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Coronavírus: peças para indústria e até roupas podem faltar no ES

Coronavírus: peças para indústria e até roupas podem faltar no ES

Indústrias do setor têxtil no Estado já sofrem com atrasos na entrega de mercadorias chinesas. Crise provocada pelo vírus, por outro lado, pode representar oportunidade para algumas empresas

Publicado em 4 de março de 2020 às 12:59

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Há chance para marcas locais que competem com empresas chinesas, como as indústrias têxteis, de plásticos e de brinquedos. (Arquivo)

A epidemia mundial do novo coronavírus (Covid-19) já começa a ter sérios reflexos na indústria brasileira. Ao passo que navios da China estão deixando de embarcar com mercadorias para o Brasil, por aqui fábricas de eletrônicos e montadoras de veículos começam a sentir a falta de peças chinesas, provocando a paralisação parcial de plantas e até concessão de férias coletivas.

No caso do Espírito Santo, ainda não há registros desse tipo de impacto. Mas já há algum temor. Isso porque a maior parte das importações capixabas vêm da China e atendem a diferentes setores: de produtos para o comércio a peças e insumos para fábricas.

Segundo informações do jornal "Folha de S. Paulo", neste momento 28 navios deveriam estar vindo da China abarrotados de mercadorias para os portos brasileiros. Porém, nove deles nem sequer zarparam. Já os outros 19 trazem um volume muito menor de carga. 

A Gazeta apurou que nenhum desses navios tem como destino os portos capixabas, ao menos diretamente. A maioria vai para os portos de Santos e do Rio de Janeiro. Via cabotagem, parte dessas mercadorias poderia desembarcar aqui.

Se esse cenário de queda nas importações se intensificar, os impactos na economia local devem ser grandes. No comércio, produtos de vestuário, brinquedos e bugigangas "made in China" devem ficar em falta.

Com isso, podem faltar produtos desde o comércio de rua até em lojas de departamento de shoppings centers, já que, no caso de roupas, muitas marcas de grife terceirizam a produção através de fábricas chinesas.

Para o diretor da Federação do Comércio do Espírito Santo (Fecomércio-ES) José Carlos Bergamin, lojistas devem ter dificuldades com alguns produtos de varejo. 

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Algumas lojas têm uma grande quantidade de produtos 'made in China', que não é gênero de primeira necessidade, mas são produtos em grande quantidade. São produtos que não chegam diretamente dos portos daqui, mas que vêm, sim da China. O impacto vai depender do estoque, de quanto tempo consegue ficar sem receber mercadoria

José Carlos Bergamin
Diretor da Fecomércio e presidente da Câmara da Indústria do Vestuário da Findes
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Na projeção de Bergamin, será nesta semana que as redes de lojas e magazines vão avaliar planos de contingência. "Como passou o carnaval e agora temos os primeiros casos no Brasil, acredito que será uma semana determinante para as empresas fazerem planos diante desse cenário, tanto de impactos quanto de oportunidades".

INDÚSTRIA JÁ SOFRE COM ATRASOS EM ENTREGAS DA CHINA

O setor têxtil, aliás, já sofre impactos da epidemia de coronavírus na produção. Segundo Bergamin, que também é presidente da Câmara Setorial da Indústria do Vestuário da Findes, entregas de mercadorias como fios e tecidos sintéticos vindos da China têm atrasado.

"A indústria têxtil do Espírito Santo é muito abastecida pela China no caso dos produtos sintéticos. O Espírito Santo é o principal porto que recebe isso e aqui estão os grandes distribuidores de têxteis no Brasil todo. Esse atraso então, se continuar, preocupa bastante", explica.

Apesar de atrasos pontuais, ainda não há relato de nenhuma indústria capixaba que já sofra com falta de insumos. Segundo Durval Vieira de Freitas, do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Findes, "certamente vamos sofrer" com a possível escassez de matéria-prima, mas é impossível prever em que grau.

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Nós (Findes) não tivemos nenhuma notícia ainda nesse sentido, mas nós certamente vamos sofrer. Em que setores isso se dará e em que grau vai depender de como a situação seguirá. A gente tem que ter cautela nesses momentos, mas as decisões não podem ser demoradas

Durval Vieira de Freitas
Coordenador do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Findes
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No Boletim Econômico Capixaba divulgado na sexta-feira (28) pelo Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo (Ideies), entidade do Sistema Findes, a avaliação é de que "ainda é difícil dimensionar os impactos futuros para a economia mundial, apesar de ser cada vez mais claro que eles existirão e que terão relevância".

Um dos setores mais temerosos no Espírito Santo é o farmacêutico. Conforme publicou a colunista de Economia de A Gazeta Beatriz Seixas, a China é a principal fornecedora de insumos na fabricação de medicamentos no Estado. No caso de alguns compostos, os chineses fornecem até 70% da matéria-prima para companhias brasileiras.

O impacto vai depender do estoque de laboratórios, mas, dependendo do prologamento dessa situação, alguns medicamentos podem até ficar mais caros.

Entre indústrias capixabas, há ainda a preocupação com a importação de peças e equipamentos para o setor metalmecânico e de insumos para a produção de cosméticos. Já no país, o maior temor é a paralisação em fábricas de produtos eletrônicos como as da Zona Franca Manaus.

PARA ALGUNS SETORES, CRISE ABRE JANELA DE OPORTUNIDADES

Se para alguns setores e empresas a crise chinesa provocada pelo novo coronavírus pode trazer sérios prejuízos, há quem veja uma janela de oportunidades se abrindo. Alguns setores da economia devem se dar bem com a redução da produção industrial chinesa e, com isso, ganhar mercado, produzir mais e aumentar lucros.

Produtores de carne podem ampliar as exportações para o país diante das limitações no transporte de animais por conta do vírus. Já no mercado nacional, haverá chance para marcas que competem com empresas chinesas, como as indústrias têxteis, de plásticos e de brinquedos.

"O setor têxtil tem uma oportunidade espetacular. Esses produtos da China ficando mais caros ou um pouco retidos, é uma oportunidade do mercado local reagir e oferecer isso para suprir o mercado nacional. A gente tem tudo aqui dentro. Talvez não tenhamos tanto fio de poliéster, mas tem fio de algodão", afirma José Carlos Bergamin, que ainda lembra:

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Além disso tudo, cada vez mais as empresas estão vendo que a China está 'quarteirizando' a produção. Então pela preocupação de ver a marca se contaminando com casos de contaminação do meio ambiente e até trabalho escravo, acreditamos que as empresas vão optar mais pelas indústrias têxteis nacionais

José Carlos Bergamin
Diretor da Fecomércio e presidente da Câmara da Indústria do Vestuário da Findes
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A Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) diz ver uma oportunidade para fábricas brasileiras, uma vez que as unidades da China precisam estar plenamente recuperadas até abril para atenderem ao aumenta da demanda provocado pelo Dia da Criança, em outubro.

No Brasil, as companhias têm capacidade instalada para suprir a demanda. Hoje, segundo a associação, os brinquedos chineses correspondem a 48% do que é vendido no país.

Já a Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), diz que dobrou a procura por utensílios descartáveis no último mês –como pratos, talheres e copos –, além de itens médicos fabricados em plástico como seringas, bolsas de soro e vestimentas.

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