Mais de 23 mil famílias no Espírito Santo passaram a utilizar lenha ou carvão para preparar alimentos em 2019. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Domicílios Contínua (Pnad-C) do IBGE, divulgada no último dia 6, o número de domicílios que usam esse método para cozinhar foi de 153 mil (10,9% do total) para 176 mil (12,4% do total) entre 2018 e 2019.
Enquanto parte dessas famílias, principalmente na área rural, escolhe cozinhar com lenha, mesmo tendo acesso a meios alternativos, outra parte o faz por falta de opção. Como não há registro de aumento da população rural, o crescimento no uso desse método mais rudimentar de preparar alimentos pode significar um empobrecimento da população.
Segundo o pesquisador e diretor do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) Pablo Lira, nem todos esses domicílios são pobres. Contudo, parte deles reflete o aumento dos grupos de maior vulnerabilidade social, no campo principalmente nas regiões Noroeste, Central e Extremo Norte e também nas cidades.
A Pnad mostra que, em Vitória, o número de famílias que cozinhavam com lenha ou carvão dobrou em um ano, indo de 2 mil para 4 mil entre 2018 e 2019.
"Vitória é o município mais urbanizado do Estado e um dos mais urbanizados do país. Nesse caso, são famílias que não têm condições de ter e manter um fogão a gás em casa", diz.
O tipo de combustível utilizado na preparação de alimentos é um dos critérios utilizados pelo Banco Mundial para avaliar os níveis de renda de diferentes populações. Pela escala da instituição, a utilização de lenha ou carvão para cozinhar é uma característica do grupo de renda mais baixa, ou seja, da parcela mais pobre da população mundial.
"É consequência do próprio momento que vive o nosso país. Economistas apontam que vivemos entre 2011 a 2020 a segunda década perdida em 40 anos. Em 2018 e 2019, a economia estava um pouco melhor, mas a taxa de desemprego ainda era alta, o que impacta nos domicílios rurais e urbanos", afirma Lira.
O prognóstico para os próximos meses não é positivo. A pandemia do novo coronavírus e a crise mundial desencadeada por ela pesarão, novamente, sobre os mais pobres.
Alguns efeitos já começam a ser sentidos. As medidas de isolamento fizeram com que mais famílias cozinhassem em casa, aumentando a demanda por gás de cozinha. Isso provocou um desabastecimento e, com menos produto no mercado, os preços foram nas alturas.
Na Grande Vitória, os preços beiraram os R$ 80 em abril deste ano. O botijão era vendido por R$ 65, em média, em dezembro de 2019.
Organizações que atuam nas comunidades de Serra e Vila Velha relatam que muitos moradores já não conseguem mais comprar o produto. É o caso dos autônomos, como vendedores ambulantes, faxineiras, manicures, que, por conta da quarentena, deixaram de trabalhar e estão sem renda.
"A gente tem um desdobramento no emprego, na atividade comercial, na prestação de serviços e a renda tende a cair. É um encadeamento de impactos que atingem de forma mais intensa as famílias mais vulneráveis de ponto de vista social e econômico", avalia o especialista.
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