A economia brasileira segue em marcha lenta. Se no início de 2019 economistas e especialistas em mercado projetavam um ano em que o país iria engatar a segunda marcha e acelerar, o resultado frustrante do Produto Interno Bruto (PIB que é soma de todos os bens e serviços produzidos na economia), mostra, na verdade, que o Brasil estagnou e está quase parando.
O crescimento de apenas 1,1% do PIB no ano passado divulgado nesta quarta-feira (4) pelo IBGE foi o menor dos últimos três anos. A soma das riquezas produzidas no país ficou próxima ao patamar de 2013 e, por isso, economistas já chamam esta década de perdida e apontam que o país ainda está em crise.
E quais os motivos para mais um ano de "Pibinho"? Segundo dados do próprio IBGE, pesaram para o resultado baixo a primeira queda em cinco anos das exportações brasileiras, de -2,5%. Outro componente importante para a economia, que é o consumo do próprio governo, também teve queda de 0,4%.
A indústria, que já vinha tendo anos ruins desde a crise, cresceu apenas 0,5%. Já o consumo das famílias, que sustentou o aumento de 1,3% registrado no PIB tanto de 2017 quanto de 2018, teve o resultado mais fraco desde 2016, crescendo apenas 1,8%.
Para especialistas, o resultado aponta para uma falta de confiança tanto de investidores quanto de consumidores em função das incertezas econômicas e, sobretudo, políticas. Na avaliação do economista Orlando Caliman, "o governo ficou o ano de 2019 quase todo titubeando em muitas decisões importantes" e o "país ainda vive um terremoto no campo político".
Caliman destaca ainda a demora na aprovação da reforma da Previdência. "Foi uma reforma que demorou muito para sair por falta de articulação do próprio governo. Quando saiu, a gente esperava um fôlego para a economia, mas aí começaram a aparecer novas questões na política que não ajudaram".
Com isso, o economista destaca que os investidores são afugentados. "As decisões de investimentos que estão em curso ou quase saindo acabaram sendo postergadas por falta de confiança. O investidor só inicia um projeto se tiver um mínimo de segurança que as coisas lá na frente vão estar melhores. E esse nível de confiança está caindo mais a cada nova polêmica".
O atraso na articulação das reformas também foi apontado como um dos motivos pelo economista Eduardo Araujo, que ressalta que a falta dessas sinalizações tem impactos além da paralisação de investimentos e abalam também a competitividade e a produtividade do país, perdendo concorrência no mercado externo.
"A gente adiou por muito tempo as reformas estruturais e isso cada vez mais impacta a nossa produtividade. A gente precisa de mudanças que possam alterar o ambiente de negócios do Brasil, como a reforma tributária e a resolução da questão do déficit do setor público, que passa pela reforma administrativa e outras, porque isso ocasiona atrasos em obras de infraestrutura tão importantes", diz Araujo.
O cenário externo também não ajudou. Em um ano de guerra comercial acirrada entre Estados Unidos e China, o mercado reagiu mal. "E tem ainda a pauta exportadora pouco diversificada, baseada muito em commodities como soja, petróleo e minério. Isso deixa a gente à mercê do mercado internacional", frisa Araujo.
O resultado fraco do país acaba influenciando também a economia capixaba, refletindo a falta de confiança para investidores locais. Isso se soma a fatores negativos internos do Espírito Santo, como a queda drástica da produção industrial em 2019 puxada pelo ano ruim dos setores de petróleo, minério e celulose.
Para os economistas, o resultado do PIB capixaba de 2019 previsto para ser divulgado no final deste mês pelo Instituto Jones dos Santos Neves deve fechar no negativo, entre -1% e -1,5%. Isso tanto pelo cenário nacional quanto pelos fatores locais como a tragédia de Brumadinho, que afetou a produção de pelotas de minério, por exemplo.
"O Espírito Santo deve ter uma queda no PIB em 2019 e a perspectiva para 2020 também não é muito satisfatória, tanto pelo cenário nacional quanto pela falta de uma projeção de melhora na mineração. Tem o coronavírus ainda, que reduz a demanda externa e isso pode afetar a nossa economia, que é mais aberta, porém pouco diversificada", avalia Eduardo Araujo.
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