Em depoimento à Polícia Federal, o empresário Flávio Salles, produtor local do show de Paul McCartney no Espírito Santo, realizado em 2014, disse que Carlos Costa, um dos chefões da Telexfree, ficaria com 85% do lucro líquido da venda de ingressos para a histórica apresentação do ex-Beatle no Estado.
O depoimento reforça a ligação entre o financiamento do show e a Telexfree, alvo de inúmeros processos judiciais por crimes contra o sistema financeiro, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. O esquema ficou conhecido como a maior pirâmide financeira do mundo.
Como A Gazeta revelou em outubro, a empresa conhecida por ser o maior esquema de pirâmide do mundo, e por ter deixado prejuízos bilionários em vários países, esteve por trás do show. A reportagem exclusiva levantou indícios de lavagem de dinheiro.
O cachê do astro de Liverpool foi pago por um ex-líder da Telexfree apontado como um dos principais laranjas de Costa e de Wanzeler, cabeças da pirâmide. Na ocasião, a empresa e seus principais sócios estavam judicialmente bloqueados, impedidos de investir o dinheiro suspeito.
Flávio Salles prestou depoimento somente após a reportagem ser publicada. A Gazeta teve acesso a parte das declarações prestadas por ele. À PF, o produtor confirmou o que havia dito entrevista, mas foi além. Mencionou valores, percentuais e colocou Costa como beneficiário direto do show.
"O show arrecadou R$ 5,5 milhões em venda de ingressos. A venda dos ingressos ficou muito abaixo do esperado. O Corpo de Bombeiros liberou a venda de 39 mil ingressos, mas a venda foi de 23 mil entradas. A proposta seria que Carlos Costa ficaria com 85% da venda do lucro líquido dos ingressos", afirmou aos federais.
A reportagem não localizou Flávio Salles neste domingo (22) para que ele comentasse o depoimento. O cachê custou cerca de US$ 3 milhões. Na época, cerca de R$ 8 milhões.
O trecho do depoimento de Flávio foi incluído nos processos relacionados à ação penal mais recente aberta contra a Telexfree. A pirâmide é acusada de lavar dinheiro comprando um imóvel no Centro de Vitória por meio da empresa Capixaba Eventos. Essa firma foi a responsável por assinar o contrato para a vinda de Paul McCartney.
Existe outro inquérito na Justiça Federal que apura se os donos da Telexfree usaram o show do ex-Beatle no estádio Kleber Andrade, em Cariacica, para lavar dinheiro. A reportagem não obteve informações sobre o andamento dele.
As declarações de Flávio Salles foram consideradas porque, além de citar o percentual acordado com Costa, ele confirmou que o dono da Capixaba Eventos, Cleber Renê Rizério Rocha, foi inserido na sociedade a pedido de Carlos Costa e de Carlos Wanzeler, sem ter experiência no mercado musical. Três anos depois do show, Rocha foi preso nos Estados Unidos com cerca de US$ 17 milhões da Telexfree escondidos sob um colchão.
Advogado de Carlos Costa, Rafael Lima afirmou que o acordo não se realizou porque o evento gerou prejuízos. "Se houve (o acordo para os 85%), ficou na promessa porque o show deu prejuízo. Se houve, não se concretizou. A receita deu mal para cobrir custos operacionais".
Ainda na reportagem publicada em outubro, A Gazeta explicou que, em casos de lavagem de dinheiro, nem sempre a recuperação integral dos valores investidos é o objetivo de quem comete o crime. Como a verba enviada para ser lavada é totalmente ilícita, qualquer parcela do montante que voltar limpo pode significar vantagem para o criminoso.
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