Precisamos criar um ciclo virtuoso para a economia que traga a confiança necessária para permitir abrir nossos mercados para o comércio internacional, estimulando a competição, a produtividade e a eficácia, sem o viés ideológico. Em seu discurso de posse, no primeiro dia de 2019, o presidente Jair Bolsonaro se comprometeu a trabalhar para o crescimento econômico, tão esperado pelos brasileiros e principalmente pelos mais de 13 milhões de desempregados inseridos em uma crise que parecia longe do fim.
Para especialistas, contudo, o próprio presidente tem sido o elo fraco na corrente que tenta erguer a economia do país. Eles afirmam que as numerosas declarações desastradas do chefe do Executivo nacional têm enviado um péssimo sinal aos investidores.
O economista e professor da FGV, Mauro Rochlin, usa como exemplo as declarações feitas por Bolsonaro em agosto deste ano, quando as queimadas na Amazônia atingiram níveis preocupantes. A questão do meio ambiente é nevrálgica hoje. É um tema sensível não só para os policymakers, mas para a opinião pública de modo geral. Dá a entender que o país não está empenhado e emite péssimo sinal ao mercado, afirma.
Na ocasião, o Nordea, maior banco dos países nórdicos, afirmou que decidiu suspender as compras de títulos do governo brasileiro, devido à preocupação com as respostas de Jair Bolsonaro dadas à questão, consideradas insuficientes e tardias.
A opinião é compartilhada pelo também economista Ricardo Balistiero. Para ele, essas e outras atitudes do presidente trazem danos à imagem do país todo. Sempre fomos referência em proteção ambiental e hoje somos bastante criticados.
No momento em que o meio ambiente tem papel de destaque na agenda mundial e nas empresas, que prezam muito a questão da responsabilidade ambiental, é um pouco ingênuo julgar que atitudes e posturas que não são de defesa do meio ambiente não podem acabar tendo consequências indesejáveis para nós, completa.
Ele avalia que a imagem do país acabou arranhada no exterior por conta de uma agenda considerada autoritária. Bolsonaro governa por tensão. Diz e faz coisas estapafúrdias e replicadas pelos ministros que fazem parte de um núcleo que parece que está desconectado da realidade do mundo. Não é grupo que inspira confiança, nem das elites brasileiras, nem internacionais quando pensamos na retomada econômica, diz.
Reportagem publicada este mês no Financial Times, uma influente publicação da área econômica, apontou que os estrangeiros têm abandonado as ações brasileiras em ritmo recorde este ano. No total, eles retiraram R$ 15,2 bilhões (US $ 3,7 bilhões) das bolsas de valores do país em 2019.
Os motivos apontados no texto são a falta de confiança no crescimento econômico para os próximos meses e a agenda conservadora da administração federal. Apesar da saída dos investidores estrangeiros, o mercado de capitais brasileiro tem batido recordes graças ao investimento dos brasileiros que abandonaram a renda fixa por conta da baixa taxa de juros.
O ceticismo em relação ao crescimento econômico para o próximo ano também é o sentimento de Balistiero. Ele admite que o presidente fez algumas entregas importantes como a reforma da Previdência, a medida provisória da liberdade econômica e a liberação do saque do FGTS, que trouxeram um certo "respiro" à economia.
No entanto, o economista acredita que será muito difícil seguir o ritmo de reformas necessárias para o avanço da pauta econômica brasileira em 2020. O presidente está sem partido e vai ter que testar a força da nova sigla que ele pretende criar; ele deve perder um pouco mais de apoio no Congresso; membros da família Bolsonaro estão em plena investigação. Além disso, 2020 é ano de eleição. Após os primeiros meses, já não se vota mais nada de relevante, analisa.
Rochlin é um pouco mais otimista e avalia que o crescimento do país deve continuar acontecendo, mesmo em um ritmo lento. Julgo que o crescimento não vai pegar no tranco e, sim, acontecer de maneira paulatina. O crescimento este ano está estimado em 1%. Ano que vem, pode ser superior a 2%. Se em mais dois anos se aproximar a 3% o ambiente e expectativas de empresas vai se alterar substancialmente, diz, salientando que os próximos seis meses serão decisivos para a confirmação, ou não, dessa tendência.
Na opinião do economista, o melhor que Bolsonaro pode fazer para contribuir para essa aceleração econômica é não atrapalhar. Não pode fazer declarações que contribuam para ambiente de negócios conturbado, não pode criar animosidades ou hostilidades com outros países, ou setores econômicos e sociais no país. Isso não contribui em nada, sugere.
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