Os investimentos em energia renovável têm aumentado substancialmente nos últimos anos. No Espírito Santo, a geração de eletricidade por meio de biomassa e luz solar e combustíveis fósseis, por exemplo, já equivale a 288,4 mil quilowatts (kW), suficiente para abastecer praticamente três municípios com consumo médio de 100 megawatts (mW), ou ainda uma cidade como Colatina, na região Noroeste do Estado.
Segundo informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), atualmente o Estado tem 69 usinas instaladas, com potência de aproximadamente 1,61 milhão de kW, podendo chegar a 1,66 milhão de kW. São empreendimentos voltados para a geração de energia de modo geral, inclusive por meio de fontes hídricas e fósseis, e distribuídos pela Grande Vitória e também por municípios como Linhares, Aracruz, Itapemirim, entre outros.
Como o sistema energético do país é interligado, nem sempre a energia que se consome no Estado é produzida internamente. Mas, para se ter ideia, a capacidade de produção local já consegue superar o consumo médio de eletricidade em território capixaba, que, no mês de janeiro, ficou em torno de 1,54 milhão de kW, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Enquanto 26 empreendimentos ainda estão ligados à produção de energia elétrica a partir de fontes hídricas, com potência que pode chegar a 549 mil kW, e outros 28 produzem a partir da matriz fóssil (óleo), com capacidade de geração de até 825,5 mil kW, outros 15 produzem a partir de fontes alternativas (solar e biomassa), com potência que pode chegar a 288,4 mil kW. Isto é, representam cerca de um quinto do total.
Também há casos de micro e mini produtores, inclusive residenciais, que geram energia para consumo próprio. Ao todo, são 11.532 consumidores realizando a chamada geração distribuída no Estado, com potência instalada de 145,3 mil kW, equivalente a cerca de 9% do total, de acordo com dados da Aneel.
A maior parte das usinas, entretanto, pertence a empresas, sendo companhias especializadas em energia, indústrias do ramo da metalurgia, celulose, gêneros alimentícios e até igrejas.
A Suzano, por exemplo, produz energia renovável a partir do eucalipto, que é picado, transformado em cavaco e inserido em digestores, que separam os componentes que serão utilizados para produção de celulose de mercado e demais produtos derivados. Depois, parte dos químicos utilizados nesse processo é recuperado por caldeiras, e, a partir queima de resíduos de biomassa, surge um vapor que é transformado em eletricidade.
A ArcelorMittal Tubarão, por sua vez, inaugurou recentemente um projeto de geração de energia solar, com a instalação de sistema fotovoltaico no modelo “Carport” para 60 vagas de veículos simples, utilizando estruturas metálicas de solução da própria companhia. Com investimento estimado em R$ 1,7 milhão, o gerador fotovoltaico será capaz de produzir cerca de 150kWp (Watt-Pico), alimentando o prédio de inovação tecnológica da empresa.
A companhia, entretanto, é autossuficiente desde 1999, e utiliza os gases provenientes de seus processos produtivos para gerar a própria energia em seis centrais termoelétricas. Além de produzir para seu próprio consumo, nos últimos anos a empresa também tem comercializado o excedente.
Como o sistema de energia nacional é interligado, mesmo que uma empresa esteja situada no Espírito Santo, quando repassa a energia que “sobra”, beneficia não somente o Estado, mas outras regiões do país. O mesmo acontece quando companhias em outros locais compartilham sua produção.
Outra empresa que tem encontrado formas de aproveitar resíduos e transformá-los em energia é a Marca Ambiental. No aterro sanitário em Cariacica, a decomposição orgânica dos resíduos formam uma eletricidade limpa e renovável por meio do biogás. São cerca de 1.500 toneladas de resíduos recebidos por dia e aterrados.
Por meio da AB Energias Renováveis, um consórcio recém-formado pelas empresas do conglomerado localizadas no Espírito Santo e em Minas Gerais, o grupo capixaba Águia Branca está instalando uma usina de geração de energia solar em Pinheiros, no Norte capixaba. Serão 2,6 megawatt/pico em potência (MWp). As obras já estão em andamento.
Em Linhares, a usina solar da Brametal conta com 3.780 módulos fotovoltaicos, distribuídos em uma área de cerca de 40 mil metros quadrados, aproximadamente o tamanho de seis campos de futebol. Trata-se de um dos maiores empreendimentos do gênero no Espírito Santo.
