A economia brasileira ficou praticamente parada no segundo trimestre de 2021, com o recuo de 0,1% em relação ao trimestre anterior, o que representa uma leve desaceleração no ritmo de recuperação, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A previsão anterior era de que o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todas as riquezas produzidas, tivesse, entre abril e junho, um crescimento de 0,2% na comparação com os meses de janeiro a março. Apesar da frustração, as projeções para o ano ainda são positivas, embora especialistas apontem que o cenário é de desafios.
Contribuíram para o recuo de 0,1% no resultado do PIB o desempenho negativo da agropecuária (-2,8%), da indústria (-0,2%), dos investimentos em capital fixo (-3,6%) e das importações (-0,6%).
As quedas foram balanceadas pela movimentação referente a exportações, que tiveram alta de 9,4%; a construção civil, que apresentou avanço de 2,7%; o setor de serviços, que foi um dos mais prejudicados pela pandemia e agora cresceu 0,7%, e o comércio, que teve alta de 0,5%. O consumo das famílias ficou estagnado, sem variações. Por outro lado, o consumo do governo teve acréscimo de 0,7% em comparação com o primeiro trimestre.
“Essa queda de 0,1% no segundo trimestre é marginal. Se tivesse subido 0,2% também seria nas margens. O agro, por exemplo, oscila muito por conta da sazonalidade, e começou a sentir, mais recentemente, o peso dos problemas climáticos. O que é mais grave é que ainda não chegamos ao nível de PIB de 2014. Isso é grave”, observa o analista de negócios e sócio-fundador da Pedra Azul Investimentos, Lélio Monteiro.
A projeção é de que a economia brasileira cresça em torno de 5% em 2021, resultado influenciado, principalmente, pela base de comparação ruim de 2020. Mas Monteiro aponta que também deve contribuir para a alta o avanço da vacinação contra a Covid-19, que ganhou ritmo nos últimos meses.
É o que deve permitir maior aquecimento do setor de serviços, o que mais emprega no país e no Espírito Santo, e que tem maior peso no PIB, ajudando a manter os resultados dos próximos trimestres em um patamar mais alto.
A valorização das commodities, que, atrelada ao preço do câmbio, favorece as empresas exportadoras, em especial as indústrias, também conta a favor da economia brasileira.
“Esse patamar mais alto das commodities, embora o minério, por exemplo, já tenha caído um pouco, é positivo. Há um prejuízo para as empresas que precisam importar, mas para as exportadoras, que têm grande peso na produção de riquezas, é algo benéfico."
Na outra ponta do balança, porém, há inflação e juros elevados, crise energética, preocupação com a variante Delta, e os riscos políticos trazidos pelo governo, que, segundo os especialistas, podem prejudicar essa retomada e pesar também sobre a economia em 2022.
Para o próximo ano, analistas esperam um crescimento próximo de 2%, de volta ao ritmo do final do governo Michel Temer e início da gestão Jair Bolsonaro. Essa projeção, entretanto, já foi maior, e vem sendo reduzida diante do cenário de instabilidade.
Monteiro reforça que o ambiente político conturbado pesa contra o país, e tem aumentado sensivelmente. No último mês, por exemplo, Bolsonaro chegou a pedir o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, o que foi arquivado pelo Senado, mas não antes que fizesse com que o preço do dólar disparasse.
A incerteza de qualquer espécie faz com que as empresas adiem decisões importantes, e faz com que os investidores recuem, evitando injetar recursos em novos projetos ou mesmo em aplicações financeiras no país.
“Outra coisa que pesa bastante também é o avanço da variante Delta do coronavírus. Apesar de estarmos em um momento de certa estabilidade da pandemia, a Delta já é uma realidade preocupante em vários países e tem repercutido no mercado. Também temos alguns Estados brasileiros em que essa mutação está bem disseminada. E a todo momento surgem novas variantes, então é difícil prever o que acontecerá.”
O economista Eduardo Araújo pontua que já se percebe, na desaceleração da economia, um efeito da elevação das taxas de juros, que deve permancer constante, no futuro breve, em função do aumento generalizado de preços.
É esperado um impacto no consumo das famílias, não apenas pela alta da inflação, mas também pelo fim do auxílio emergencial, cuja última parcela está prevista para ser paga em outubro. No mês seguinte, o governo deve começar a pagar o Auxílio Brasil, uma versão “turbinada” do Bolsa Família, mas que será mais restrito que o benefício criado durante a pandemia.
A agropecuária também deve sentir, por mais algum tempo, os efeitos da combinação das geadas de junho e julho, além da crise hídrica que assola o país. Como consequência da seca, a eletricidade também tem encarecido, tornando a produção, como um todo, mais custosa.
“Também temos visto uma certa crise institucional, que naturalmente causa um impacto. O resultado do segundo trimestre poderia ter sido melhor, mas não foi tão negativo. Porém, já traz essa preocupação para os próximos trimestres. Estamos com uma taxa de desemprego ainda muito elevada e esse resultado do PIB não dá indicação de que o problema será resolvido com tanta rapidez. Na minha percepção, isso também reflete uma certa lentidão do país em avançar com as reformas.”
Araújo pontua ainda que o fato de que não houve uma contração mais expressiva do PIB, indicando uma efetiva piora da economia brasileiro, ainda é positivo, mas reforça que é preciso observar esses pontos de atenção nos próximos meses.
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