Atualização: Esta matéria foi publicada, inicialmente, em 30 de julho, após o Banco Central anunciar que lançaria a nova nota de R$ 200. Nesta quarta-feira (2/9), algumas palavras foram atualizadas, pois a cédula entrou em circulação.
A "Família Real" ganhou uma nova integrante nesta quarta-feira (2): a nota de R$ 200. Mas por que o governo está inventando essa moda? Segundo especialistas, a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar, a necessidade de imprimir mais papel-moeda devido aos saques do auxílio emergencial de R$ 600 e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), além da redução com custos de produção e de logística estão entre os motivos para a novidade.
Tendo como animal símbolo o lobo-guará, que faz parte da fauna brasileira e está ameaçado de extinção, o anúncio da nova cédula pelo Banco Central, em 29 de julho, pegou muita gente de surpresa e trouxe péssimas recordações. Em um passado nem tão distante assim, o dinheiro perdia validade de um dia para o outro, devido à inflação cenário muito diferente do atual, em que ela está controlada e a desvalorização do dinheiro. Neste ano, a inflação acumulada em 12 meses está em 2,13%, bem abaixo da meta do BC para 2020 (4%).
De acordo com o economista e professor de Economia da Ufes Luiz Antonio Saade, quando o Banco Central anunciou que uma nova cédula da moeda entraria em circulação, a notícia causou um efeito psicológico nas pessoas, principalmente nas mais velhas.
Desde a década de 1980 até 1994, quando o Plano Real conseguiu finalmente controlar o processo inflacionário e, com isso, estabilizar a moeda brasileira, foram lançados seis planos econômicos. Em 1992, por exemplo, o Brasil chegou a ter uma inflação de 1.191,09%, no acumulado do ano. Naquele período, não era incomum ver notas de 100 mil cruzeiros (Cr$), que vieram mais tarde a ser a inspiração da já aposentada nota de R$ 1, ilustrada com um colibri.
Hoje, para os especialistas, o fantasma da inflação não tem nada a ver com a nota de R$ 200. De acordo com a diretora de administração do Banco Central (BC), Carolina de Assis Barros, a necessidade de incorporar essa nova cédula ao conjunto da família do real decorre de um aumento extraordinário da demanda por papel-moeda na economia causada pelos saques do auxílio emergencial de R$ 600 e do FGTS e a redução com impressão de papel-moeda. Para isso, neste ano, a Casa da Moeda vai imprimir 450 mil unidades da nota de R$ 200, o que equivale a R$ 90 bilhões.
Segundo dados da autarquia federal, apenas no mês de junho, o volume de dinheiro vivo em circulação atingiu R$ 277 bilhões. Em março, no início da pandemia do novo coronavírus, ele não passava de R$ 216 bilhões. Um gráfico do BC, exibido na apresentação para a imprensa da nova cédula em 29 de julho, mostra que a projeção original do volume de numerário para 2020 era de R$ 301 bilhões, 7% acima do volume de dinheiro em circulação no ano passado.
O BC aponta ainda que o entesouramento saques para formação de reservas , a diminuição do volume de compras no comércio em geral e os valores pagos em espécie aos beneficiários dos auxílios não retornaram com a velocidade esperada e também estão entre os motivos que acarretaram no lançamento da nova nota.
Porém, para os especialistas ouvidos por A Gazeta, há outras explicações e complicações. Para o economista e diretor administrativo-financeiro da Fucape Business Scholl, Fernando Galdi, manter a paridade maior do real frente ao dólar e aumentar a segurança das cédulas são os pontos chaves para o anúncio da nova cédula.
"Se você comparar: em 1994, quando o Plano Real foi lançado, US$ 100 equivaliam a R$ 100 era quase um dólar para um real. Já hoje, US$ 100 são aproximadamente R$ 20. Esse é um dos motivos que são determinantes para a emissão de novas moedas, manter um pouco mais desse poder de compra do real em relação ao dólar. O real vem se desvalorizando em relação à moeda norteamericana", aponta.
