O agravamento da pandemia do coronavírus fez nascer uma nova "corrente do bem". Além de ações individuais da população, empresas têm se mobilizado para ajudar como possível, seja com a doação de produtos, como máscaras e alimentos, e até de oxímetros e de oxigênio para tratar os pacientes contaminados pela Covid-19 no Espírito Santo.
Há ainda iniciativas para ajudar o Estado a abrir leitos hospitalares e um esforço para compra de vacinas pelo setor privado, sendo que, de acordo com a lei, parte dos imunizantes precisa ser doada ao Sistema Único de Saúde (SUS).
O presidente do movimento empresarial ES em Ação, Fábio Brasileiro, conta, por exemplo, que a organização tem feito uma ponte entre o setor privado e o poder público a fim de entender quais são as demandas existentes e mobilizar empresários a colaborar no enfrentamento à crise.
“Em relação à vacina, não tem muito jeito, pois a mesma dificuldade que o Estado está passando para adquirir nós também temos enfrentado. Mas há outras questões em que temos conseguido ajudar mais rapidamente, como a aquisição de leitos, medicamentos e equipamentos”, destaca.
A Suzano, por exemplo, anunciou a doação de 8 mil metros cúbicos de oxigênio hospitalar em cilindros que serão entregues à Prefeitura de Aracruz para distribuição aos postos de abastecimento das unidades municipais de saúde, conforme a demanda local.
“O atual cenário de disseminação da Covid-19 é preocupante. Estamos empenhados em buscar soluções para reverter o quadro e amenizar os riscos para a população. A doação de oxigênio é uma forma de potencializar o combate à doença, ajudando os profissionais da saúde que estão na linha de frente e os pacientes internados que necessitam deste insumo”, ressalta Daniel Ramos, gerente de Relações Corporativas da Suzano.
A empresa tem promovido diversas ações para ajudar no enfrentamento à Covid-19, e, desde o início da pandemia, já doou ao Espírito Santo 80 mil máscaras de tecido, 30 respiradores, 80 mil máscaras hospitalares e 58 mil litros de álcool 70% glicerinado.
Além dessas ações, a gigante da celulose também está envolvida em um projeto de cooperação empresarial, junto à EDP e o Grupo Águia Branca, para disponibilizar 60 leitos hospitalares exclusivos para o tratamento do coronavírus, que serão destinados aos hospitais Dório Silva e Dr. Jayme Santos Neves, na Serra, e no Hospital Roberto Silvares, em São Mateus.
As empresas vão disponibilizar os recursos – mais de R$ 2 milhões – e o ES em Ação coordenará, por meio de um convênio específico com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), a aquisição dos equipamentos necessários para estruturação dos leitos clínicos em caráter de urgência.
Os 60 leitos serão instalados em estruturas modulares (pré-fabricadas) e provisórias, de forma anexa aos hospitais, inicialmente por um prazo de 90 dias, que poderá ser prorrogado pelo período necessário para combater a fase crítica da pandemia.
"Todos os equipamentos contratados ficarão posteriormente como legado para a saúde pública do Espírito Santo", informaram as empresas em comunicado.
O ES em Ação segue conversando com outras companhias para alcançar o total de 100 leitos abertos pela iniciativa privada, conforme adiantou a colunista Beatriz Seixas.
Além disso, um grupo de indústrias está realizando a doação de 4.250 oxímetros ao Estado, para que seja feita a medição da oxigenação do sangue de pacientes contaminados pela Covid-19.
O anúncio foi feito nesta quinta-feira (1º), pelo governador Renato Casagrande, o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, e a presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Cris Samorini.
A aquisição dos equipamentos foi feita pela Findes com o aporte financeiro da EDP, Fortlev, Nestlé/Garoto, Buaiz Alimentos, Villoni Alimentos, Mondelez, Selita, Frisa, Real Café e Uniaves.
“O oxímetro foi uma demanda emergencial, para que os municípios tenham capacidade de controlar cada vez melhor o avanço da doença. Com isso, a gente reativou a 'Indústria do Bem', que foi um projeto que a gente fez no início da pandemia, para que as indústrias que estão sensibilizadas com esse momento que o Espírito Santo passa possam contribuir”, observou Samorini.
A doação dos equipamentos foi alinhada com a Secretario de Estado da Saúde após serem identificadas demandas emergenciais. Durante o anúncio da contribuição, o secretário explicou que tem havido uma diminuição de consciência sobre o risco da doença, e que muitos pacientes só tem buscado o serviço de saúde quando já estão em estágio mais severo da doença.
“O monitoramento, por meio do oxímetro, é uma aposta na atenção primária, e vai permitir acompanhar a situação para que os pacientes não cheguem em estado tão grave aos serviços de saúde", frisou o secretário.
Indústrias capixabas, por intermédio da Findes, também buscam adquirir doses de vacina contra o coronavírus. A tentativa de compra é feita com outras federações do setor e, de acordo com previsto na lei que autorizou a importação de vacinas pelo setor privado, parte dos imunizantes deve ser doada ao SUS.
No último dia 26, a Findes, por meio do Sesi, também entregou cinco capacetes respiratórios, os chamados Elmos – desenvolvidos pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) em parceria com o governo e outras instituições daquele Estado – , ao Hospital Estadual Dório Silva, para tratamento de pacientes contaminados pela Covid-19. Também está prevista a doação de mais cinco equipamentos do tipo ao Estado.
“Os Elmos podem ser utilizados nas UPAs e em qualquer unidade hospitalar como UTIs e enfermarias. Além disso, os capacetes evitam a intubação e diminui as suas consequências em cerca de 50% a 60% dos casos. Estamos esperançosos para que, além de todos os protocolos de segurança contra a pandemia, estes equipamentos colaborem na assistência aos pacientes”, explicou Cris Samorini.
A Vale também tem realizado contribuições. Além de ter realizado no ano passado uma parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e o Senai para manutenção de respiradores disponibilizados pelo governo Estadual, a empresa anunciou que vai doar ao governo federal medicamentos necessários para o procedimento de intubação de pacientes para redistribuição aos Estados.
"A mineradora encomendou da China ao menos 2,1 milhões de insumos como ampolas de sedativos, neurobloqueadores musculares e analgésicos opioides. Estão avançadas conversas com outras grandes empresas brasileiras para ampliar a ação solidária. Este ano a empresa também realizou a compra de 50 milhões de seringas para doação ao Ministério da Saúde. O primeiro lote, com 2 milhões de seringas, chegou ao Brasil no início de março."
Já a ArcelorMittal Tubarão informou que, desde o início da pandemia, tem implementado vários projetos e tem outros a serem executados, com parceiros locais, para enfrentamento da Covid-19. As ações realizadas até o momento já ultrapassam a ordem de R$ 1 milhão.
“Dentre as ações, destaque para a doação de 78 equipamentos de corte e costura para presos fabricarem cerca de 300 mil máscaras descartáveis por mês. Os equipamentos de proteção, que incluem ainda aventais e toucas, foram destinados aos profissionais do sistema de Justiça, como inspetores penitenciários, agentes socioeducativos, policiais militares e bombeiros.”
No Norte do Estado, em parceria com a Prefeitura de Linhares, a empresa contribuiu para a instalação de nove leitos de UTI para o Hospital Geral do município. A companhia esclareceu que também produziu e doou 150 mil face shields aos profissionais da saúde da Serra e do Estado, de modo geral.
Também foram implementadas ações sociais, como, por exemplo, entrega de kits de higiene pessoal e limpeza para Casas Lares, doação de água mineral a pacientes em isolamento, doação de cestas básicas e de cartões de R$ 50 cada a famílias carentes, entre outros.
Empresas como Petrobras, Log-in, Souza e Cruz, Comunitas e a Fundação Itaú para a Educação e Cultura também realizaram doações de materiais e serviços para auxiliar no enfrentamento à pandemia, segundo o portal de Transparência do Painel Covid.
No ano passado, a Petrobras, por exemplo, anunciou a doação de até 105 mil litros de óleo diesel combustível automotivo e até 55 mil litros de gasolina automotiva ao Estado, para abastecimento de ambulâncias, veículos de transporte de equipe médica e geradores de energia de hospitais e instituições sem fins lucrativos.
Há também doações em dinheiro. A Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) montou um monitor de doações para o combate ao coronavírus, e segundo o levantamento, até esta quinta-feira (1), mais de 612 mil empresas, institutos e famílias já haviam destinado R$ 6,72 bilhões para ações diversas em todo o país.
No Estado, já foram arrecadados mais de R$ 276,7 mil, sendo R$ 254,4 mil pela Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Estado do Espírito Santo, por meio do projeto Juntos Pela Vida, que tem como objetivo para levantar recursos para os hospitais filantrópicos capixabas durante a pandemia.
Já a Central Única das Favelas (Cufa) do Espírito Santo arrecadou mais de R$ 22,3 mil para aquisição de alimentos não perecíveis, produtos de limpeza e higiene pessoal, que serão distribuídos ás famílias das comunidades durante a pandemia.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta