Bancos e fintechs estão lançando uma ofensiva para se tornar a primeira instituição onde o cliente terá uma chave no Pix, novo serviço de transferência financeira do Banco Central.
O novo modelo de pagamento, que será instantâneo e vai funcionar 24 horas por dia, deve ser gratuito na maioria das vezes e deve aposentar as operações de TED e DOC.
A questão é que muitos consumidores podem ter estranhado o por quê de os bancos estarem criando diversos incentivos para os clientes cadastrarem a chave Pix, mesmo sabendo que isso vai minguar as receitas bancárias com as transferências atuais, que são bem mais lucrativas que o sistema instantâneo. A agência americana de classificação de risco Moody's estima que os bancos brasileiros percam até 8% do faturamento com a mudança.
Como a maioria dos brasileiros bancarizados tem conta em mais de uma instituição financeira, a corrida dessas empresas é para que seus clientes cadastrem primeiro suas chaves Pix com elas. O próprio Banco do Brasil admite tática: "O objetivo é fazer com que os clientes cadastrem no BB as três chaves principais - CPF, telefone e e-mail", informou.
O professor de Finanças da Fucape e doutor em Ciências Contábeis Fernando Galdi avalia que o movimento se dá pela restrição de uma chave estar atrelada a uma única conta.
"É uma tentativa de sair na frente e ter um maior volume de transações, uma vez que a tendência é que o cliente use mais o Pix onde ele cadastrou chaves mais simples, como celular e e-mail. Já a chave alfanumérica, que o banco gera números e letras aleatoriamente, é muito mais difícil de decorar e deve ser menos usada", analisa.
Além de uma tentativa de fidelização dos atuais clientes, a tática também mira atrair novos consumidores, de acordo com o especialista em automação fiscal Bruno Aguilar Soares. "É importante trazer essas pessoas para experimentar. Captar esse cliente agora é uma forma de ampliar seus negócios, diante da redução de custos que fará as pessoas optarem pelo Pix. De certa maneira, é uma forma de proteção dessas empresas", explica.
"As empresas querem garantir [que o cliente tenha chave Pix com elas], porque uma vez que ele começou a utilizar numa plataforma A, ele tende a continuar usando mais por ela, onde é mais fácil, até quando tiver toda essa gama de produtos. E como você pode ter em mais de uma instituição, os bancos e fintechs e outros tipos de empresas vão ter que disputar esse mercado", afirma Soares.
Para os especialistas, deve-se olhar para este fenômeno ainda pelo lado de uma atualização necessária para a sobrevivência. Seria um mudança tecnológica comparável à das operadoras de telefonia móvel, que hoje ofertam ligações e torpedos apenas como serviços acessórios e têm a internet móvel como carro-chefe, uma vez que o pensamento do consumidor mudou e elas se viram forçadas a acompanhar essa evolução.
"Aquele banco tradicional em que o cliente fica horas na fila para sacar e fazer um pagamento está fadado a sumir. É uma nova realidade. As pessoas querem bom atendimento, bons serviços e custos baixos. E isso está começando a acontecer", comenta Fernando Galdi. Ele destaca ainda que as instituições que não investirem pesado para atender a esses desejos dos consumidores vão perder clientes.
"A gente tem o Pix começando agora, o open banking vindo aí, e tudo isso é um ambiente novo e desafiador para os bancos. São medidas para aumentar a competitividade no setor. Então, eles vão ter que se reinventar para não perder clientes para concorrentes com custos menores, que oferecem mais atrativos e menos burocracia. Aqueles bancos que não se adequarem a essa nova realidade, investindo maciçamente em tecnologia e tendo bons incentivos para manter o cliente, devem perdê-lo", diz.
O especialista em automação fiscal Bruno Aguilar Soares lembra ainda que a chegada dessas novidades vai promover uma maior bancarização no país, trazendo mais oportunidades para bancos e outros empresas. "A competitividade vai ser muito presente no setor. Como isso vai incluir bancos, fintechs, empresas de comércio eletrônico, de telefonia e etc, cada um vai procurar ampliar seu ecossistema de clientes e buscar inovações que vão trazer um novo cenário nos meios de pagamentos".
No final das contas, o grande beneficiado por toda essa competição será o consumidor, segundo Soares, que terá taxas cada vez menores e serviços de mais qualidade.
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