A planta gera 2.489 MWh por ano, o suficiente para abastecer mais de mil residências por mês. A energia gerada atende a algo em torno de 30% da demanda de energia da empresa, permitindo uma economia anual de cerca de R$ 360 mil.
No final do mês de novembro, a companhia inaugurou ainda a ampliação de sua área fabril no complexo de Linhares, onde investiu cerca de R$ 7 milhões em uma linha de produção dedicada a produtos para atender o mercado de geração de energia solar fotovoltaica.
A energia, aliás, é um dos principais custos das indústrias, e, com o encarecimento da eletricidade e do gás natural, a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) estuda uma parceria com a EDP para fazer plantas de geração de energia solar voltada a atender a demanda industrial.
“A gente já está conversando com a EDP, que tem expertise nisso e mostrou interesse. A Findes fará um levantamento da demanda junto a indústrias. Tendo demanda confirmada, seria possível a EDP construir e disponibilizar em 18 meses uma planta de 50 Giga Watt. Isso ajudaria muito o setor nesse momento de transição energética, mas também para não ficarmos tão reféns das oscilações de preço da energia elétrica, de eventos climáticos hidrológicos, e também o preço do gás”, esclareceu a presidente da Findes, Cristhine Samorini, durante entrevista coletiva para lançamento do Indicador de Atividade Econômica (IAE) do Espírito Santo, em dezembro.
Mas não são apenas as indústrias que têm investido em formas alternativas de eletricidade. Também no ramo da energia solar, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) inaugurou, em março do ano passado, um parque de minigeração distribuída de energia fotovoltaica, que abastece os campi de Goiabeiras (3.492 kW) e Maruípe (372 kW).
A usina de Goiabeiras, especificamente, está em processo de expansão (finalização da segunda etapa), e sua capacidade deve alcançar 4.200 kW após a conclusão. Além disso, está sendo elaborado um projeto para instalação de uma usina em São Mateus, com capacidade de 460 kW.
“Após a conclusão da segunda etapa da usina de Goiabeiras, em 2022, a expectativa é de que haja uma economia equivalente a 20% do custo da energia de toda a universidade (incluindo todos os campi)”, informou a Ufes em nota.
Há casos até mesmo de igrejas investindo na área, como a Igreja Cristã Maranata (ICM), que já conta com centenas templos e Maanains no Espírito Santo abastecidos com energia elétrica gerada a partir de créditos obtidos com a captação da energia do sol.
Também há padarias movendo-se neste sentido. Com investimentos da ordem de R$ 5 milhões, a rede Monza está montando uma usina fotovoltaica, em Linhares, para atender sete das suas 10 lojas localizadas na Grande Vitória. A expectativa é que a operação da usina aconteça no primeiro semestre de 2022, segundo informações da Findes. O Sindipães, que representa a categoria, também implantou painéis fotovoltaicos em sua sede, a fim de incentivar as associadas a seguirem pelo mesmo caminho.
Já o Sicoob ES também utiliza a energia fotovoltaica produzida pela própria cooperativa para abastecer 108 agências. Essa produção, que já era realizada no complexo e Ibiraçu, inaugurado em 2019, foi ampliada com a inauguração de uma usina de geração de energia fotovoltaica em Conceição da Barra, no Norte do Estado, no último dia 20, e permitirá reduzir ainda mais o gasto com a conta de luz, neutralizando as emissões de CO2 e contribuindo para a preservação do meio ambiente.
“Nós investimos em projetos sustentáveis porque temos a consciência de que é preciso fazer a diferença para construir um futuro melhor. Essa iniciativa proporciona a transformação, o engajamento com a sustentabilidade e a inovação aliada às tendências atuais”, enfatiza Arno Kerckhoff, vice-presidente do Sicoob ES.
A economia na nas agências pode chegar a 80%, o que representa cerca de R$ 85 mil por mês. Desde o início do uso da energia fotovoltaica pelas cooperativas, há dois anos, a média de consumo de energia teve uma redução de 17,9%.
A mudança passa ainda pelo setor público. O governo do Estado está investindo R$ 16 milhões na instalação de placas fotovoltaicas em escolas da rede estadual para geração de energia limpa. Em 2021, foram cerca de 70 unidades de ensino atendidas, com expectativa de ampliação nos anos seguintes.
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