Bolsas de Valores ao redor do mundo operando em queda e dólar em alta quebrando recordes a cada dia. De fato, o mercado não tem reagido bem à epidemia do novo coronavírus. Mas o reflexo dessa crise pode não se restringir aos grandes investidores e indústrias: ela também deve impactar o bolso dos consumidores mudando preços desde celulares à roupas.
Isso, segundo o conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon) Naone Garcia, pode acontecer pela soma de dois fatores: o grande número de produtos e componentes que importamos da China e a desaceleração da produção chinesa.
Nós importamos muitos produtos da China. E isso vai desde o fornecimento de materiais eletroeletrônicos - componentes de fogões, geladeiras, materiais de áudio, vídeo, ventiladores, secadores de cabelo - a roupas e demais produtos importados, comentou Garcia.
Ao mesmo tempo, já há uma previsão de redução do PIB [Produto Interno Bruto] chinês de 6% para 5,4% ou 5,8% em 2020, acrescentou.
O especialista reforçou que o impacto nos preços e na economia vai variar conforme o tempo que demore até o problema ser contornado. Em 2003 vivemos algo parecido com a epidemia de SARS. Porém, naquele ano a China representava 4% do PIB mundial e agora ela representa 16%, ponderou o conselheiro do Corecon.
Outro fato que pode impactar no preço dos produtos é a alta do dólar. Nesta quinta-feira (27), a moeda americana ultrapassou os R$ 4,50 - operando em alta pela sétima sessão consecutiva -, e fechou o dia em R$ 4,47.
A inflação americana está baixa, então o preço do produto, em si, não deve aumentar. Só que a gente no Brasil deve perceber uma alteração por causa da diferença dos valores das moedas. Do começo do ano para cá, o dólar já subiu 10% em relação ao real, disse o PhD em Contabilidade e Finanças e professor da Fucape André Moura.
Se, por um lado, o preço dos produtos que os capixabas compram do exterior podem ficar mais caros, os que as indústrias locais vendem para a China podem ter preços reduzidos - o que também não é algo positivo para o Estado.
A China compra muito minério de ferro, aço, pedras ornamentais, celulose e petróleo do Espírito Santo. Mas a demanda por esses produtos tende a cair. O barril de petróleo, por exemplo, deve cair cerca de 5%. Isso impactaria o recebimento de royalties, destaca.
No dia 20 de fevereiro, por exemplo, o barril estava cotado em R$ 260,49. Já no dia 26, o preço caiu para R$ 228,83.
O secretário de Estado de Desenvolvimento, Marcos Kneip, admite que como o Espírito Santo tem vocação para o comércio exterior, as influências do coronavírus geram certa preocupação. Em São Paulo, por exemplo, fábricas da LG e Motorola vão reduzir a produção de equipamentos enquanto o fornecimento de componentes não for normalizado.
No Brasil, indústrias que recebem componentes importados da China já estão dando férias coletivas para os funcionários. Em São Paulo, a unidade da LG vai parar por 10 dias a partir de segunda-feira (2). Já a Flextronics, que produz para a Motorola deu férias coletivas aos funcionários entre os dias 17 e 28 deste mês e que renovará a pausa entre 9 e 28 de março.
Nossa indústria não corre esse risco. Já em outros Estados como São Paulo, Minas Gerais e Amazonas, que são ancorados na indústria automobilística e telefônica existe esse problema. Futuramente, se o problema não for resolvido, podemos vir a apresentar queda na movimentação portuária, avaliou Kneip.
O surto do coronavírus tem feito investidores enviar o dinheiro para mercados de menor risco. Com isso, o dólar - moeda da principal economia do mundo - segue se valorizando na comparação com outras moedas. As que mais sofrem com a diferença são as moedas dos países emergentes, como o real brasileiro.
Entre os produtos importados da China estão roupas e tecidos. Havendo redução da produção, como já é observado com os produtos eletrônicos, é possível que ela se traduza em aumento do preço do produto - que deverá ser comprado em outros mercados com preços não tão competitivos.
A possibilidade de redução da demanda chinesa por combustível tem feito o preço do barril de petróleo cair em todo o mundo.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) o relatório divulgado já informava sobre a possibilidade do aumento da taxa Selic - hoje em 4,25% - por conta do coronavírus. A lógica para o aumento é o possível reajuste de preços para cima.
Se os produtos, de fato, ficarem mais caros, o governo tem a opção de aumentar a taxa Selic na próxima reunião do Copom para tentar controlar a inflação, segundo explicou Naone Garcia.
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