O mundo assiste a um verdadeiro derretimentos dos preços do petróleo. Na segunda-feira, o preço do óleo referência nos Estados Estados, o WTI, caiu para -US$ 37,63, atingindo um preço negativo pela primeira vez na história. Ou seja, os produtores estão pagando para quem os ajudar a esvaziar os estoques, abarrotados em todo o mundo em função da queda na demanda causada pela pandemia do coronavírus.
Esses mesmo barril, que há um ano custava US$ 66, teve uma leve recuperação de segunda para cá, mas continua num patamar extremamente baixo: US$ 13,78 na cotação desta quarta-feira (22) na Bolsa de Nova York para contratos de entrega em junho.
Já o Brent, tipo de barril referência no mercado europeu e brasileiro, também vem caindo e nesta quarta chegou a ser cotado abaixo dos US$ 16, mas terminou o dia em US$ 20,37 na Bolsa de Londres (há um ano, estava em US$ 74).
Essa desvalorização, que até era esperada em escala bem menor diante da previsões que existiam antes da pandemia de desaceleração da economia global em 2020, se agravou com a "guerra nos preços" do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia, que fez os estoques mundiais ficarem cheios mais rápido, e acelerou em níveis brutais com o avanço do vírus e o isolamento social adotado, o que faz a demanda pelo óleo reduzir, e muito, sobretudo em refinarias.
Os impactos disso tudo variam. Há sim um lado bom, sobretudo olhando para o bolso do consumidor. Mas também há más notícias para o poder público, com perda da arrecadação, e até na criação de empregos, tão fundamental em um momento de crise como esse.
O efeito mais visível e perceptível para a maior parte da população será no preço da gasolina, que aliás já vem em sucessivas quedas tanto nas refinarias - como a última redução de 8% anunciada na segunda (20) pela Petrobras -, como pelos próprios postos de combustíveis, que estão cortando o valor do litro para atrair clientes em meio a baixa circulação de veículos na pandemia.
Segundo o economista Eduardo Araújo, ao menos uma parte da queda no barril deverá chegar na ponta para o consumidor de gasolina e diesel. Hoje, a forma de cálculo do preço da gasolina no país é levando em conta o valor do barril e o dólar, sendo que este último está em alta e batendo sucessivos recordes.
"Há esse lado bom, mas é preciso ter clareza que a proporção da queda no preço do combustível não vai ser a mesma da do petróleo porque a outros fatores que interferem nisso. A Petrobras até tem feito redução do preço nas refinarias, mas nem sempre isso tudo é repassado diretamente ao consumidor. Os postos podem aproveitar o momento para recompor a margem de lucro perdida nos últimos meses, por exemplo", explica.
Outro reflexo no bolso do consumidor seria através do alívio na inflação, avalia o economista. "Quando o preço do combustível cai, isso contribui para uma variação menor nos preços ao consumidor, que é a inflação. Ou seja, aumenta o poder de compra das pessoas".
É na macroeconomia que recaem os efeitos negativos do preço baixo do barril de petróleo. O principal, sem dúvidas, é um tombo na arrecadação pública, tanto com o ICMS (imposto estadual) que incide sobre a gasolina, mas, sobretudo, com a queda no pagamento de royalties sobre a produção.
Esses recursos são compensatórios e pagos pelas petroleiras através de um calculo que considera o total produzido e o valor do barril. Neste momento, ambos estão em queda. Só a produção de petróleo no Espírito Santo, segundo estimam fontes do setor, deve cair 15% neste ano conforme A Gazeta noticiou.
O governo do Estado já estimava perder R$ 1,3 bilhão neste ano com as quedas do valor do barril até a "guerra nos preços", uma conta que considera a projeção de arrecadação com royalties e participações especiais que haveria em 2020. Como de lá pra cá o cenário piorou, a queda deve ser ainda maior.
"Grande parte da nossa arrecadação vem de recursos do petróleo e isso impacta diretamente a realização de investimentos públicos", comenta Araújo, que continua: "Cairão os royalties, a receita do ICMS que incide sobre a gasolina, e também os repasses para os municípios desses recursos".
Conforme o economista pontuou, isso afeta diretamente a capacidade dos governos realizarem investimentos, destino dos recursos do petróleo segundo a legislação. Assim obras públicas podem ser paralisadas ou nem saírem do papel, afetando a criação empregos e o desenvolvimento econômico.
Araújo lembra ainda do impacto no investimento privado. Conforme A Gazeta já revelou, grandes projetos do setor de petróleo devem ser engavetados no curto e médio prazo por empresas de grande a pequeno porte, "pela falta de viabilidade econômica causada pelo valor tão baixo do barril".
Isso se reflete no mercado de trabalho, com a possibilidade de demissões uma vez que a produção será reduzida drasticamente. Além disso, "os empregos que seriam criados com esses investimentos previstos no curto prazo também ficam adiados", comenta o economista.
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