O Espírito Santo alcançou, em 2021, saldo recorde de contratações com carteira assinada. O número de postos criados superou em 52.377 o quantitativo de vagas encerradas ao longo de doze meses. É o melhor resultado em uma década, segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, divulgados pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).
O levantamento também mostra que o mercado de trabalho formal do Estado encerrou 4.698 postos com carteira assinada em dezembro de 2021, uma redução já esperada para o mês, quando é comum a demissão trabalhadores com contratos temporários, principalmente após o Natal.
Naquele mês, apenas comércio (+865) registrou saldo positivo de contratações, enquanto serviços (-2.594), indústria (-1.810), construção (-754) e agropecuária (-405) fecharam vagas.
No acumulado de 2021, entretanto, houve expansão de postos formais em todos os grandes setores da atividade econômica capixaba, com destaque para a área de serviços, que registrou mais de 22,4 mil vagas no ano passado, e para o comércio, com 15 mil novos contratados.
O bom resultado, registrado apesar de dois picos severos da Covid-19 ao longo do ano passado, que abalaram a economia capixaba, foi comemorado pelo governador Renato Casagrande nas redes sociais.
O diretor de Integração do IJSN, Pablo Lira, observa que o desempenho do mercado formal no ano passado pode ser atribuído a uma série de fatores, entre eles o avanço da vacinação contra o coronavírus, que permitiu maior flexibilização das atividades econômicas.
Por outro lado, não se trata de um resultado ocasionado exclusivamente por conta dos acontecimentos do último ano, e sim de uma trajetória mais ampla.
“Há dez anos, Espírito Santo tinha um saldo de emprego recorde, com aproximadamente 40 mil postos de trabalho formais. Naquele período, tínhamos um cenário nacional favorável, com crescimento robusto da economia, equilíbrio das contas públicas, superávit, e o Estado se beneficiou desse bom momento. Depois vieram as crises e, no auge, em 2015, tivemos saldo negativo de mais de 40 mil vagas de trabalho.”
O especialista observa que o Estado adotou uma série de medidas para tentar conter o avanço do coronavírus, como restrições às atividades, exigência de isolamento, entre outras ações que, embora a princípio tenham parecido duras, permitiram retornar a um relativo crescimento mais rapidamente do que se esperava.
Posteriormente, com a chegada da vacina, foi possível flexibilizar ainda mais as atividades. As empresas, inclusive as que adiaram investimentos e deixaram de contratar no auge da crise, tornaram-se mais otimistas, inclusive porque havia mais dinheiro circulando em função de diversos auxílios financeiros criados durante a pandemia.
"Há um terceiro fator: a conjuntura econômica do Estado. Traçando novamente um paralelo com 2011, a diferença em 2021 foi que tivemos um país com contas públicas desequilibradas e descontroladas, uma tendência de alta da inflação, alta das taxas de juros e número elevado de desempregados. O cenário no Brasil não é favorável. Está cheio de incógnitas, mas o Espírito Santo ainda assim tem conseguido prosperar.”
Lira chama a atenção para a gestão fiscal capixaba, que há dez anos rende ao Estado a Nota A do Tesouro Nacional em capacidade de pagamento, mas também uma série de ações que tem resultado na atração de investimentos mesmo em momentos de crise. Aliado a isso, políticas sociais que visam qualificar trabalhadores também permitem que mais pessoas encontrem empregos.
Apesar disso, o desemprego ainda é um problema que está longe de ser superado. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Espírito Santo conta ainda com mais de 200 mil pessoas desocupadas, além de outros milhares desenvolvendo atividades informais, isto é, sem carteira de trabalho.
O economista Eduardo Araújo pondera que, para este ano, ainda há uma série de desafios a serem superados. Ele observa, por exemplo, que mesmo que o número de pessoas sem ocupação venha reduzindo nos últimos trimestres, a renda da população tem decaído. Uma das razões está diretamente ligada ao aumento da inflação, que implica em mais custos para empresas, e também corrói salários.
"Tivemos no ano passado um processo de retomada do crescimento econômico em razão do maior equilíbrio da pandemia. Para este ano, temos mais alguns desafios: as taxas de juros mais altas, para tentar conter a inflação, por exemplo, podem fazer com que empresas tenham menos recursos para contratar. Também tem havido um impacto da quarta onda na rotina das empresas, que estão com menos funcionários e também têm registrado aumento de custo e dificuldade para encontrar alguns insumos."
Somado a estes fatores, o economista relembra que 2022 é ano eleitoral, o que traz muita incerteza à economia. Desta forma, os resultados para este ano ainda são uma incógnita.
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