O Espírito Santo e o Brasil enfrentam um quadro de crise hídrica e energética. Os rios do Estado estão com volume abaixo da média, situação se repete em todo o país. Não à toa, essa é a pior seca registrada nos últimos 91 anos.
Diante desse cenário, diversos segmentos econômicos, a exemplo da Indústria, estão com o sinal de alerta aceso sobre possíveis impactos e, por isso, já têm adotado algumas medidas para economizar água e energia.
No território capixaba, indústrias da área de construção civil, de celulose, de mineração, de confecções, de rochas ornamentais, de transformação e de alimentos já incorporaram políticas sustentáveis e têm no radar novos investimentos que aliam o cuidado com o meio ambiente e a redução de custos.
Entre as ações implementadas estão o reúso e filtragem da água para reaproveitamento e sistemas tecnológicos que demandam menos volumes. Além disso, as empresas têm investido em fontes de geração de energia limpa, como a solar, a eólica e a biomassa.
Uma das empresas capixabas que faz o aproveitamento de água é a Viminas, onde os 98% da água usada na produção são reutilizados no processo e em atividades como limpeza da fábrica.
"Só não são reaproveitados 100% da água porque 2% evaporam. Esse foi um passo importante dado pela empresa há mais de uma década e que, hoje, contribui para nos deixar mais tranquilos, já que a orientação para a Indústria e para a população em geral é reduzir o consumo de água”, destacou o diretor-presidente da Viminas, Rafael Ribeiro.
Na construção civil, o diretor da iUrban, Leandro Lorenzon, observa que a contribuição do setor acontece de duas formas: a primeira no processo construtivo e a segunda quando o morador passa a usufruir de um imóvel sustentável.
“Durante a obra, usamos o dry wall, uma placa de gesso acartonada. Ela dispensa o reboco e o uso de água. Isso traz uma mudança muito significativa no consumo hídrico nos canteiros de obras. Já na fase do prédio pronto, há sistemas de reúso da água da chuva e do ar-condicionado.”
Dados de 2020 da Agência Nacional de Águas (ANA) indicam que o setor industrial representa 9,7% do consumo de água no Brasil. No Espírito Santo, conforme o mesmo levantamento, a Indústria responde por 2,28% de toda a água consumida.
Esse percentual coloca a indústria capixaba entre as dez do país que menos consomem água. No ranking nacional, o Espírito Santo é o oitavo colocado, atrás do Amapá (0,72%), Rio de Grande do Sul (1,07%), Rondônia (1,61%), Roraima (1,8%), Bahia (1,85%), Tocantins (2%) e Acre (2,15%).
A presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Cris Samorini, destaca que esse desempenho está relacionado à preocupação das empresas locais com a eficiência no uso da água.
De acordo com ela, por mais que já existam iniciativas para economia dos recursos naturais em curso, o momento vivido requer ainda mais atenção e a mobilização conjunta para o enfrentamento do problema.
“A indústria já vem tendo esse tipo de compromisso nos últimos anos e nós da Federação vamos sempre estimular as empresas a investirem cada vez mais em iniciativas nessa direção. Ao incentivarmos a gestão mais sustentável dos recursos hidroenergéticos e a adoção de tecnologias com esse fim, estaremos cuidando melhor do meio ambiente e trazendo mais eficiência e menos custos para as atividades empresariais.”
No início do mês de setembro, a Findes criou um Grupo de Trabalho Técnico para avaliar ações de curto prazo e propor alternativas de médio e longo prazo que possam diminuir o impacto de possíveis novas crises.
“Também promovemos uma reunião com o secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Christiano Vieira da Silva, que falou sobre o enfrentamento à crise hidroenergética no Brasil. Ou seja, a Findes, não está apática à situação. Vamos continuar contribuindo para apresentar soluções que beneficiem os capixabas e garantam o desenvolvimento do Espírito Santo", destacou Cris Samorini.
A Viminas Vidros Especiais, beneficiadora e transformadora de vidros localizada na Serra, construiu em seu parque industrial, no bairro Civit II, na Serra, uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE). Desde 2008, 98% da água usada na produção são reutilizados no processo e em atividades como limpeza da fábrica. A empresa só utiliza água potável para consumo dos colaboradores, manutenção do restaurante e do setor administrativo.
O Sindipães implantou painéis fotovoltaicos em sua sede que economia até 15% de energia. Esse é um plano-piloto para que as panificadoras tenham acesso à tecnologia e entendam como ela funciona. Os painéis também estão prestes a ser ligados à rede da EDP para injetar energia.
Além disso, há cerca de um ano foi feita uma parceria com a Liberum Energia, empresa que administra energia a partir do lixo. O sindicato tem mais de 100 padarias que têm descontos de até 15% na fatura de energia porque adquirem essa energia limpa. Além disso, a entidade sempre orienta os associados a buscarem soluções, entre elas a implantação de usinas fotovoltaicas.
Durante o processo construtivo dos edifícios, a iUrban usa o dry wall, uma placa de gesso acartonada que dispensa o reboco e, por consequência, elimina o uso de água no processo de construção das paredes. Estima-se que para rebocar, em ambos os lados, um metro quadrado de parede seria necessário o uso de um litro d’água. Outra iniciativa é o uso de tonéis. Ao longo do canteiro, embaixo de cada torneira, é posto um tonel para coletar a água que é usada pelos trabalhadores. Depois, essa água poderá ser reutilizada na obra.
Os prédios quando entregues contam com um sistema de coleta de água das chuvas. A água é armazenada em uma caixa d'água e utilizada na área comum dos condomínios para lavar e molhar plantas, por exemplo. Além da água das chuvas, também é coletada a água do ar-condicionado e dos splits para reúso.
A Suzano desenvolve diversas ações que estão em linha com a realidade de escassez hídrica do país. Algumas dessas ações estão expressas nas metas de longo prazo traçadas peça empresa, que reúnem compromissos a serem alcançados até 2030.
INDÚSTRIA - Uma das metas traçadas é reduzir em 15% a água captada nas operações industriais. Para isso a empresa vem implementando ações que visam à otimização do uso da água, o que inclui a troca de equipamentos para gerar mais eficiência hídrica e o uso de águas recuperadas em máquinas.
ENERGIA – A Suzano também planeja aumentar a energia renovável gerada pela empresa que é disponibilizada ao sistema elétrico nacional. No ES, essa produção permite que a Unidade Industrial de Aracruz seja autossuficiente em energia. Em âmbito corporativo, o excedente de energia é suficiente para abastecer uma população de 1,4 milhão de pessoas. A energia é produzida a partir de fonte 100% renovável (madeira cultivada). A meta de longo prazo é aumentar em 50% a disponibilidade de energia repassada ao sistema nacional. Para isso, a empresa trabalha em projetos voltados à ampliação da disponibilidade de vapor para energia, incluindo a melhoria da performance das turbinas e a otimização do consumo térmico.
FLORESTAS – A Suzano também vem desenvolvendo ações de manejo em suas áreas de plantio com o objetivo de ampliar a disponibilidade hídrica. Até 2030, a meta é ampliar essa disponibilidade em 100% das bacias hidrográficas consideradas críticas. Somente em 2021, a empresa vem manejando 4.500 hectares de áreas, com essa finalidade, em 44 bacias hidrográficas mapeadas como críticas em áreas da empresa nos estados onde atua.
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