Tô desempregado. Será que vou conseguir trabalho? A dúvida se repete entre mais de 246,8 mil pessoas no Espírito Santo e de 13,1 milhões em todo o Brasil. A redução da atividade econômica agravou o quadro de desemprego no país, tornando as perspectivas de retomada cada vez mais cautelosas. O cenário é ainda mais preocupante porque as pessoas que mais precisarão de emprego são as com menor grau de qualificação.
Segundo especialistas, o desafio de ter vagas suficientes para liquidar o rastro de destruição do emprego dos últimos anos, acentuado durante a pandemia do novo coronavírus, é muito grande. Além disso, a falta de trabalho disparou entre os informais e as pessoas de menor renda, engrossando assim as estatísticas de pobreza.
Para se ter uma ideia, a taxa de desocupação no Espírito Santo passou de 9,6%, em maio, para 12,6%, em agosto. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad-Covid), realizada pelo IBGE, apontam ainda que o total de pessoas desocupadas no Estado cresceu em 58,3 mil entre maio e agosto deste ano.
Já no país, em agosto, a taxa de desocupação ficou em 13,7% e passou para 14,4% na última semana de setembro, segundo a Pnad Covid semanal do IBGE, com a redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que ela deve oscilar entre 17% e 19% no início do ano de 2021, podendo passar de 20 milhões o número de desempregados.
Sem trabalho, o porteiro Manoel da Rocha Coutinho Junior, aos 60 anos, faz parte dessa triste estatística. Neste mês, ele recebeu a quinta e última parcela do seu seguro-desemprego. A partir de novembro, já não sabe como será.
Apesar de não pagar aluguel, tem água, luz e alimentação como despesas. O seguro que recebeu é de um salário mínimo, um pouco menor do que era o seu salário como porteiro. Quero voltar a trabalhar, mas isso só deve acontecer em 2021, já que o movimento na escola ainda é muito pequeno, diz.
As previsões de geração de empregos pessimistas não se devem apenas à crise causada pela Covid-19. De acordo com o diretor do Centro de Excelência contra a Fome do WFP, programa mundial de alimentação da ONU, Daniel Balaban, o desenvolvimento tecnológico vem sendo um dos propulsores do extermínio de postos de trabalho em todo o mundo.
O especialista ainda aponta que um grande número de empresas não vai voltar ao patamar de empregos que tinha antes da crise atual. Os efeitos econômicos serão extremamente fortes e, por isso, haverá necessidade de políticas públicas para amenizar a situação dos mais vulneráveis, afirma.
Soma-se a isso ainda o fato de que, a partir do próximo ano, cerca de 31.824 empresas que participaram neste ano do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) - que suspendia contratos ou reduzia jornadas e salários - estarão livres do prazo de carência para realizar demissões. Essas dispensas devem seguir o ritmo da economia nacional. Assim, quanto menos aquecida, maior será o número de desligamentos.
O economista e mestre em Planejamento e Políticas Públicas Wallace Millis explica que, para que a retomada do emprego aconteça, é preciso que haja ações concretas por parte do governo. Ela aponta que, dentre elas, estão aumentar a liberdade econômica, desburocratizar a abertura, o funcionamento e até mesmo o fechamento de empresas, facilitar o acesso ao crédito e também estabelecer condições de recuperação judicial que protejam a capacidade de empregar e salvar os postos de trabalho durante o processo.
De acordo com o professor do Departamento de Economia da Ufes e doutor em Desenvolvimento Econômico Rafael Moraes, pobreza e baixa qualificação profissional andam juntas. Ele aponta que, geralmente, pessoas oriundas de famílias mais pobres têm menos condições de avançar na qualificação, pois, geralmente, começam a trabalhar muito cedo em ocupações precárias e mal remuneradas.
Ainda que a educação sozinha não seja capaz de resolver o problema da pobreza, garantir condições para que todos tenham acesso e condições de avançar na formação, inclusive ingressando em uma universidade, é um caminho para minorar o problema, afirma.
Quanto maior o grau de educação, mais elevada tende a ser a remuneração recebida pelo profissional. De acordo com dados da Pnad-C do IBGE, do primeiro trimestre de 2020, no Estado, enquanto um trabalhador com menos de um ano de estudo recebe, em média, R$ 1.055 por mês, o salário daquele que tem o ensino médio completo é de R$ 1.784. Já no caso de quem tem curso superior, a remuneração salta para R$ 4.336.
A estudante do segundo período do curso de Publicidade e Propaganda Maria Luiza Araújo Durães, 21 anos, por exemplo, foi demitida da construtora em que trabalhava logo no início da pandemia, em março. Em abril, a moradora de Vila Velha deu entrada no pedido de auxílio, e vem usando o valor para pagar a faculdade desde então. A mensalidade gira em torno de R$ 460.
É uma ajuda bem-vinda. Mas, com a redução do auxílio, ainda não sei como vou fazer para pagar. Devo receber a primeira parcela reduzida nos próximos dias, e tenho medo de pensar como vai ser depois, relata.
Ainda de acordo com ela, os pais são separados e ela reveza entre morar com um e com outro. Minha mãe é aposentada, e eu tive um problema de saúde há um tempo, que fez com que os gastos com saúde aumentassem muito, então meu pai está pagando. Além disso, eles já têm as próprias despesas. Pagar a faculdade é minha responsabilidade", desabafa.
Para Maria Luiza, com a redução do valor do auxílio de R$ 600 para R$ 300 a situação se complica, mas com a eventual suspensão, sequer tem perspectivas de como fará para continuar o curso.
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