evitando a operação com aeronaves quase vazias, as companhias devem adotar medidas ainda mais duras para evitar o comprometimento do caixa.
A Azul, por exemplo, já anunciou diversas medidas para reduzir o custo fixo de suas operações, que representa em torno de 40% do total de custos e despesas operacionais da companhia.
Entre as medidas adotadas, a empresa reduziu em 25% o salário dos membros do comitê executivo até a normalização da situação, suspendeu novas contratações, adiou o pagamento referente à participação nos lucros e resultados de 2019, suspendeu a entrega de novas aeronaves, além de viagens a trabalho e despesas discricionárias e estacionamento de aeronaves. Aliado a isso, seu programa de licença não remunerada da companhia já registra 600 pedidos aprovados até o momento.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou que o governo buscará uma solução para as empresas aéreas afetadas pelos impactos do coronavírus no mundo. O chefe do Planalto citou, porém, que o setor público não tem recurso para liberar "bilhões" a segmentos específicos.
"Vamos agir na questão das áreas, que estão perdendo clientes, vamos deixar quebrar ou vamos apresentar uma alternativa? No meu entender, quebrar é a pior alternativa que existe", disse Bolsonaro em entrevista à Rádio Bandeirantes.
"Nós não seremos omissos aos reclames da sociedade. A nossa preocupação existe. Agora, nossa economia não é a americana que o Trump anuncia bilhões, bilhões e bilhões de dólares para socorrer esse ou aquele setor. Não temos recursos para isso", afirmou Bolsonaro.
A área técnica do governo estuda oferecer às empresas aéreas um mecanismo de adiamento do pagamento de tributos - uma espécie de "waiver". Além disso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, recomendou que as companhias do segmento busquem linhas de crédito disponíveis.
* Com informações de agências
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