> >
Entenda como o coronavírus afeta a economia, indústrias e empregos

Entenda como o coronavírus afeta a economia, indústrias e empregos

Já há quem diga que 2020 é um ano perdido para a economia. A bolsa de valores, por exemplo, caiu 25 mil pontos desde o início da semana

Publicado em 13 de março de 2020 às 06:00

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Coronavírus tem provocado baixas na economia ao redor do mundo. (Funtap - stock.adobe.com)

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 125 mil pessoas já foram infectadas pelo novo coronavírus em todo o mundo. O número de mortos ultrapassa os 4,5 mil. No Brasil, já são 77 casos confirmados, sendo dois no Espírito Santo, mas sem mortes registradas no Estado ou no país.

Os números são expressivos. E tão expressivos quanto os impactos na saúde causados pela pandemia são os efeitos dela na economia global: quedas nas bolsas de valores ao redor do mundo, paralisação de fábricas na China e Itália, suspensão de voos da Europa para os Estados Unidosestopim para a “guerra do petróleo” entre Rússia e Arábia Saudita, entre outros, são fatos que podem entrar na conta como impactos do coronavírus.

No Brasil, por exemplo, a doença e seus impactos fizeram com que a bolsa de valores B3 caísse vertiginosamente e precisasse interrompesse suas atividades por quatro vezes nesta semana – duas somente nesta quinta-feira (12). De 97 mil pontos no início da sessão de segunda-feira (9), o Ibovespa apresentou no fechamento desta quinta 72 mil pontos.

De acordo com especialistas, as perdas econômicas podem ser ainda maiores, conforme a evolução da doença nas próximas semanas. Samuel Pessôa, economista, sócio da consultoria Reliance e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), destaca que em todos os lugares em que o vírus circula a economia para.

“Isso porque as pessoas ficam em casa, deixando de trabalhar, de consumir e evitando aglomerações”, afirma.

E é fácil entender a lógica deste problema. Sem que as pessoas trabalhem não há produção e a oferta de produtos diminui. Sem sair de casa, o consumo reduz e as empresas não conseguem monetizar sua produção. Com o passar do tempo, a receita das empresas cai, mas as despesas – aluguel, salário dos funcionários, empréstimos bancários e outras dívidas – devem continuar sendo pagas.

“O risco que há é se os mercados financeiros e bancos centrais vão conseguir prover liquidez e crédito para aquelas atividades econômicas que vão ser perturbadas por essa crise. Uma empresa, por exemplo que precisa pagar uma dívida e não tem receita porque ficou com a atividade parada vai precisar disso”, avalia Pessôa.

Aspas de citação

O temor global é de que essa crise gere uma falta de liquidez, provocando uma ruptura na economia em função de contratos não serem cumpridos

Samuel Pessôa
Economista, sócio da consultoria Reliance e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV)
Aspas de citação

O economista Eduardo Araújo cita que até mesmo negócios que promovem pequenas aglomerações de pessoas podem ser afetados. “Existe toda uma conexão – shoppings, restaurantes e outros negócios que estavam funcionando normalmente podem ter queda de receita. Com isso, perdem os empresários e investidores dessas áreas.

Ele lembra ainda que o Espírito Santo já teve uma experiência na qual as pessoas não conseguiram seguir com suas atividades normais: a greve da Polícia Militar, em 2017.

“Podemos dizer que esse fato foi um laboratório. As pessoas continuaram consumindo o básico, mas evitavam sair de casa, muitas empresas ficaram fechadas… Houve grande prejuízo. E existem empresas que conseguiram se recuperar relativamente rápido e há as que não conseguiram se recuperar”, lembra.

EXPORTAÇÕES SEGUEM TENDÊNCIA DE QUEDA DA ECONOMIA

Não bastasse a redução da atividade econômica, com pessoas produzindo e consumindo menos, o coronavírus pode fazer com que o Espírito Santo tenha prejuízos maiores que a média nacional. Como o Estado é focado no comércio exterior, deverá haver uma queda das exportações.

