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Efeito Trump: como crise nos EUA pode impactar crescimento da economia do ES

Efeito Trump: como crise nos EUA pode impactar crescimento da economia do ES

IAE Findes aponta que o Espírito Santo deve crescer 0,5% em 2025, resultado inferior aos 2,3% conquistados ao longo de 2024

Publicado em 11 de março de 2025 às 15:30

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Depois de um 2024 em que a economia do Espírito Santo fechou o ano em alta de 2,3%, as perspectivas para 2025 são de um crescimento mais tímido, na casa de 0,5%. A estimativa é do Indicador de Atividade Econômica (IAE-Findes), calculado pelo Observatório da Findes. 

No cenário de crescimento moderado da economia, pesam fatores como as políticas econômicas anunciadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que resultaram em uma série de anúncios de aumentos de tarifas, boa parte até agora adiadas ou que ainda vão entrar em vigor, como a taxação do aço — produto capixaba mais exportado para os Estados Unidos. Ainda causam impacto o ano de bienalidade negativa do café, com redução natural da safra e a expectativa de taxa de juros elevada.

Paulo Baraona, presidente da Findes, e Marília Silva, economista-chefe da Findes
Paulo Baraona, presidente da Findes, e Marília Silva, economista-chefe da Findes. (Divulgação/Findes)

Na avaliação da economista-chefe da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) e gerente executiva do Observatório da Findes, Marília Silva, diferentemente do primeiro governo Trump, as medidas anunciadas agora podem afetar bastante o Espírito Santo. A diferença é que, no primeiro governo, a taxação era para produtos específicos do aço. Agora, a medida vale para todos os produtos do aço.

Só no ano passado, o Espírito Santo exportou US$ 1,8 bilhão em produtos do aço (ferro fundido, ferro e aço).

"Se as medidas de fato acontecerem como está sendo dito, vai afetar o Espírito Santo no curto prazo de uma maneira muito objetiva. Mas pode ser que, com o tempo, haja um realinhamento e se encontrem novos mercados", avalia Marília.

As medidas do novo governo dos Estados Unidos também tem movimentado o mercado, com queda nas Bolsas no país, levantando a possibilidade de ocorrer uma recessão na maior economia do mundo, com a escalada da guerra comercial e, ainda, demissões em massa nos órgãos federais. Movimento que também provoca alta no valor do dólar.

Para Marília Silva, toda a movimentação de Trump nos Estados Unidos acaba gerando incertezas sobre a própria economia dos Estados Unidos e faz com que a taxa de juros do país permaneça alta, bem como o câmbio.

"Com a nossa moeda permanecendo desvalorizada com o aumento do câmbio, há uma pressão do lado inflacionário, o que acaba deixando os nossos insumos mais caros", afirma.

Os fatores que podem impactar de forma negativa a economia do ES em 2025:

Em um momento do acirramento da guerra comercial envolvendo o aço, o presidente da Findes, Paulo Baraona, destacou iniciativas como a da ArcelorMittal, de investir na planta de laminador a frio, um material de maior valor agregado e que também direciona o olhar para o mercado interno, podendo atender a indústria nacional de produção de bens de capital e de bens de consumo um pouco diferente, sendo uma boa alternativa para o Espírito Santo.

ES cresce 2,3% em 2024

Em 2024, a atividade econômica do Espírito Santo teve resultado inferior à média nacional, que ficou em 3,4%. O crescimento ocorreu em meio a um contexto de aumento da taxa básica de juros do país (Taxa Selic), da alta dos preços ao consumidor, da desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar, do mercado de trabalho aquecido e da melhoria da renda média do trabalhador.

Foi o segundo ano consecutivo de alta, já que, em 2023, teve alta de 4,7% em relação ao ano anterior.

Segundo o Indicador de Atividade Econômica (IAE-Findes), calculado pelo Observatório Findes, todos os setores econômicos do Estado cresceram ao longo do ano passado: agropecuária (7,4%), serviços (2,5%) e indústria (0,4%). Os dados foram divulgados nesta terça-feira (11) pela Findes.

Baraona lembrou, também, que 2024 começou com uma expectativa mais positiva, porém o ano foi de desafios. A taxa Selic, por exemplo, começou em queda, mas, no meio do caminho, mudou sua trajetória e terminou em alta, chegando a 12,15%.

“Apesar da elevação dessa taxa impactar o investimento, tornando-o mais caro para o empresário, o Espírito Santo vem recebendo projetos significativos a curto e médio prazos. Como o divulgado pela Petrobras recentemente (R$ 35 bilhões para o Espírito Santo até 2029); a implantação de um laminador de tiras a frio e uma linha de revestimento contínuo pela ArcelorMittal (R$ 3,8 bilhões); e a repactuação do contrato da ECO-101 com a ANTT (R$ 7 bilhões)”, explicou.

Ainda de acordo com Baraona, atualmente, a Findes tem mapeado, na Bússola do Investimento, um montante superior a R$ 103 bilhões em investimentos produtivos confirmados até 2030. “Cerca de 92,7% desse valor tem como origem no capital misto ou privado. Além disso, do total a ser aportado, R$ 78,5 bilhões, ou seja, 75,8%, são provenientes do setor industrial capixaba. Isso mostra o quanto a indústria está se mobilizando e buscando manter o seu crescimento sustentável no Estado”, comentou.

Crescimento dos setores

Indústria

O setor industrial capixaba avançou 0,7% em 2024. O desempenho do setor deve-se a: energia e saneamento (11,7%), construção (2,1%) e indústria de transformação (1,1%). A única atividade que contraiu, no ano, foi a indústria extrativa (-2%).

A economista-chefe da Findes explica que o avanço de 11,7% da atividade de energia e saneamento em 2024 foi puxado pelo aumento do consumo de energia elétrica, em função das temperaturas mais elevadas, somado ao estímulo ao consumo promovido pela bandeira tarifária verde, que ficou vigente de abril a julho e em dezembro de 2024.

“O crescimento de 2,1% da construção reflete o aumento da mão de obra no setor que, por sua vez, retrata o dinamismo positivo da construção no Espírito Santo. No ano passado, 7,8 mil pessoas estavam ocupadas no setor do Estado, segundo os dados do IBGE, o que representa um aumento de 5,5% em comparação com as ocupações em 2023”, explicou.

Já o avanço de 1,1% na indústria de transformação foi puxado pelas altas de 5,1% do setor de metalurgia e de 4,2% do setor de fabricação de coque e de produtos derivados do petróleo. Entretanto, as produções de celulose e papel (5,8%), de produtos de minerais não-metálicos (-1%) e de produtos alimentícios registraram variações negativas (-0,9%) recuaram.

“No caso da Metalurgia, o crescimento de 5,1% foi impulsionado por uma economia brasileira aquecida, que estimulou a produção de produtos de aço utilizados como insumo para a produção de bens de consumo duráveis e bens de capital. De acordo com o Instituto Aço Brasil, a produção de aço bruto no Espírito Santo foi de 7,4 milhões de toneladas em 2024, um crescimento de 5% na comparação com o ano anterior”, apontou Marília Silva.

O único segmento industrial que retraiu em 2024 foi a indústria extrativa (-2%). Apesar da atividade de pelotização do minério de ferro ter crescido 8,9% no ano, a alta não foi suficiente para minimizar totalmente o resultado da atividade de petróleo e gás natural (- 8,8%).

7,4% da agropecuária
Esse foi o resultado expressivo do setor, motivado pelas expansões de 8,3% da agricultura e de 5,2% da pecuária em 2024

Vale lembrar que a agricultura foi positivamente influenciada pela maior produção de café (arábica e conilon), principal lavoura do setor no Espírito Santo. Isso porque o ano 2024 foi marcado pela chamada “bienalidade positiva” da lavoura do café, ou seja, quando há maior produtividade na colheita do grão. Já a pecuária foi impulsionada, principalmente, pela maior produção de suínos, bovinos e as atividades relacionadas à produção de aves e ovos.

Serviços (comércio, serviços e transporte)

Já no setor de serviços, houve um crescimento de 2,5% em 2024. O resultado foi influenciado por todas as atividades que o compõem: transporte (9,8%), demais atividades de serviços (2%) e comércio (1,5%). Um destaque foi o fato de que o mercado de trabalho favorável, a elevação da massa salarial da economia e o aumento do transporte de cargas ajudaram a explicar o desempenho do setor de serviços no Estado. “Temos visto, nos últimos anos, a aceleração do crescimento do Estado com relação ao uso do seu potencial logístico”, disse Marília.

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