O rompimento da barragem da Vale na mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), completa um ano no próximo sábado (25). A tragédia que deixou mais de 250 mortos, com incalculáveis impactos ambientais e sociais para a região, também chegou ao Espírito Santo com consequências expressivas para a nossa economia.
Desde o início de 2019, após o desastre, a empresa começou a reduzir a quantidade de minério produzida e paralisou algumas minas localizadas em Minas Gerais por segurança. Com isso, as exportações de minério de ferro no Espírito Santo caíram 28,22% na comparação entre 2018 e 2019.
Segundo informações do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Estado do Espírito Santo (Sindiex), com dados da Secretaria da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, em 2018 o Espírito Santo exportou 28,7 milhões de toneladas de minério de ferro. Já em 2019, o número caiu para 20,6 milhões de toneladas. Em valores, a queda representa US$ 844 milhões a menos em exportações - R$ 3,5 bilhões na cotação atual.
Da mesma forma, a movimentação de granéis sólidos no Terminal de Tubarão, em Vitória, entre janeiro e outubro de 2019, caíram 24,94% em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados do sistema WebPortos, da Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários do Ministério da Infraestrutura.
Dados do Relatório de Produção da Vale, publicado trimestralmente, mostram que no terceiro trimestre de 2019 - os números do último período do ano ainda não estão disponíveis - a produção subiu pela primeira vez desde o rompimento da mina em Brumadinho, alcançando 86,70 milhões de toneladas.
A título de comparação, no último trimestre antes do desastre de Brumadinho, a Vale produziu 100,98 milhões de toneladas. A menor produção foi observada no segundo trimestre do ano passado, quando alcançou 64,50 milhões de toneladas.
A produção de minério de ferro do Sistema Sudeste, que é enviada para o Espírito Santo, caiu de 26,53 milhões de toneladas, no quarto trimestre de 2018, para 19,85 no trimestre em que aconteceu a tragédia em Brumadinho. O pior volume de produção foi registrado no segundo trimestre do ano passado, quando a empresa produziu 15,85 milhões de toneladas. O último dado disponível aponta que a produção atingiu 20,69 milhões de toneladas.
A expectativa da empresa é de recuperação e que em 2021 consiga igualar a produção que tinha antes da tragédia. Para o ano que vem, a Vale estima que produzirá algo entre 375 e 395 milhões de toneladas. Em 2018 a produção de minério ficou em 385 milhões de toneladas.
O diretor presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Luiz Paulo Vellozo Lucas, destacou que o Estado sofreu muito com os recentes acontecimentos do setor minerosiderúrgico. Não só Brumadinho, mas o acidente de Mariana (MG) também fez com que a gente perdesse muito. A Samarco (que no Espírito Santo opera em Anchieta) só deve voltar esse ano, lembrou Luiz Paulo.
Em 5 novembro de 2015, uma barragem da Samarco rompeu em Mariana, deixando 19 mortos e jogando milhões de litros de lama rejeitos de minério no Rio Doce e no mar. Depois disso, a mineradora, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, teve o funcionamento paralisado. Estima-se que a empresa representava algo em torno de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) capixaba quando deixou de operar. Logo depois do rompimento da barragem da Vale o Estado voltou a apresentar problemas na prévia do PIB.
Alguns fatores regionais fizeram com que os efeitos negativos fossem mais sentidos pela nossa indústria, especialmente nos segmentos de minério de ferro, celulose e petróleo. Em relação ao minério, tivemos o acidente de Brumadinho que impactou negativamente o complexo minerosiderúrgico do Espírito Santo, e reduções nas produções de celulose e de petróleo, importantes segmentos da indústria capixaba, pontuou Luiz Paulo no primeiro trimestre do ano passado.
Ainda assim, o governo estadual não informou qual foi o impacto na arrecadação por conta dos desastres no setor. É claro aumentar a participação deste setor no Espírito Santo é muito importante e acredito que o setor está preparado para a retomada, limitou-se a dizer o presidente do IJSN.
Até mesmo pessoas de João Neiva, Norte do Estado, foram afetadas pelo desastre em Brumadinho. Isso porque, após o rompimento da barragem, a Vale reduziu a sua produção de minério e suspendeu o abastecimento do produto para alguns clientes.
Um dos afetados foi a CBF Indústria de Gusa, conforme noticiou a colunista Beatriz Seixas, de A Gazeta. A empresa chegou a ficar com 40% do quadro de funcionários fora das atividades produtivas pela falta de minério para a fabricação de ferro gusa. Chegou a ser cogitado que outras empresas, como a ArcelorMittal Tubarão e a Siderúrgica Santa Bárbara, em Cariacica, também pudessem ser afetadas, o que não foi confirmado.
Poucos dias depois, a Vale entrou em contato com a empresa e o fornecimento de minério foi reestabelecido, segundo informou a encarregada administrativa da CBF, Glaucia Guasti.
Um ano depois da tragédia, a Vale recuperou o valor de mercado que tinha antes do rompimento da Mina do Córrego do Feijão. As ações da empresa na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, na sexta-feira (17), foram negociadas a R$ 57. Na véspera do desabamento elas custavam R$ 56,15 e no primeiro dia útil após o desastre caiu para R$ 42,36.
A valorização da empresa é fruto do otimismo do mercado com o setor. A China, maior importador de minério de ferro, assinou um acordo comercial com os Estados Unidos, o que deve reacelerar sua economia e aumentar a importação do minério da Vale.
Ainda assim, representantes da empresa tentam se defender das acusações. Fabio Schvartsman, ex-presidente da Vale, tenta se livrar de potenciais processos de negligência que possam recair sobre ele por conta do desastre. A expectativa é que o Ministério Público de Minas Gerais apresente nos próximos dias as denúncias criminais contra a Vale e seus principais gestores.
Quase um ano depois da tragédia, que aconteceu no dia 25 de janeiro de 2019, o Ministério Público de Minas Gerais denunciou por homicídio duplamente qualificado e crimes ambientais 16 pessoas pelo rompimento da barragem de Brumadinho. Entre eles estão o ex-presidente da Vale Fabio Schvartsman, 11 funcionários da mineradora e cinco da consultoria Tüv Süd, que atestou a estabilidade da barragem. As duas empresas também foram denunciadas.
A denúncia do MP é a primeira com efeitos práticos para levar os envolvidos à Justiça. Segundo o órgão, a Vale tinha em um sistema operacional a informação de que 10 barragens estavam em situação de risco inaceitável, inclusive a de Brumadinho. Mas essas informações teriam sido ocultadas da sociedade, dos acionista e do poder público. Para a promotoria, a empresa manteve uma "caixa preta" sobre o risco da estrutura, que culminou em seu rompimento.
Além das mortes confirmadas, ainda há, um ano depois, 11 pessoas que estavam nas imediações da barrage e seguem desaparecidas. O último balanço das autoridades apontou que 259 vítimas já haviam sido identificadas. O último corpo foi localizado no dia 21 de novembro, a 5,5 quilômetros de distância da barragem que se rompeu.
Segundo o Corpo de Bombeiros, 3 milhões de metros cúbicos de rejeitos vazaram. Eles afirmam também que as sirenes de emergência não tocaram.
Do rompimento da barragem até dezembro passado, a Vale havia assinado 25 acordos com as vítimas da tragédia ou familiares das pessoas atingidas. No fim do ano passado, a empresa aprovou a extensão do pagamento de indenizações emergenciais por mais dez meses em Brumadinho para 108 mil pessoas, o representa um gasto de R$ 550 milhões
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