A elevação da Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil, anunciada nesta quarta-feira (17), era aguardada com expectativa pelo mercado. A taxa básica de juros foi para 2,75% ao ano, tendo seu primeiro aumento desde 2015.
A taxa, que é o principal instrumento para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), estava na mínima histórica de 2% ao ano há sete meses. Os preços, por outro lado, não tiveram a mesma estabilidade.
A decisão de elevar a Selic em plena crise econômica e piora da pandemia da Covid-19 não é das mais populares. Contudo, com a inflação em alta, em um ritmo de 5,2% ao ano, a expectativa é que o BC comece agora a reverter a baixa da taxa de juros para barrar o risco de descontrole de preços, sobretudo em 2022.
O economista José Márcio Soares de Barros observa que o percentual de reajuste aplicado, de 0,75 ponto percentual, foi inesperado. O mercado, até então, vinha precificando uma elevação de 0,25% a 0,5%, que faria com que a taxa passasse a, no máximo, 2,5% ao ano.
Ele compara o aumento da Selic a um remédio para controlar uma doença, neste caso, a inflação. “Não se esperava que fosse chegar a 2,75% agora. Mas era necessário? Era. Temos uma maneira de controlar a febre no paciente (país) que é justamente aplicar essa política de elevação de juros. Quando você aumenta a taxa de juros, o crédito encarece e há uma diminuição de consumo.”
Segundo o economista, a aposta do Banco Central na redução da demanda como forma de redução nos preços não é surpresa, mas sim os sinais que o Copom emitiu desde já. No próprio anúncio de aumento da taxa, os membros do Comitê avisaram: a taxa vai continuar subindo nas próximas reuniões e deve fechar o ano em 4,5%.
A Selic é usada pelo Banco Central como ferramenta de controle da inflação. Em linhas gerais, quando a inflação está baixa, os juros caem para estimular o consumo. Quando está alta, os juros servem para reduzir o consumo e forçar uma queda nos preços. Tudo isso é feito com o objetivo de que a inflação fique dentro da meta estabelecida para o ano.
Na visão do economista Eduardo Araújo, esse movimento de alta nos juros - em um momento em que alguns consideravam que nem sequer deveria ter uma alta por conta do ritmo de desaceleração da atividade econômica e pelo impacto da medida no endividamento público - revela que o Copom está de fato preocupado em garantir a credibilidade da política monetária. Ou, seja, que a inflação fique dentro da meta.
"O resultado disso é que a atividade econômica, que já não apontava para um caminho de crescimento, vai continuar em desaceleração. O custo do crédito deve subir um pouco mais, mas de outro lado, a inflação estará sob controle. A política de vacinação coletiva mais agressiva é o que pode ajudar a salvar a economia desse quadro de recessão ou depressão."
Ricardo Lacerda, presidente do BR Partners Banco de Investimentos, afirmou que mesmo com a economia mais fraca, a demora na aprovação das reformas e a deterioração fiscal inviabilizam a manutenção de uma taxa real de juros negativa no Brasil.
"A mudança de comportamento do BC, com um viés mais duro, é acertada. A política monetária precisava de um choque de credibilidade para conter a desvalorização excessiva da moeda, com evidentes consequências inflacionárias".
O próprio Copom ressaltou no comunicado que informou a nova Selic que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco. "Por um lado, o agravamento da pandemia pode atrasar o processo de recuperação econômica, produzindo trajetória de inflação abaixo do esperado."
Além disso, o BC informou que um prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar o risco fiscal.
*Com informações das agências Estado e Folhapress
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