“A gente tem observado uma queda da demanda global por insumos. A China tem produzido menos, a Itália também, então os produtos vendidos para esses países devem ser menos comercializados nesses dois primeiros trimestres”, avalia a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara.

China e Itália são dois grandes parceiros comerciais do Espírito Santo. Para esses países as empresas do Estado vendem petróleo, celulose, minério, pelotas, aço, rochas ornamentais, entre outros produtos. Estados Unidos, que também vem registrando o aumento no número de casos é outro importante parceiro do Espírito Santo nos negócios.

Dados do Ministério da Economia apontam uma tendência de queda nas exportações do Espírito Santo. No entanto, os dados são referentes apenas aos meses de janeiro e fevereiro, quando a doença ainda não havia causado tanto impacto.

Ainda assim, é possível afirmar que no primeiro bimestre do ano o Espírito Santo exportou menos – US$ 800 mil, contra US$ 1,3 milhão no mesmo período do ano passado, uma diferença de meio milhão de dólares, equivalente a R$ 2,3 milhões na cotação desta quinta-feira.

R$ 2,3 milhões
É quanto o Estado exportou a menos em 2020 na comparação com 2019

Segundo Zara, os impactos na economia internacional – dando reflexos na economia local – devem ser sentidos até o fim do primeiro semestre, com perspectiva de melhoria nos últimos seis meses do ano.

EMPREGOS PODEM FICAR AMEAÇADOS

Redução de exportações, diminuição da produção e do consumo. Com um cenário desfavorável como esse, a segurança dos empregos deve cair consideravelmente, avaliam os especialistas.

Para o doutor em Finanças e Contabilidade e professor da Fucape Fernando Galdi, o próprio fato da economia crescer menos já coloca determinados empregos em risco. “Muitos dos investimentos que estavam previstos devem ser revistos ou atrasados. O coronavírus já causou impactos negativos na atividade econômica e isso certamente vai ter impacto nos empregos”, avalia lembrando que o Estado e o país vinham numa tendência de redução do desemprego.

Thais Zara também concorda que pode haver redução no nível de emprego. “Pontualmente a gente pode ter impacto sobre a geração de empregos – até mesmo os empregos por conta própria podem ser afetados, mas deve ser um efeito transitório. Devemos passar por algumas semanas mais complicadas, mas com tendência de normalizar depois”, pondera Thais Zara.

EM MARÇO, 2020 JÁ PODE SER UM ANO PERDIDO

Na virada do ano talvez nem o mais pessimista dos economistas teria coragem de afirmar que 2020 seria um ano perdido. Bastaram dois meses e alguns dias para que esse panorama mudasse. Hoje, é preciso certa dose de otimismo para acreditar num crescimento robusto do país.

Aspas de citação

Ao que tudo indica, 2020 é um ano praticamente perdido. Principalmente se comparado ao que era esperado no início do ano. Todas as projeções já estão frustradas

Fernando Galdi
Doutor em Finanças e Contabilidade e professor da Fucape Fernando
Aspas de citação

“Agora, o quão perdido o ano estará vai depender do decorrer da crise para que a gente consiga entender o que vai acontecer. Ninguém mais acredita que a economia vai crescer mais que 2,5%, 3%. Hoje já está se falando em crescer 1% e com sorte. Na medida da evolução do coronavírus a situação pode piorar ainda mais”, acrescenta.

Este vídeo pode te interessar

Thais Zara diz que já existem carregamentos estatísticos prevendo um crescimento brasileiro de 0,8% em 2020. “É claro que a gente ainda tem que monitorar o tamanho que essa crise ainda terá. É possível que tenhamos a maior queda no segundo trimestre e uma retomada no terceiro e quatro trimestres, mas ainda é só uma expectativa”, comenta.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais