Experiência e maturidade têm levado os profissionais com mais de 50 anos a serem valorizados no mercado de trabalho. Se há alguns anos eles eram demitidos por conta do avanço da idade, hoje a situação está bem diferente. Isso porque empresas passaram a disponibilizar vagas exclusivas para essa faixa etária ou ainda a desconsiderar a data de nascimento na hora de contratar.
De acordo com um levantamento divulgado pela Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), o número de trabalhadores com mais de 50 anos no Estado mais do que dobrou em 15 anos, indo de 86,3 mil em 2006 para 174,9 mil em 2021 — aumento de 102,6%. O estoque de emprego formal geral, nesse mesmo período, cresceu 33,1%. Isso significa que o ritmo de crescimento dos 50+ é quase três vezes maior que o geral.
Os dados são do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), ligado à Confederação Nacional da Indústria (CNI), a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que disponibiliza dados sobre mercado de trabalho para estatísticas.
Para a coordenadora de desenvolvimento humano e organizacional da Medsênior, Joicy Souza Mota, várias gerações em um mesmo ambiente agregam valor, além de haver muita troca de conhecimento, crescimento e aprendizado entre as equipes. A empresa costuma divulgar vagas exclusivas para profissionais mais experientes.
“Sabemos que a diversidade é importante para termos times mais engajados. Pensando no nosso negócio, que é um plano de saúde voltado para quem tem mais de 49 anos, as vagas afirmativas ganham destaque. A idade é irrelevante para nós”, comenta.
Os colaboradores mais maduros estão presentes na recepção, no call center, no departamento de recursos humanos, entre outros setores.
A auxiliar administrativo Vânia Maria Vieira Pralon, de 58 anos, ingressou na Medsênior por meio de uma dessas vagas afirmativas. Para ela, essa é uma oportunidade de ter contato com pessoas de todas as idades.
“Fiz faculdade de Administração quando minhas filhas já estavam criadas e, por um tempo, também precisei cuidar da minha mãe. Quando decidi voltar ao mercado de trabalho, enfrentei muita dificuldade, pois senti as portas se fecharem. Algumas vezes, nem retorno das entrevistas recebia. Quando apareceu uma oportunidade, não deixei passar. É muito gratificante estar trabalhando”, relata.
Vânia faz parte da equipe dos Recursos Humanos há dois anos e meio. Ela relata que não tem dificuldades para se relacionar com os colegas "Aqui no plano de saúde a idade não faz a menor diferença", complementa.
A coordenadora de desenvolvimento humano e organizacional da empresa, Joicy Souza Mota, destaca que, na hora de contratar, a avaliação do candidato é baseada na competência e no histórico profissional.
O equilíbrio entre as gerações no ambiente de trabalho é um dos motivos que levam o Grupo Carone a deixar de lado a idade na hora de selecionar novos funcionários, como explica o diretor de Gente e Gestão do grupo empresarial, Cosme Peres. Quem anda pelos corredores das lojas pode perceber a presença desses trabalhadores atuando como atendentes, caixas, repositores, entre outros cargos.
Ele lembra que o varejo costuma ser a porta de entrada para os jovens no mercado de trabalho. Na empresa, cerca de 60% dos colaboradores têm entre 18 e 34 anos. Segundo o diretor, a contratação é baseada no perfil profissional necessário para cada vaga e não há distinção de vagas para quem tem 50 anos ou mais. Peres comenta que, internamente, o grupo empresarial conta com o Programa Melhor Idade, que tem como objetivo valorizar aqueles que são mais maduros e quebrar barreiras dentro da empresa.
Cosme completa: "Os profissionais mais velhos são mais estáveis no mercado de trabalho e permanecem por um tempo maior no emprego. Existe preconceito no mercado contra os profissionais mais velhos e também nos ambientes internos. A contratação desses trabalhadores ajuda a quebrar o etarismo".
A especialista em diversidade etária, Luciana Lessa, aponta que iniciativas de inclusão já começam a aparecer em processos seletivos. Para ela, é preciso ter um olhar sensível para o tema.
“As empresas devem alavancar esse olhar e desenvolver um trabalho estruturado para inclusão como um todo. Não adianta nada atrair esses talentos e não haver uma mudança de engajamento com os demais membros da equipe. Há uma falta de conexão entre os colaboradores que faz com que os rótulos e conflito de gerações aconteçam”, comenta a especialista.
Segundo ela, empresas onde as equipes são diversas registram mais performance e inovação. Para Luciana, as ações devem ser direcionadas, e uma delas pode ser a mentoria reversa, ou seja, jovens e maduros ensinando o que sabem.
O diretor regional interino do Senai ES, Roberto Campos de Lima, destaca que “estamos vivendo uma nova realidade e precisamos elaborar e implementar políticas educacionais e de emprego que atendam a esse público. Requalificação é palavra-chave.”
Ele destaca que nos últimos cinco anos (2018 e 2022), no Senai-ES, houve um aumento de quase 300% no número de matrículas de alunos com mais de 50 anos. No ano passado, por exemplo, a maior procura foi por Iniciação Profissional e Aperfeiçoamento Profissional, com 802 e 808 matrículas, respectivamente. Os cursos mais demandados por esse público foram nas áreas de elétrica, vestuário e NR35.
Ele observa um aumento da procura de profissionais com mais de 50 anos na busca por qualificação e/ou recolocação no mercado. "O Senai ES tem acompanhado esse movimento e se preparado para atender esses alunos que querem se qualificar e garantir uma vaga de emprego”, ressalta Marcassa.
Hoje em dia, a diversidade já é um tópico mandatório nas empresas, deixando de ser algo diferencial. Além disso, empresas com diversidade de idades incentivam a troca de experiências e de perspectivas entre os colaboradores.
Ter um profissional que já trabalhou em vários cenários pode ser um diferencial estratégico para a empresa. Pessoas com mais experiência conseguem prever os movimentos do mercado e, dessa forma, antecipar problemas e encontrar a solução mais rapidamente.
Profissionais com muito tempo de carreira podem ter mais maturidade na hora de tomar uma decisão que pode contemplar pontos que profissionais mais jovens talvez não tenham percebido. Isso pode fazer com que o time tenha mais segurança na hora de tomar uma decisão. Eles ainda podem ser bons líderes, pois compartilham com o time os sucessos e os erros ao longo de sua carreira profissional.
Outro ponto é que esses profissionais costumam ter boas habilidades de comunicação interpessoal, pois desenvolveram essa característica ao longo da sua trajetória profissional.
Por já terem tido experiência profissional ao longo da carreira, é normal que eles conheçam pessoas de diferentes áreas e diferentes empresas. Para quem trabalha com prospecção de clientes, por exemplo, isso pode ser primordial. E por terem uma ampla experiência profissional, eles também têm grande networking e podem criar conexões importantes para a sua empresa.
Fonte: Denise Asnis, sócia fundadora da Taqe, plataforma de recrutamento e seleção digital
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