Empresas de veículos e embarcações do Espírito Santo, além de companhias de fachada, eram usadas, segundo a Polícia Civil (PC), para lavar dinheiro de corporações de São Paulo, algumas, inclusive, envolvidas na Operação Lava Jato ou em crimes de sonegação do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de outros Estados.
As firmas capixabas receberam cerca de R$ 400 milhões e enviaram a mesma cifra para China e Estados Unidos, totalizando cerca de R$ 800 milhões em movimentações financeiras, de acordo com o delegado responsável pela Operação Piànjú, João Paulo Pinto, da área de Furto e Roubos de Veículos, da PC no Espírito Santo.
Suspeita-se que parte dos recursos tenha vindo de licitações de órgãos públicos, como de coleta e tratamento de lixo, além de outras atividades econômicas no setor privado.
A ação da autoridade policial foi deflagrada na manhã desta terça-feira (15) com apoio do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Espírito Santo.
Só no Espírito Santo foram cumpridas três prisões contra os supostos envolvidos no esquema de lavagem de dinheiro. Entre os presos estão os empresários capixabas Wilson Caoduro e Pablo David Eliseo Sandes, que atuam na área náutica e de veículos. Uma terceira pessoa foi presa, mas o nome não foi descoberto pela reportagem.
Em entrevista concedida nesta manhã a jornalistas, o delegado disse que as atividades criminosas do grupo capixaba e de pessoas de outros Estados foram descobertas a partir de um comunicado de roubo de caminhão.
Quando começamos a investigar os detalhes desse caminhão, descobrimos que ele não existia fisicamente e que só constava no banco de dados do Detran e do Renavan, revela.
João Paulo explica que a partir das apurações conseguiram chegar até companhias de fachada, a maioria com registro no Espírito Santo. Esses caminhões [fantasmas] serviam de patrimônio para essas empresas para que elas pudessem fazer o envio de dinheiro para a China e para os Estados Unidos.
Após alcançar esses dados sobre possíveis irregularidades, o delegado explica que foi pedido à Justiça a quebra do sigilo bancário das empresas e empresários do Estado. A partir da análise das movimentações de capitais encontraram indícios de organizações de São Paulo, investigadas pela Lava Jato, no suposto esquema capixaba.
O dinheiro era enviado por essas companhias paulistas para empresas laranja no Espírito Santo para os recursos serem encaminhados para lojas de veículos e para as náuticas que existiam fisicamente.
Os estabelecimentos reais emitiam notas fiscais de operações internacionais e cambiais, pagavam todos os impostos para o envio das remessas ao exterior, para, segundo o delegado, dar aparente legalidade a fraude financeira.
As empresas de fachada no Espírito Santo, ele expõe, foram formadas em nome de pessoas fictícias, com registros fraudulentos nos bancos de dados das Polícias Civis. As firmas de fachada, no entanto, pertenciam aos empresários do Estado investigados. Conseguimos comprovar essa movimentação financeira toda que eles fizeram, diz João Paulo Pinto.
A operação deflagrada nesta terça-feira, conforme afirma o delegado, é ainda a primeira fase das investigações. Agora, a nova etapa tem a intenção de descobrir quais eram as atividades exercidas pelas empresas do Estado e de fora para faturar os recursos milionários.
Nessa primeira fase da investigação sabemos que o dinheiro era enviado por determinadas empresas envolvidas em outros crimes. Mas queremos saber se esses recursos pertenciam às companhias do Espírito Santo e de quais atividades eles eram fruto, ressalta, ao confirmar ainda que a investigação pode esbarrar em outras apurações em andamento. Ou era [o dinheiro] da Lava Jato ou de outras atividades criminosas. Sabemos que os empresários daqui ficavam com uma parte do dinheiro e o resto mandava para fora. Eles pagavam os impostos para fugir das fiscalizações dos órgãos de controle.
As empresas de São Paulo, segundo ele, tem contratos públicos com órgãos públicos de lá, mas todas são investigadas por outras irregularidades. Em São Paulo, foram presos seis empresários e em Fortaleza, no Ceará, uma pessoa que atuava como operador financeiro.
A reportagem da TV Gazeta tentou falar com os dois empresários na delegacia, mas eles não quiseram se pronunciar. Os advogados de defesa informaram que vão se inteirar do caso.
Com informações de Daniela Carla e Caroline de Freitas.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta