Pouco mais de um mês após o desabamento de duas caixas-d’água no Residencial São Roque, no bairro Padre Gabriel, em Cariacica, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES) aplicou seis multas na empresa paulista responsável pela produção das estruturas.
Segundo informações divulgadas pelo Crea nesta terça-feira (2), a Carmaço Reservatórios recebeu seis autos de infração em função de não possuir visto no conselho e por ter realizado projetos como os de instalação elétrica, hidráulica e estrutural sem as anotações de Responsabilidade Técnica (RT). As multas somam, no total, R$ 14.077,98.
No último sábado (30), o conselho havia informado que "erros gritantes" na fabricação das caixas-d'água podem ter provocado a queda dos reservatórios. O acidente resultou na morte de um trabalhador.
"A construção dos imóveis é de excelente qualidade. No entanto, o grande problema que houve aqui está diretamente ligado ao projeto executivo das caixas d'água, feito pela empresa de São Paulo", afirmou na ocasião o presidente do Crea-ES, Jorge Silva.
Ele esclareceu que houve erro de fabricação e falhas técnicas, não respeitando as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).“Há problemas de espessura, de material, da qualidade do aço que foi utilizado. São erros gritantes".
Durante entrevista concedida no residencial no sábado, o presidente do Crea-ES disse que variantes meteorológicas, como rajadas de vento, também podem ter contribuído para as quedas.
Na data, Jorge Silva já havia adiantado que a empresa seria punida pelo conselho, e afirmou ainda que a Carmaço pode ter que responder na Justiça pelo desabamento.
"Não se pode admitir que uma empresa de São Paulo, que está atuando no Espírito Santo há mais de dois anos, não tem um visto aqui. As anotações de responsabilidade técnica dela só foram feitas e entregues agora. Então, tem vários erros", disse Silva.
O presidente do Crea-ES listou as autuações que serão emitidas para a Carmaço Reservatórios. Entre elas, negligência no prazo do envio de documentos, uso indevido de materiais, e falhas graves nos projetos executivo e estrutural.
“Primeiro, por questão de negligência, com relação a mandar os documentos no prazo determinado. Segundo, porque as anotações de responsabilidade técnica foram de regularização e não previamente emitidas. Terceiro com relação aos usos indevidos de materiais que poderiam ser feitos pela ABNT. Quarto, porque não tem registro no CREA do Espírito Santo; e quinto porque, de fato, nós concluímos que o projeto executivo e de fabricação possui falhas grave, que poderiam, podem ou causaram esse grande acidente. Isso aí só vamos concluir nos próximos 15 dias”, destacou.
Além disso, Jorge Silva afirmou que a empresa será proibida de atuar no Estado. "Ela vai ser proibida, de imediato, de atuar no Espírito Santo", completou.
A reportagem de A Gazeta tenta, desde a semana passada, contato com a Carmaço Reservatórios sobre as possíveis causas do desabamento. No sábado, a empresa foi novamente acionada apara comentar as afirmações do presidente do Crea quanto ao laudo prévio.
Nesta terça, A Gazeta buscou mais uma vez a empresa para se posicionar a respeito das multas aplicadas pelo Crea-ES, mas não houve retorno até a conclusão desta reportagem, que será atualizada quando for enviada uma resposta.
As informações prestadas pelo Crea-ES ainda são parciais. No sábado, o órgão informou que o relatório final sobre a queda das caixas d'água será divulgado dentro de duas semanas.
O empreendimento residencial foi inaugurado no dia 14 de dezembro, após quase três anos em obras, e custou mais de R$ 40 milhões. Na ocasião, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, esteve no Estado para a cerimônia.
Os proprietários dos apartamentos são pessoas de baixa renda que se enquadram na Faixa 1 do Programa Minha Casa Minha Vida, que é composta por famílias mais carentes, que possuem renda mensal de até R$ 1,8 mil. No total, 496 famílias moram nos residenciais São Roque I e II.
Duas semanas depois da inauguração, no dia 30, duas caixas d'água desabaram, sendo que uma delas atingiu o teto e o quinto andar de um dos edifícios. Um homem que realizava serviços em uma das caixas d'água no momento do acidente ficou ferido e morreu no dia seguinte.
A previsão da Cobra Engenharia, responsável pela construção do residencial, é de que a reconstrução das unidades atingidas seja concluída em 12 de fevereiro. Até lá, as 20 famílias devem permanecer fora de casa.
*Com informações de Jose Carlos Schaeffer
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