Galdi ainda lembra que o BC e a casa da moeda sempre estão recolhendo notas velhas e fazendo novas. Com isso, eles buscam aumentar a segurança e reduzir as falsificações. "As notas de R$ 200 vão repor cédulas antigas que já seriam repostas. Isso não gera muitos custos adicionais e ainda proporciona mais segurança", diz.
Uma pesquisa feita pelo Banco Central, em 2018, mostrou que 60% dos entrevistados responderam que o dinheiro era a forma de pagamento que eles mais utilizavam. Mas, a digitalização do sistema financeiro deve reduzir esse percentual nos próximos anos. Com a chegada do sistema de pagamentos instantâneos do BC, chamado Pix, transferências e pagamentos serão realizados em até dez segundos.
Com relação ao "troco", quando as notas estiverem em circulação, os especialistas apontam que o Banco Central deve olhar com cuidado sobre como será feita a distribuição dessas cédulas, que devem estar em menor número no mercado do que as demais.
De acordo com a tutora do curso superior de Blockchain, Criptomoedas e Finanças na Era Digital do Centro Universitário Internacional Uninter, Pollyanna Rodrigues Gondin, existem incoerências nesta argumentação de que a nota reduziria os custos de impressão de mais papel-moeda com os valores atuais.
"Segundo o próprio departamento de estatística do Banco Central, este aumento é temporário. Empresas fechando as portas, trabalhadores sendo demitidos, colocar em circulação uma nova nota monetária não irá resolver os problemas que assolam nossa economia. Pelo contrário, pode corroborar para a perda da confiança social, já que a estabilidade da nossa moeda assume um papel social relevante. E, diga-se de passagem, vivemos um momento de estabilidade inflacionária, não justificando, mais uma vez, a criação da nota de R$ 200", analisa.
O economista-chefe da Apex Partners, Arilton Teixeira, lembra que, apesar dos sistemas de segurança usados pela Casa da Moeda para evitar fraudes, valores maiores podem abrir espaço para transações ilegais. Além disso, as novas notas incentivariam a falsificação, já que o custo de produção delas seria menor e o ganho maior por parte dos criminosos.
Há duas famílias do real, tanto para notas como para moedas. A primeira família de notas e de moedas foi lançada em 1994. Já a segunda família de moedas foi lançada em 1998 e a segunda de cédulas começou a ser lançada em 2010, mais moderna e com mais dispositivos de segurança. Antes, eram seis valores de cédulas em circulação: R$ 2, R$ 5, R$ 10, R$ 20, R$ 50 e R$ 100.
Esta é a primeira vez, dentro de quase duas décadas, que o real ganha uma cédula de novo valor. Desde então, foram criadas notas de R$ 2 (em 2001) e de R$ 20 (em 2002). Já no ano de 2005 foi extinta a nota de R$ 1.
O lobo-guará foi o terceiro colocado em uma pesquisa realizada pelo Banco Central em 2001. Na época, a instituição financeira perguntou à população quais espécimes da fauna nacional gostariam de ver representados na moeda brasileira.
Em primeiro lugar ficou a tartaruga-marinha, usada na cédula de R$ 2. O segundo colocado foi o mico-leão-dourado, incorporado na cédula de R$ 20. E em terceiro o lobo-guará, que estampa as cédulas de R$ 200.
Não é a primeira vez que o lobo-guará aparece em nosso dinheiro. Entre dezembro de 1993 e setembro de 1994, o mamífero estampou a moeda de cem Cruzeiros Reais (CR$ 100 ). Na ocasião, foram cunhadas 90 milhões de unidades da moeda.
Há alguns anos a expressão "mais falso do que nota de R$ 200" significaria que aquilo é mentira. Mas, e agora que o país tem realmente ter uma nota de R$ 200? O anúncio do Banco Central movimentou a criatividade dos brasileiros. Não faltaram memes e teorias sobre a novidade. Veja a galeria de fotos com montagens que circularam pelas redes sociais.
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