O consumidor já percebeu que o preço do leite, dos derivados e dos ovos de galinha disparou. Alguns desses produtos chegaram a acumular alta de mais de 20% apenas nos cinco primeiros meses deste ano na Grande Vitória, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Uma caixa com um litro de leite longa vida, por exemplo, custa em média R$ 7,07 — sendo que em alguns estabelecimentos já chega a custar quase R$ 8, conforme levantamento realizado pela reportagem. Em julho de 2021, apenas um ano antes, pesquisa de preços do Procon Vitória apontava que, na Capital, o maior valor cobrado pelo produto era R$ 4,68.
Derivados do leite também encareceram. O quilo do queijo muçarela, por exemplo, já custa em média R$ 62,97, mas consumidores relatam pagar ainda mais caro. Há um ano, o preço variava entre R$ 33,90 e R$ 44,99.
A disparada de preços preocupa, por exemplo, a dona de casa Ivelina Coutinho, 42 anos, que disse ter percebido um aumento expressivo ao realizar compras em um estabelecimento de Cariacica. "Na quarta-feira passada (29), fui ao mercado e comprei leite custando R$ 6,78 o litro, além de muçarela a R$ 49,90 o quilo. Um absurdo! Quando foi no sábado (2), o mesmo leite estava a R$ 9 e o queijo a R$ 69,90. Fiquei chocada com a diferença em tão poucos dias.”
Não é, porém, um problema exclusivo da Região Metropolitana. A situação é replicada não apenas no resto do Estado, mas em todo o país. O período de entressafra do gado é uma das razões por trás da alta recente de preços. Entretanto, o encarecimento de leite e derivados não é de agora, diversos outros fatores influenciam no preço.
“Com a alta do preço das carnes, muitos produtores optaram por vender mais animais, inclusive os leiteiros, para o abate, o que resultou em menor disponibilidade de leite”, explicou José Carlos Buffon Junior, Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Espírito Santo (IBEF-ES).
Ele observa ainda que o milho ficou mais caro, tanto por causa do clima, que afetou a produção, quanto pela alta do dólar e a guerra na Ucrânia. Isso também afetou o preço de outros produtos. Uma dúzia de ovos vermelhos, cujo preço não passava de R$ 7,69 há um ano, já chega a custar R$ 11,90, dependendo do estabelecimento.
“Nesse caso, além do encarecimento da ração, houve aumento da demanda. Como a carne estava muito cara, as pessoas passaram a consumir mais ovos, que eram uma opção mais acessível, e isso fez com que o preço desse produto também subisse.”
O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), Matheus Peçanha, observa que custos acessórios também têm afetado o preço desses alimentos, como a energia elétrica e o diesel, que tem consequências no frete e o problema da escassez de fertilizantes.
“Esses custos mais caros, reduziram a lucratividade do setor, provocando desinvestimento. A queda de produtividade pelos custos mais caros, somado ao desinvestimento. gerou uma redução severa na produção final. Desta forma, com menos produção, o preço final fica mais caro”, explicou o economista.
Ele observa que, no momento, existe uma “tempestade perfeita”, isto é, o cenário que já era delicado foi agravado por uma série de acontecimentos inesperados, resultando na situação caótica atual.
“Tivemos principalmente problemas climáticos afetando a qualidade das pastagens e a produtividade da ração. Fora isso, houve aumento no custo de produção. E estamos entrando agora em um período de entressafra, que resulta em um preço ainda mais elevado.”
O economista pondera que os preços devem continuar elevados até o final do trimestre, quando chega a primavera, e que a queda esperada nos preços de energia elétrica e combustíveis devem trazer algum alívio.
“Os preços devem permanecer mais elevados por mais algum tempo, mas devemos ter uma desaceleração no ritmo de aumento porque estamos chegando num nível de estrangulamento em que os varejistas não vão conseguir continuar aumentando sem perder demanda.”
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